EDIÇÃO 51 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Vigiar e Punir

Como jogar pós-flop em mesas com muitos limpers


Matt Lessinger
Quando você vir muitos calls pré-flop e quase nenhum check-raise, agradeça aos céus, porque indica que sua mesa está cheia de jogadores loose-passive.

Antes do flop, a melhor forma de tirar proveito desse festival de limps é disparando raises maiores do que o padrão, de preferência quando tiver posição. A ideia é descobrir quão dispostos eles estão a pagar esses raises com mãos especulativas. “Com uma frequência muito maior do que deveriam” é a resposta que normalmente encontramos.

Vamos supor que você esteja em uma mesa de no-limit hold’em com blinds de $1-$2. Dois oponentes loose-passive entram de limp, você tem posição e dispara $20, ambos pagam. Só pela ação pré-flop, essa já é uma jogada lucrativa. Mas, e daqui por diante, como devemos agir? Vamos examinar a melhor forma de jogar essa mão pós-flop.

Algumas vezes você vai receber um par alto ou acertar uma mão forte no flop. Nesses casos, é quase certo que você puxará o pote, independentemente de como jogue. Portanto, não nos preocuparemos com essas situações por enquanto. Em vez disso, vamos presumir que você recebeu uma mão marginal e o flop não foi tão sensacional para você. Trocando em miúdos, embora possa ter a melhor mão, você ficaria feliz em levar as fichas sem disputa.

Se um dos loose-passive contra-atacar você, a possibilidade de que seja um blefe puro é praticamente zero. Jogadores assim simplesmente não blefam contra quem dá raise pré-flop. A única pergunta que você deve fazer é se ele pode estar apostando com um draw ou algo com um par fraco. Se a resposta for sim, então você pode ter a melhor mão – ou então dar call sem nada pode ter algum valor.

No entanto, a única razão para tirar essa conclusão é que você já viu este oponente apostar algumas vezes com mãos marginais. Se for este o caso, é provável que haja algum valor em dar call no flop. A menos que melhore no turn, um jogador loose-passive irá desistir depois dessa street, ou tomará a iniciativa de forma fraca com uma segunda aposta, frequentemente de tamanho parecido com a aposta do flop. Como jogador forte e agressivo, você deve ser capaz de pressentir a fraqueza dele e levar o pote no turn ou no river. Você não terá sucesso sempre, mas sua agressividade deve funcionar com frequência suficiente para que o call no flop seja uma jogada lucrativa.

Por outro lado, se as apostas do loose-passive no flop geralmente forem legítimas, é melhor simplesmente dar fold e esperar pela próxima mão. Muitas vezes, tentar forçá-lo a largar é jogar dinheiro fora. Alguns acham que é grande um sinal de fraqueza dar raise de $20 pré-flop e depois dar fold diante de uma aposta no flop, mas isso é somente o ego falando. Apenas agradeça porque, enquanto loose-passive, ele lhe deu uma dica sobre a força da mão dele antes que você tivesse investido ainda mais fichas. Um jogador mais traiçoeiro teria permitido que você fizesse uma continuation-bet, e então daria check-raise.

Não se deve enfrentar uma aposta de um loose-passive com muita frequência. Eles geralmente darão check antes de você no flop, ponto no qual você deve sair apostando. Mas não se permita exagerar. Vale a pena evitar o erro comum de apostar demais no flop contra esse tipo de oponente.

Antes do flop, nosso objetivo era testar os limites superiores dos loose-passive. Qual o maior raise que eles estariam dispostos a pagar? Pós-flop, queremos testar seus limites inferiores. E se eles não acertaram o flop, o que acontecerá na maioria das vezes? Quão pequena pode ser nossa aposta para que eles deem fold? Jogadores assim geralmente não prestam atenção nas pot odds, no tamanho das apostas, nem em colocar seus oponentes em uma gama de mãos. Em vez disso, eles só querem saber se acertaram ou não o flop.

Digamos que recebam algo como Q 9 e o flop venha 7 4 2. Se você apostar $20 em um pote de $60, o instinto inicial deles não é pensar: “Tenho 4-para-1 no call e duas overcards, e ele pode estar apostando sem nada”. Eles também não atentam para o fato de que acertar uma dama ou um nove pode lhes dar a melhor mão. E também não percebem que, mesmo que não acertem, você pode dar check no turn, e talvez fold no river diante de um blefe.

Confie em mim, esse não é o raciocínio de um jogador loose-passive típico. Na verdade, pela cabeça dele deve estar passando algo como “Droga, não acertei nada nesse flop. Eu é que não vou gastar mais $20 nessa mão”.

Ao contrário, se ele acertar algo forte o suficiente, dará call. Simples assim. Na maioria dos casos, o tamanho da sua aposta não influenciará a decisão dele. Além do mais, levando em conta que são passivos, raramente darão check-raise. Juntando tudo isso, por que fazer uma aposta do tamanho do pote quando uma de 1/3 terá os mesmos resultados?

No começo do artigo, eu disse que tamanho do nosso raise pré-flop às vezes deveria ser maior do que o padrão, desafiando o senso comum. Nenhum livro lhe dirá para dar raise de 10 vezes o big blind depois de dois limps, pois constantemente você só conseguirá ação de mãos que lhe derrotam. Porém, em se tratando de um festival de limps em uma mesa barata de no-limit hold´em, essa lógica quase nunca se aplica. Alguns jogadores simplesmente pagarão raises altos com mãos bastante especulativas.
No entanto, alguns deles jogarão no estilo “acertar ou largar” no flop, caso em que não será difícil tirá-los da mão. Apostar $20 em um pote de $60, torcendo para fazer os oponentes darem fold, pode parecer um desafio ainda maior ao senso comum do que o raise pré-flop. Contra os oponentes certos, porém, é claramente a jogada correta.

Quer você aposte $20 ou $60, eles darão fold com as mãos que não acertaram, e pagarão com as que se conectaram. Portanto, não há por que apostar mais do que o necessário. A ideia é encontrar o tamanho mínimo da aposta que lhe dará a informação de que você precisa sobre a mão deles.
Mas atenção: nem todos os jogadores loose-passive são iguais. Muitos deles têm padrões de calls diferentes e reagirão de forma distinta às suas apostas e raises. No próximo mês, vamos nos aprofundar nesse assunto, e discutir o que fazer quando a mão chegar ao turn e ao river.

Matt Lessinger is the author of The Book of Bluffs: How to Bluff and Win at Poker, available everywhere. You can find Matt’s other articles at www.CardPlayer.com.




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