EDIÇÃO 5 » COLUNA NACIONAL

Texas Hold´em é Esporte


Igor Federal

Em todos os formatos de mídia o poker vem recebendo tratamento de esporte.
O primeiro passo foi a entrada dos torneios de poker nos canais esportivos da TV. Na carona desse episódio, uma série de  fatos vem se acumulando no sentido de fortalecer o poker como uma atividade social, intelectual, estratégica, de competição e, por conseqüência, esportiva.

Entretanto, as ressalvas vêm acontecendo e diversos artigos e colunas são escritos contestando a qualificação de poker como esporte.

Nos Estados Unidos, os maiores argumentos para a tese de que poker não seja um esporte são:

1 – O jogo é muito fácil!
Chris Moneymaker ganhou um grande torneio tendo jogado poker pela Internet apenas por três anos. “Você consegue imaginar alguém com três anos de experiência jogando na NBA e se tornando campeão”?

2 – O jogo é monótono!
Os jogadores de poker passam horas sentados em suas cadeiras, sem nenhum tipo de movimento “esportivo”.

3 – É ruim para as crianças!
“Isto é o que queremos para as nossas crianças”? Crianças que hoje estão acostumadas a ir para as ruas brincar, ficariam dentro de suas casas jogando Texas Hold´em.

4 – Existem jogadores de poker, como o Greg Raymer, que são obesos. “Seriam eles, atletas?”

Esses são argumentos com os quais eu, com todo o respeito, discordo.
Vamos tentar colocar nossas idéias sem menosprezar as partes contrárias, mas também sem dar razão a colocações infundadas, para então começarmos uma discussão séria.

1 – O primeiro argumento – de que o aprendizado inicial do poker é simples – colocado nesses termos, é infundado. Nesse aspecto o poker não difere de nenhum outro esporte, vez que todas as regras são, em geral, bastante simples.
Ser campeão com apenas três anos de prática foi uma exceção. Os campeões mundiais, jogadores de mesas finais e detentores de braceletes do WSOP quase sempre se repetem. Mas exceções acontecem.
Todd Hamilton ganhou o British Open de Golfe. Você já ouviu falar desse cara? Ele venceu um das mais concorridas competições do mundo do golfe, aos 38 anos, na sua primeira participação em um torneio, tendo aprendido o esporte naquele ano.
Há duas temporadas atrás, o melhor jogador da NFL foi Antonio Gates – um completo novato, que nunca tinha jogado futebol americano no colégio, mas aprendeu rápido.
Será que realmente o nível de experiência do jogador define a real natureza de um esporte?

Esse argumento é muito fraco. Em alguns casos, três anos podem ser suficientes para se fazer um campeão. Isso não é regra. Os demais campeões mundiais de poker não tinham apenas três anos de prática, mas um caso excepcional é perfeitamente cabível.

2 – O jogo é monótono!
No automobilismo, os pilotos ficam horas sentados, guiando. Alguém pode dizer: “Você tem que admitir que ficar horas dentro de um carro é chato e maçante, hein?” ou “Ficar assistindo os carros darem 200 voltas em torno de um oval é a coisa mais chata do mundo”. Isso depende da sua preferência. Eu adoro.
Discutir o que é “maçante” não qualifica ou desqualifica algo como esporte.
E no baseball? Passar 90% do tempo de jogo de pé, parado, sem fazer nada, é demais... maçante demais. É o caso dos catchers (pegadores de bola).
E no futebol? 22 marmanjos correndo atrás de uma bola. Entediante? Ridículo? Ou emocionante? Empolgante?
O fato é que, se você ama o poker, vai encontrar algo dramático, emocionante e inspirador em todas as mãos que assistir. E vai achar patético 22 jogadores correrem atrás de uma bola de futebol para simplesmente colocarem-na dentro de um retângulo com uma rede. É questão de gosto, paixão e preferência.

3 – É ruim paras as crianças!
Em qual outro esporte seu filho irá trabalhar mais o aspecto matemático, analítico e estratégico (além do raciocínio lógico e do preparo psicoemocional) do que no poker, no xadrez ou no gamão. Sem comentários.

4 – A obesidade é o argumento mais deplorável.
Quantos wrestlers ou mesmo lutadores de sumo, por exemplo, não são gigantescos?
Por outro lado, em qual esporte você vai encontrar alguém mais bem preparado fisicamente do que o Patrick Antonius. Isso vai da consciência e do plano de vida de cada um – o esporte não obriga você a nada. O futebol deixa de ser esporte porque alguns “peladeiros” estão acima do peso?
O sucesso no meio esportivo exige sacrifícios, e cabe a você atendê-los ou ignorá-los. As questões físicas variam de modalidade para modalidade, e as Olimpíadas estão aí para reforçar essa idéia.

Existem diversas teorias sobre os esportes. Algumas delas dizem que skate e ginástica não são esportes, mas exibições. Por que não seriam? Por que não têm gol ou cestas?
O problema da discussão acerca da esportividade ou não do poker está aí. Mas a parte que nega geralmente faz uso de uma dose exagerada de preconceito aliado a uma perigosa preguiça mental. Parecem não levar o assunto a sério. Eles enchem os olhos da sociedade com conceitos falsos, demagogias e inverdades: isso é o que a comunidade do poker tem que combater.
O tempo da repressão, da ditadura, já passou! Agora vivemos democraticamente, abertos a debates. E a inteligência tem que ser o fruto de todas as decisões em uma sociedade.

Se xadrez, baseball, sinuca são esportes, o poker também é ESPORTE.

Igor “Federal” Trafane




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