EDIÇÃO 5 » COLUNA INTERNACIONAL

Encurralado em uma Mão de Raise-Call-Fold

Decisões que fazem sentido na hora, mas…


Roy Cooke

Existe uma escola de pensamento no limit hold’em que diz que se você não pode aumentar pré-flop, não deve jogar a mão. É a velha teoria do “se não puder dar raise, dê fold...”

Esse é um conceito fundamentalmente falho. Com muitas mãos é interessante ter vários oponentes: se você consegue cartas fortes, quanto maior o número de adversários, mais alta a probabilidade de ação. Pares pequenos ou médios, bem como cartas naipadas, se saem melhor com várias pessoas pagando as apostas – é por isso que elas geralmente são chamadas de “mãos de volume”.

Eu estava na posição under the gun em uma partida de limit hold’em de $30-$60, com um par de setes. É uma mão com a qual, a depender da textura da partida, é possível pagar, desistir ou aumentar.

São cartas com a quais eu dou call no tipo de jogo em que geralmente preciso conseguir acertar uma trinca para ganhar, cujas odds são de mais de 7-para-1. Pagar provoca mais pagamentos, e, entrando de limp, eu induzo jogadores a fazer isso. Dessa forma, aumento minhas chances de conseguir ação ao acertar a trinca. Muitos oponentes provavelmente pagarão pós-flop com mãos que não venceriam uma trinca, o que eleva o preço implícito de minhas cartas. Ao deixar de aumentar, também mantenho o preço inicial o mais baixo que puder. Um baixo custo no começo da rodada aumenta a chance de conseguir implied odds positivas. Em resumo: geralmente, quando você precisa trincar para vencer, é melhor ter vários oponentes e um baixo custo inicial.

Eu daria fold com 7-7 em uma partida tight com jogadores duros e agressivos. Não acho que valha a pena entrar de limp ou aumentar e depois encarar várias apostas pré-flop, fora de posição, contra oponentes traiçoeiros. As chances de tomar um raise, de não conseguir volume com cartas boas, e o fato de minhas decisões passarem a ser muito mais difíceis, com uma maior margem de erros, geram implied odds menores para minha mão.

Eu aumentaria com um par de setes ou maior se a partida tivesse poucos participantes – e também faria isso em diversas outras situações, se estivesse entre os últimos a falar. Mesas com menos jogadores pedem um grau maior de agressividade, e ter poucos oponentes aumenta ao valor de pares médios. Eu também subiria a aposta se tivesse uma imagem intimidadora na mesa e meus oponentes fossem daqueles que tendem a cometer o erro de jogar muito tight, desistindo quando deveriam ter pagado. Ao dar raise, quero que meus oponentes desistam, antes do flop, de mãos que contenham duas overcards ou, o que é melhor, um par maior (o que é bem menos provável). Eu ficaria feliz em levar os blinds, mas teria posição privilegiada, mesmo que eles pagassem. Embora a textura do jogo ou da situação que justifique um aumento com essa mão seja rara, ela tem aplicação.

A partida em que eu segurava os setes era tight-passive, quase sem raises pré-flop e com poucos jogadores. Como em muitas outras situações no poker, aquela não se enquadrava na categoria das decisões óbvias: em vez disso, conceitos precisavam ser misturados para que se chegasse à melhor decisão. Embora o jogo fosse tight, o que diminuía o volume de apostas, era também pouco provável que eu sofresse um raise. Tratava-se de uma partida na qual eu achava que realizava boas leituras, o que me fazia jogar mais loose do que em uma mesa na qual eu tivesse dificuldade em ler os jogadores e suas mãos. Minha imagem era tight, e eu não entrava no pote há várias rodadas. A decisão entre fold e call era apertada, então decidi entrar de limp, na esperança de conseguir ação e formar uma trinca, ou conseguir um flop favorável.

Às vezes o jogo, assim como a vida, simplesmente não coopera com seus planos. Um jogador depois de mim aumentou, outro oponente pagou, e um terceiro colocou mais uma aposta. Eu não estava em boa situação: tinha que decidir se pagava duas apostas adicionais, podendo me deparar com mais raises contra apenas três oponentes ou desistir com meus $30 iniciais no pote. Nenhuma escolha seria favorável, mas chamar os $60 parecia melhor do que abandonar os $30 no pote. Decidi pagar: entregar os $30 de bandeja é bem pior do que colocar $60 com uma chance – ainda que pequena – de acontecer algo melhor.

O pior enredo possível aconteceu. O oponente que tinha subido a aposta primeiro empurrou um reraise, e o que tinha dado o primeiro reraise chegou ao cap. Deixar $90 no pote seria horrível — então eu relutantemente coloquei os $60 adicionais em direção ao pote. Eu esperava o flop com um par de setes na mão, enfrentando três oponentes, após ter pagado cinco apostas! Ai!

Eu tinha certeza de que pelo menos dois de meus adversários tinham pares mais altos (um tinha A-A, o outro K-K), o que aumentava as chances de eles conseguirem trincas maiores. Era uma situação de EV (valor esperado) muito negativa, algo que me desagradava demais. Mesmo assim, cada decisão individual que tinha me levado até aquele ponto foi correta no momento em que foi tomada.

Apenas porque uma situação ruim se apresentou não significa dizer que as decisões tenham sido incorretas. As decisões no poker são baseadas em informações incompletas. Você nunca tem certeza absoluta de como seus oponentes irão agir – o máximo que se pode fazer são boas estimativas. Portanto, se você investiu mal seu dinheiro, pense a respeito de sua decisão sob a perspectiva do instante em que foi tomada. E, se ela fazia sentido, não se martirize pelo mau investimento.
Eu desisti no flop, descartei meus setes, e dei adeus aos meus $150.




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