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Phil Hellmuth - O jogador que adoramos odiar

Polêmico, explosivo e mal humorado. Goste você ou não, Phil Hellmuth ainda é o recordista de braceletes da World Series of Poker. Autor de falinhas antológicas – “se não envolvesse sorte eu venceria sempre” – e de pataquadas homéricas, como a vez em que foi disputar um torneio vestido de imperador romano, é inegável que Phil Hellmuth tem seu nome escrito de maneira indelével na história do poker.


Julio Rodriguez
Apesar das atitudes exageradas, às vezes mal educadas, não há como ignorar o quarto jogador que mais ganhou dinheiro no poker e que já ostentou o título de mais jovem vencedor o Main Event, em 1989. De lá para cá, foram outros 10 braceletes na World Series, todos em hold’em, e 45 mesas finais.

A nova geração do poker insiste em pregar sua decadência, mas o fato é que ele conseguiu três segundos lugares na WSOP desse ano e por pouco não saiu com o título de melhor jogador da Série em 2011. Curiosamente, esses vice-campeonatos foram em alguns dos principais torneios de mixed games: o deuce-to-seven lowball championship e o seven-card stud eight-or-better championship, cada um com buy-in de dez mil dólares, e o prestigiado Players Championship, de 50 mil dólares.

Hellmuth estava prestes a fechar um acordo milionário com um dos maiores sites de poker quando a Black Friday aconteceu. Agora, ele está com o passe livre e parece que pretende voltar às raízes, reafirmando sua condição jogador top do circuito de torneios, e não apenas mais um produto da mídia.

Phil Hellmuth é assim: adorado ou odiado, jamais ignorado. Conversamos com ele, que falou sobre alegrias e frustrações da carreira, e ainda arriscou previsões para o poker online. O resultado você confere agora.

Julio Rodriguez: Em termos de premiação, essa foi sua melhor WSOP. Como você analisa seu desempenho?
Phil Hellmuth: Considerando que já ganhei mais de US$12 milhões, é incrível que eu nunca tenha tido um prêmio de sete dígitos na carreira. De fato, até esta World Series, minha maior premiação tinha sido a do Main Event 1989. Acho que essa é a verdadeira prova da minha consistência ao longo dos anos. Há jogadores que estão no Top 10 de mais dinheiro ganho na carreira cujos números vêm principalmente de um ou dois torneios, mas eu estou nessa lista mesmo sem muitos prêmios milionários.

JR: Você ficou in the money cinco vezes e ganhou mais de um milhão e meio de dólares nesta WSOP. Seus três segundos lugares foram em mixed games, modalidade em que as pessoas costumam lhe criticar pela falta de experiência e de resultados. A que você atribui essa guinada?
PH: Na verdade, eu costumava jogar mixed games profissionalmente nos anos 90 e enfrentava os melhores jogadores do mundo. Em algum momento, perdi a vontade de jogar essas modalidades, principalmente cash games. Praticamente parei de viajar e tentei passar mais tempo com a minha família. Foi quando comecei a me concentrar em torneios de hold’em. Fiquei conhecido pelo hold’em, mas as pessoas precisam entender que eu tenho um histórico sólido também em mixed games.
Minha reputação como especialista de hold’em nunca foi muito justa. Sim, eu me dei bem nesses torneios, principalmente na WSOP, mas também fiz várias mesas finais de mixed games. Todo mundo passa por fases em que nada dá certo, e todos morrem na praia de vez em quando. Foi isso o que aconteceu comigo nas outras modalidades.
A questão é que recebo mais críticas do que qualquer outro jogador. Parece que não é suficiente ser recordista de braceletes e ter ganhado mais de 12 milhões de dólares na carreira. As pessoas insistem em dizer que só ganhei eventos de hold’em, apesar de ter batido na trave muitas em mixed games. Doyle Brunson uma vez falou que as pessoas deveriam parar de pegar no meu pé. Quer dizer, se Doyle percebeu isso, por que os outros não percebem?

