Tem certos eventos que nos fazem parar e prestar atenção: cometa Halley, final de Copa do Mundo, liquidação depois do Natal, e o maior torneio de poker ao vivo que o Brasil já teve, que aconteceu em São Paulo, no bairro de São Bernardo do Campo, entre os dias 23 e 25 de novembro de 2007. Mais de 300 jogadores do Brasil se reuniram para confraternizar e disputar o torneio que o Omega Texas Club realizou em parceria com o PokerStars.Net Brasil. O sucesso não podia ter sido maior!
Um mês antes do evento, tudo já apontava para a grandeza que ele teria. Quando o PokerStars começou a realizar uma série de satélites online, mais de 3.800 pessoas tentaram ganhar a vaga, e 28 felizardos conseguiram garantir a tão cobiçada. Dessas vagas, quatro vieram de freerolls que o Stars ofereceu, dando a chance de quatro pessoas ganharem uma nota preta com o investimento de R$0.00!!!
Dia #1
No dia #1 do evento o Omega estava, como sempre, impecável. Sob o comando de Robinson Carneiro Quiroga, conhecido na comunidade de poker como “Robi Gol”, com todos os dealers, garçons e organizadores vestidos com o logo do PokerStars, consolidavam a parceria. O lobby da casa lotado de jogadores, muitos se conhecendo pessoalmente pela primeira vez, outros se reencontrando e querendo debater o “AQo que eu joguei ontem no Nightly Hundred contra AJ, bateu o J no flop, mas no river eu fiz seqüência” e apesar de a confraternização ser nota 10, parecia que, como de costume, o evento atrasaria. Mas que nada, pois a organização foi enfática com o horário do torneio (como deve ser) e às 22h em ponto as cartas foram distribuídas, e começou um final de semana de um evento ao vivo que prometia ser realmente fabuloso. 165 jogadores inscritos já no primeiro dia, entre eles muitos rostos e nomes conhecidos do poker brasileiro, como Marcos “XT”, Salim “Lico01”, Fabio “Deu_Zebra”, Igor Federal – sem contar com a família Akkari em peso, Paula e Adriano, esposa e irmão de André Akkari, jogador do time do PokerStars, que não jogaria no dia #1, mas estava lá acompanhando de perto o progresso da família.
A estrutura do torneio não podia ser melhor para o bom poker. Torneio deep stack, cada um começando com 12.000 fichas, blinds iniciando em 25-50, dobrando a cada 35 minutos e dando espaço para desenvolver o jogo, em vez de ter que partir para a loteria, que não é do que o poker se trata. Tanto que demorou para ouvirmos os primeiros aplausos de eliminação, que só vieram depois de 1 hora de torneio, com o Elton Czernysz, um dos organizadores, falando pelo microfone “fiquem calmos, ninguém mais pode ser o primeiro a ser eliminado, pois o primeiro acaba de cair!”. Suspiros de alívio, apesar de existir uma certa dignidade em ser o primeiro a cair, não acham? Afinal, só um consegue, e merece aplausos.
Jogo segue, Paula Akkari cai com KK vs AK, Adriano Akkari cai de Q high flush para K high flush. A família Akkari agora contava com a participação de André, que só começaria a atuar no dia #2 do evento. Igor Federal também não teve muita ajuda do baralho no primeiro dia, quando perdeu 2K fichas de AK pra KQ, depois mais 3K fichas de TT para JT, num flop onde bateu o J. Segundo ele: “não acreditei no valete do moço”, e a mão derradeira sendo um pote no nível 200-400, em que o SB apenas completou seu BB, ele de 9♦4♦ num flop K♦4♣7♦ deu check, o outro apostou e ele foi de all-in, tomou um insta-call de KT, seu flush não deu as caras, e GG Federal. É do jogo.
Cinthia Escobar, que vem fazendo seu nome presente nos torneios ao vivo no circuito brasileiro (chegou em seis mesas finais esse último ano), passou para o último dia com 36K depois de ter ficado com 8.500 fichas no nível 500-1000, dobrando com 77 vs AQ. Depois, 8♠9♠ num bordo 9-6-6 rainbow vs. KT, que ficou a ver navios em vez de ver um K ou T até o river.
O chip leader do dia #1 era Alaor, com 150K na mesa do Fabio Deu_Zebra, que descreveu o estilo do então líder como muito agressivo, sempre fazendo seus oponentes tomarem decisões por todas as fichas. Fabio descreve uma mão: “um cara apostava 1.500 num pote de 2.400, ele voltava all-in de 90K. Dá pra pagar?” É, fica difícil... E assim ele acumulou muitas fichas.
Às 7 da manhã encerrou-se o dia #1, com 36 pessoas passando para o dia final, que seria no domingo.
Dia #2
O dia #2 do evento também começou na hora marcada, 16h, com161 inscritos. Entre eles: Felipe Andrade “Pipo”, os irmãos Victor e Vinicius Marques, Hugo Adametes, Leandro “Brasa” Pimentel, Eric Mifune, Waltinho “The Terrific”, o piloto de Stock Car Gualter Salles, Filpac, João “Vovô_Leo” Monte, André Akkari, e muitas outras figurinhas já conhecidas do baralho do poker nacional. E além das emoções que o NL Hold´em já causa, teve um elemento a mais de surpresa nesse dia que aumentou o grau de ansiedade dos jogadores.
