EDIÇÃO 55 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Vou ou não vou?

A lógica por trás da seleção de mãos


Diógenes Malaquias

Uma das dúvidas mais comuns entre os jogadores de poker diz respeito à seleção de mãos pré-flop. “Vale a pena jogar com estas cartas nesta posição?” e “como devo jogar quando receber tal mão?” são algumas das perguntas mais frequentes que os leitores me fazem. Chegou a hora de entender as razões por que se deve ou não jogar com determinada mão, e qual a melhor maneira de se fazer isso.

Para acabar com essa dúvida de uma vez por todas, a primeira coisa que se deve ter em mente é que existem apenas três ações possíveis quando você resolver jogar com determinada mão: call, raise ou reraise. Entenda o raciocínio por trás de cada uma delas:

CALL
Na hora de decidir pagar uma aposta, a posição é o aspecto mais importante. Quando você estiver no small blind, deve dar call a conta-gotas, aqui e ali e olhe lá. Jogar fora de posição depois do flop é uma desvantagem complicada de se reverter.

É importante também observar quantos jogadores faltam falar. Quanto menor o número, maior a sua gama para dar call. Traduzindo, quando alguém der raise, o jogador no button é quem deve pagar com maior frequência, seguido pelos blinds. Por outro lado, o jogador imediatamente à esquerda de quem aumentou deve entrar menos vezes na mão.

A matemática para a decisão de dar ou não call é relativamente simples. Softwares como o PokerStove, FlopZilla e Equillator podem te mostrar com que cartas você deve pagar um aumento de determinada posição.

Por exemplo, a porcentagem de vezes que você dá call contra um raise do UTG deve ser de aproximadamente 45%, somando todas as posições da mesa.



RAISE
Para disparar um caminhão de fichas e mostrar quem é que manda na mesa, é preciso escolher cartas que acertam todo tipo de flop. Se só aumentarmos com cartas altas, será moleza para os adversários nos enfrentarem. Ficaremos previsíveis.

Em sua gama de aumento pré-flop, você precisa incluir mãos como 8-7 do mesmo naipe. Se não for assim, você vai sofrer nas mesas. “Se eu quiser me dar bem no poker, preciso soltar um pouco mais meu jogo e dar mais raises”. Jamais se esqueça disso. Tatue no braço, se for preciso.

Priorize mãos que possam lhe render potes grandes. Algo como JT, por exemplo, que completa flushes e sequências, vale muito mais do que A9. É verdade que estas últimas conseguem pares altos, mas não são jogos suficientes bons para um all-in de 100 big blinds.

Em contrapartida, cartas sequenciais do mesmo naipe, ou “suited connectors”, como JT, acertarão draws muitos fortes. E quando isso acontecer, você vai lamber os beiços querendo colocar todas as fichas no pano.

E novamente: posição! Não é à toa que ouvimos falar disso o tempo todo no poker. Quanto menos adversários você estiver encarando, maior a gama de mãos para aumentar a aposta.

Vamos supor que sua mesa tenha seis pessoas e os caras sejam muito bons. Nesse caso, tente dar raise uma a cada sete mãos quando estiver no UTG. Mas se você for o button, suba esse número para três a cada cinco vezes. Por quê? Porque você terá vantagem de posição e enfrentará menos adversários depois do flop.

RERAISE
Existem três gamas básicas de mãos para o reraise antes do flop. A primeira deve ser usada contra oponentes que sempre dão call em seu reaumento. Esse é o adversário mais fácil, definitivamente. Você verá muitos calls com mãos piores e dominadas. Contra ele, utilize sempre as melhores cartas do baralho.

Aqui, não é preciso se preocupar tanto em balancear a gama, pois esse oponente desavisado não presta tanta atenção aos detalhes.

A segunda gama entrará em campo contra caras que nunca pagam o reraise, sujeitos que polarizam suas ações entre fold ou re-reraise, a velha 4-bet. Essa situação é típica de quando o oponente está fora de posição.

Aqui, cai bem um reraise pelo valor com mãos fortes (AA, KK, AK, QQ e JJ). Ou então um raise blefando com um ás na mão, que funcionará como bloqueador. Com o número de combinações de AA e AK reduzido, o oponente terá menos resistência contra você.



Por último, contra adversários fortes, é necessário balancear a gama de reaumento. Uma proporção interessante é dar reraises pelo valor 40% das vezes, e 60% como blefe ou semiblefe.

Com isso, eles terão dificuldade de explorar sua gama. Quando houver resistência, e o oponente forte voltar um re-reraise, você precisará se defender 40% das vezes para impedir que a jogada dele seja lucrativa.

Agora que você já entende a lógica por trás da seleção de mãos, tente aplicá-la ao seu jogo. Não é preciso ser profissional de poker para jogar bem, basta bom senso e alguma dedicação. Isso já será o bastante para você virar o “shark” da galera.

EM QUE SITUAÇÃO A GAMA DE MÃOS COSTUMA SER MAIS AMPLA?

No poker, a situação em que as gamas são mais amplas é durante a chamada “guerra de blinds”, quando há o confronto entre small blind e big blind.

Isso acontece, primeiramente, porque o small aumenta com uma gama bem ampla, levando em conta que há apenas um adversário a falar. Em um cenário ideal, ele só daria menos raises do que o button.

Depois, porque o big blind também usa uma gama de mãos bastante grande para defender. Além de a briga ser apenas entre ele o small, o big blind sempre terá posição pós-flop. E como ele foi forçado a colocar uma aposta obrigatória, terá odds mais favoráveis para o ver o flop.





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