JR: Você tem sido um alvo fácil para críticas. Você acha que elas são injustas?
PH: Quase todas as mãos que eu jogo passam na TV. Pouco depois de eu ter jogado mal uma mão ou ter feito uma leitura errada, todo o mundo já está sabendo, e é só nisso que meus críticos se concentram. Não sou perfeito, mas ninguém cai matando em cima dos outros. Eu não sou bom para calar a boca de quem adora me odiar. A comunidade do poker tem uma atitude do tipo “o que você tem feito por mim ultimamente?”, então eu sei que embora esteja no topo agora, eles encontrarão um motivo para duvidar de mim em breve.

JR: Você está sem patrocínio online. O que você acha que o futuro guarda para o poker online nos Estados Unidos?
PH: No momento, meu “passe” está à venda, então posso negociar com calma, para quando o poker online for regulamentado nos Estados Unidos. A Black Friday foi um obstáculo no início, mas pode ser boa para mim no longo prazo.
Quanto ao poker online, há coisas acontecendo nesse instante que as pessoas não estão vendo. Acredito que não falta muito para que seja regulamentado. Acho até que será em âmbito federal. E eu não ficaria surpreso se acontecesse antes de dezembro. Se eu fosse mais corajoso, apostaria nisso, mas sempre há empecilhos imprevisíveis a se ultrapassar. Se você der uma olhada no que ocorreu na França e na Itália, terá uma boa ideia do que pode acontecer nos EUA e em outros lugares do mundo. França e Itália legalizaram o poker online, e tudo explodiu da noite para o dia, o número de jogadores agora é dez vezes maior. Não tenho dúvidas de que a mesma coisa aconteceria aqui. Se minha previsão se tornar realidade, poderemos ter um Main Event com 25 mil jogadores.

JR: A Black Friday obviamente teve um efeito negativo sobre várias pessoas próximas a você. Como você se sente diante da situação de sites como Full Tilt, DoylesRoom, e Ultimate Bet?
PH: Não é agradável. Sei o que eles estão passando. Meu nome foi jogado na lama quando começou o escândalo do UB, e eu me lembro dessa sensação de desamparo. Como representante de um site, você tem que andar na corda-bamba de promover e defender seu produto, mas também é preciso ter certeza de que essa é uma empresa a qual vale a pena atrelar o seu nome. Infelizmente, há coisas que estão fora do seu controle, mas é tudo parte do negócio. Você é a imagem da sua companhia, e qualquer negatividade que aparecer irá inevitavelmente cair sobre você. Não vou afirmar que os representantes dos sites não têm culpa no cartório, mas tem gente sendo acusada por decisões com as quais não tiveram nada a ver.



Hellmuth Bate na Trave World Series of Poker
Phil Hellmuth tem um histórico de 11 vitórias na WSOP, mas ficou surpreso ao descobrir que já ficou em segundo lugar nove vezes, fora três terceiros lugares.

Se o baralho tivesse ajudado, ele poderia ter aumentado a distância para Doyle Brunson e Johnny Chan, que têm 10 braceletes cada.

Certamente, a WSOP tem sido a maior fonte de renda de Hellmuth, responsável por quase dois-terços de seus ganhos na carreira. No total, o “Poker Brat” tem 84 ITMs na série, com 45 em mesas finais. Confira as vezes em que Phil Hellmuth bateu na trave:

Ano    Evento    Colocação    Prêmio

1992    US$2.500 limit hold’em    2°    US$84.000
1993    US$5.000 deuce-to-seven lowball    2°    US$72.500
1994    US$1.500 no-limit hold’em    2°    US$93.900
2001    US$5.000 Omaha eight-or-better    2°    US$103.785
2001    US$10.000 no-limit hold’em main event    5°    US$303.705
2002    US$2.500 heads-up no-limit hold’em    2°    US$17.000
2003    US$1.500 limit Omaha    3°    US$15.800
2006    US$5.000 no-limit hold’em    2°    US$423.893
2006    US$1.500 no-limit hold’em    3°    US$53.945
2008    US$1.500 H.O.R.S.E.    3°    US$93.168
2011    US$10.000 deuce-to-seven lowball    2°    US$226.909
2011    US$10.000 seven-card stud eight-or-better    2°    US$273.233
2011    US$50.000 Players Championship    2°    US$1.063.034





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