Olá galera! Esse mês eu convidei um amigo para falar um pouco sobre multi-table. Fiz isso porque acho que ele seja, atualmente, um dos melhores jogadores brasileiros nesse tipo de torneio. Estou falando do Thiago “The Decano” (que, inclusive, teve uma entrevista publicada na edição n. 4 da Card Player Brasil). Mas antes de passar a bola para esse craque do nosso esporte, vou falar um pouco sobre o poker goiano.
A principal novidade é a reforma da sede da Federação Goiana, que está ficando show: bem maior e com um novo sistema de ar condicionado – parabéns ao Júlio e ao Bira.
Vários jogadores de Goiânia foram para São Paulo participar de um dos maiores torneios live do país, o Brasil Poker Fest. O destaque novamente foi meu “aluno”, Bira Lopes, que ficou em 20º lugar entre 200 jogadores iniciais, entrando assim na zona de premiação. Destaque também para outro “aluno”, Murilo Dantas, que mandou muito bem.
O circuito goiano já está na fase decisiva: faltam apenas duas etapas para se definir o campeão de 2007. Minha aposta é que essa vaga já está reservada para o jogador Chocolate, que desde a primeira etapa está em 1º lugar. Vamos ver se não amarela agora, né, Chocolate? Detalhe: estou na briga também!
Fico por aqui, pessoal, até a próxima. Vai nessa, Thiago.
Olá, galera! Agradeço ao Fullmagai pelo convite e fico honrado por participar de sua coluna nesta edição. A idéia inicial deste mês é abordar a estratégia que utilizamos para jogar MTTs. Com quais mãos jogar nos primeiros níveis de blind, envolver-se ou não em potes grandes no início, saber a partir de qual momento o roubo de blinds se torna mais interessante do que entrar de limp para ver flop, quanto apostar com mãos “premium” nos diferentes estágios do torneio, entre outras questões.
Porém, logo de cara me deparei com um problema: não jogo sempre da mesma forma. São tantas as variáveis que julgo fundamentais para se fazer uma simples aposta, que ficaria impossível uma análise dessa forma. Posição na mesa, como costumam agir os jogadores que falarão depois de mim, contra quantos quero jogar a mão (em geral, com cartas do “Grupo 1”, contra um ou dois no máximo; e contra vários adversários se estiver com suited connectors ou pares pequenos, por exemplo), quais “notes” tenho de cada um, se eu quero ação ou apenas os blinds, qual a minha imagem na mesa, além de sempre tentar variar meu jogo, evitando ser previsível e por aí vai. Há mais uma dezena de fatores que devem passar pela sua mente em poucos segundos e que fazem você jogar uma mesma mão de formas diferentes. Como cada uma dessas variáveis podem ser títulos de um livro inteiro, prefiro abordar o que eu considero o principal desafio do poker e que determina quão bom um jogador é: a capacidade de “ler” seus adversários.
Annette Obrestad venceu recentemente um evento de 180 jogadores sem ver as cartas. Analisei boa parte de seu torneio e realmente foi uma verdadeira aula de poker! Show de leitura! Mas como fazer para ter uma leitura tão apurada? Tal qualidade é o sucesso do Poker.
O segredo está em perceber que o Poker é algo muito mais complexo e fascinante do que pensamos. Todos os dias eu vejo jogadores blefando por blefar, ao invés de fazê-lo por ter a leitura exata de que seu adversário não irá lhe pagar, mesmo com a melhor mão. Também me deparo com muitas jogadas em que o blefe era obrigatório e não foi realizado. Isso mesmo! Para evoluir seu jogo, você deve considerar que agiu de maneira errada sempre que deveria ter blefado e não o fez. Ainda, várias vezes, algum amigo me conta como foi tal mão: “Ah, UTG+2 subiu 3 blinds e eu dei AK pra ele, e não par alto”. Ué, você virou bruxo agora? Se ele tivesse QQ na mão não apostaria o mesmo valor? É por essas e outras que os torneios deep stack são muito mais técnicos. Explico: geralmente, para se conseguir uma leitura mais precisa da mão adversária, você terá de utilizar fichas, apostar, dar reraises ou mesmo calls sem nada, para poder comprar o pote posteriormente, sabendo que seu adversário não chamará seu blefe. Já ouviram o ditado: “Uma mentira bem contada se transforma em verdade”? Pois é, toda mão tem sua história!
Outro aspecto fundamental para auxiliar a leitura é não ser preguiçoso! Faça notes! Lembre-se da frase: “Se em meia hora de jogo você não identificar o pato da mesa é porque o pato é você”. Vou um pouco mais longe: identifique quem é loose ou tight, agressivo ou passivo, “pagador” (calling station), quem gosta de fazer “c-bet”, check-raise com draw ou blefando, ver flop barato, se empurra overbets ou “compra” carta dobrada no flop, se aposta pouco em relação ao pote para colher informação etc. Pesquise os resultados obtidos por eles e o respectivo retorno sobre investimento. Acredite, você enfrentará este adversário muitas e muitas vezes em sua vida.
O inverso também ocorre: os bons jogadores também anotarão suas jogadas. Será preciso surpreendê-los fazendo o oposto do que eles esperam. Ainda, não deixe seu oponente gostar do jogo. Ele prefere ver flop barato? Aumente! A todo o momento rouba blinds somente com posição, principalmente cut-off e button? Defenda-se com calls e reraises! Ele é tight? Roube seus blinds! Parece óbvio, mas percebo que muitas pessoas tendem a jogar apenas suas cartas, e de maneira automática e previsível.
Por fim, não dependa apenas de suas cartas! Você deve ganhar fichas não somente com o erro do adversário, mas também com outros recursos. Maximize seus ganhos nas mãos fortes, faça seu oponente pagar de forma errada. Aprimore sua leitura para blefar, pagar quando tiver a melhor mão, “foldar” uma mão aparentemente forte (porém perdedora), identificar a melhor jogada na tênue linha que separa o dilema “controle de pote” vs. “oferecer uma free card”, observar a textura do flop e o valor da aposta adversária em relação ao pote, e por aí vai. Se você dominar essas e mais algumas outras habilidades fundamentais, tenho certeza de que estará no caminho certo para se tornar um campeão desse esporte que tanto nos fascina!