Lá pelas nove da noite, por volta do 6o nível de blinds, três carros da GARRA (Polícia Civil de São Paulo) estacionaram na frente do Omega Texas Club. Havia sido feita uma denúncia anônima de que lá existiam máquinas de caça-níquel, o que é altamente ilegal. A polícia entrou, parou o jogo, revistou o Omega de cabo a rabo, e claro, não encontrou nenhuma irregularidade, já que a casa tem alvará de Clube de Carteado e não proporciona nenhum tipo de atividade ilegal ou de jogo de azar. Um torneio de poker é 100% legal, e a casa tinha toda a papelada para provar isso. Depois de 1 hora de torneio pausado, a polícia agradeceu a colaboração de todos, pediu desculpas pelo transtorno e ainda desejou boa sorte aos jogadores pelo microfone, e o torneio seguiu como se nada fosse, porque realmente, nada tinha sido.
Duas histórias engraçadas de quando a polícia chegou: logo ao entrar e avisar que o torneio estava pausado, alguém lá do fundo da sala começa a gritar: “Dama, Dama, issoooo, olha a Damaaaaa!!!”. LOL! E a melhor de todas, no que mandaram parar o jogo, o piloto Gualter Salles, um dos brasileiros que figurara, ITM no Main Event do WSOP de 2007, passou um rádio para o amigo: “Cara, a polícia entrou aqui, mas estou com par de Ás no big blind e tem um cara dando raise e o outro dando reraise! Empurrei meu all-in mas eles querem puxar as fichas de volta e cancelar a mão. Não admito!” hehehe. No final, Gualter conseguiu levar o pote com seu AA antes de o jogo ser pausado, e quando a disputa recomeçou ele seguiu jogando feliz da vida com o belo pote que havia ganho!
Último dia
O último dia começou com 67 jogadores espalhados por 8 mesas, todas com dealer – sendo que uma era a mesa da TV que estava sendo filmada para um DVD do evento, que o Omega está fazendo em parceria com o PokerStars.
No que as pessoas foram caindo do torneio, os laptops foram se abrindo para os Sunday Majors do Stars que estavam rolando, enquanto o resto ficava na torcida assistindo os 9 finalistas correrem atrás do prêmio reservado ao primeiro lugar. A bolha do dinheiro levou duas rodadas inteiras de blinds, mas finalmente estourou, e os 36 jogadores que entraram na grana comemoraram o seu lucro.
O jogo seguiu por mais quatro horas até formar a mesa final, composta por:
1- Leo Perrone - 844K
2- Júnior Lima - 788K
3- Cinthia Escobar - 766K
4- Akkari - 748K
5- Quener Martins - 247K
6- Diego Molina - 181K
7- Fernando Reis - 130K
8- Diego Magalhães - 129K (classificado via satellite do Stars)
9- Walter Rosa - 78K
A mesa final foi bem difícil, tanto no nível técnico quanto emocional, com mais de quatro horas de duração. Logo na primeira mão, muita tensão e uma jogada de deixar todo mundo de cabelo em pé: o short stack empurra seu all-in de 78K, Akkari dá mini-raise para 150K, e o 2o chip leader, Júnior Lima, faz tudo 300K. Akkari pensa, pensa, pensa e solta mostrando seu KK, pois a jogada fedia a AA. O all-in mostra A9 e Júnior mostra JJ. No flop não bate nada e o par de valetes leva a mão. Tenso!
Quando chegaram em quatro jogadores, foi feito um acordo bastante favorável para todos, garantindo R$20,000.00 para cada um. Daí em diante, um acréscimo exponencial no valor da premiação, de acordo com a colocação de cada um.
1o: 20K+ 10K
2o: 20K+6K
3o: 20K+4.6K
4o: 20K+3K
O HU foi jogado entre Akkari e Leo Perrone, e, com uma grande vantagem em fichas, tudo indicava que o primeiro lugar ficaria com Akkari, mas quando ele pagou o all-in de Leo Perrone numa pedida de flush que não aconteceu, Leo conseguiu dobrar e tomar a liderança. Mas não seria tão fácil, e depois dessa mão o jogo ainda seguiu por mais de uma hora, até que Leo, sob o olhar do orgulhoso pai, Armando “Quaribravo”, figura conhecida e muito querida da comunidade do poker nacional, e seus dois irmãos, conseguiu faturar o primeiro lugar, o troféu e o cobiçado prêmio de R$30.000.00. Akkari, como sempre chegando e indo muito longe, ficou contente com seu 2o lugar, sabendo que faz parte do jogo, e que ele sempre joga feito um campeão.
Realmente foi um evento memorável, tenho certeza de que todos que participaram dirão o mesmo. No total foram mais de 300 baralhos usados, 200 quilos de comida, mais de 1000 coca-colas servidas, mais de 60 pessoas envolvidas na organização, e incontáveis risadas, abraços, gritos de “SEM SURPRESA”, e muita, mas muita torcida, como sempre, unindo um pessoal que não precisa de muito para se divertir – apenas 100K garantidos!