Bill Edler já esteve aqui antes. Trata-se de Barcelona, Espanha, onde o novíssimo Spanish Championship, do World Poker Tour, estava em andamento e o tinha trazido de volta a um lugar que ele conhece bem. Que lugar seria melhor para conversar com Edler e falar sobre seu passado, presente e futuro do que em um país que faz parte de sua história?
Usando Aquele Diploma com Sabedoria
A primeira viagem de Edler para Barcelona ocorreu enquanto ele estava matriculado na faculdade de direito da Universidade da Califórnia, Berkeley. Ele decidiu fazer intercâmbio durante um semestre, e isso o levou à Espanha. A faculdade já era difícil o suficiente em inglês, e ter de aprender a ler livros de direito em espanhol (como Edler fez) era quase impossível. Não havia muito tempo para o poker, admitiu Edler. Mas quando ele voltou para a Califórnia, o poker dominou sua vida. “No dia da formatura, em vez de ir à cerimônia, eu joguei, e acabei tendo minha maior vitória. Eu me lembro que foi $4.500, coisa que eu considerava como um milhão de dólares”, disse.
Edler sabia que, ao terminar a faculdade, não usaria seu diploma de direito um único dia na vida. Ele tinha feito sua escolha, ou talvez o jogo o tivesse escolhido. Ele foi trabalhar no San Pablo Cassino na baía de São Francisco como um jogador de apoio. Alguns meses depois, recebeu uma incrível promoção. “O gerente da sala de poker pediu demissão e eu dei um salto pouco usual do meu cargo para o dele”, disse Edler. Ele então contratou um jovem e desconhecido jogador de poker chamado Erick Lindgren como um de seus jogadores de apoio. Edler riu enquanto dizia: “Eu estava preocupado em saber se Erick Lindgren era capaz de vencer em uma mesa de hold’em de $3-$6, o que mostra o tipo de ‘olheiro’ que eu sou”.
Edler gostava do trabalho, mas sabia que aquilo não era para ele. Sabia que seu talento de verdade estava no feltro. “Eu comecei a fazer algum sucesso em torneios, então achei que deveria dar uma chance [ao circuito de torneios], pois se adequava à minha personalidade. Eu adoro viajar e adoro competir”, ele disse. Embora não credite especificamente a seu diploma em direito o sucesso que teve no mundo do poker, ele reconhece que a faculdade o ensinou a pensar lógica e analiticamente — e o poker valoriza muito o pensamento lógico. “Você tenta descobrir a mão de alguém e depois meio que decide como jogar a sua de acordo com isso: é tudo questão de lógica”, afirma. “Algumas pessoas dizem que há matemática no poker, e é óbvio que há, mas é meio elementar. Já a lógica, não. É o raciocínio lógico que faz de um Erick Lindgren um grande jogador, melhor do que outro que saiba mais matemática do que ele”.
Edler se concentra no lado humano do jogo. “Para mim, o poker é um jogo de pessoas reais e, é claro, eu não sou o primeiro a dizer isso, mas quero reiterar essa verdade. Eu acho que esse aspecto é subvalorizado. As pessoas dizem isso o tempo todo: qualquer bom jogador age de modo um pouco diferente contra um jogador A e um B. Na minha opinião, você deve jogar de maneira bem diferente contra umas e outras pessoas”. Edler enfatizou a liberdade de estilo de jogo e estratégia do poker que se adeqüa a diferentes situações, uma liberdade que não existe em outras formas de competição. “Shaquille O’Neal tem de ser um jogador poderoso, ele não pode ser um jogador malicioso; e Dwyane Wade o oposto. Mas, no poker, eu posso escolher o estilo mais apropriado para determinada mão ou determinada mesa. Eu posso ser uma rocha hoje... e um maníaco no dia seguinte. É preciso ser capaz de jogar de maneira diferente contra diferentes pessoas”.
Impulsionado pela Competição
Edler tem uma resposta rápida quando perguntado sobre o que é mais importante: o dinheiro ou os títulos? “Essa é muito fácil. Uma coisa nem se aproxima da outra: os títulos são mais importantes. Se sua meta é ganhar dinheiro, jogue cash games, simples assim – é mais fácil de ganhar muito dinheiro. Então, por que eu jogo torneios? Algumas pessoas adoram a fama e a celebridade, mas eu acho que a maior razão é a competição. É por isso que eu jogo, com certeza”.
Os torneios em que o estilo de jogo agressivo e único de Edler parecem ter lhe garantido mais dividendos são as versões do jogo com menos participantes. É uma forma de poker que ele dominou esse ano, ganhando seu primeiro bracelete de ouro no evento sixhanded de No-Limit Hold´em de $5.000 esse verão no World Series of Poker, levando $900.000, bem como o título e $215.000 no Heads-Up Championship de $10.000, no Crystal Cassino em Maio.
Se as coisas fossem de acordo com a vontade de Edler, não haveria uma única full table de hold’em em nenhum torneio. “Eu acho que o poker é mais interessante com menos pessoas na mesa. Quanto mais pessoas houver, mais dinheiro você tem de disputar. Qualquer pessoa joga mais agressivamente e com mais imaginação quando tem menos jogadores. Eu prefiro jamais jogar outra mão em uma mesa com mais de seis pessoas”. Apesar de sua atração pela agressividade e por jogos que a estimulam, Edler reconhece a importância de mudar de marcha. E é por causa de sua incrível habilidade de mudar seu estilo que ele permanece tão difícil de ser lido. “Existem diferentes maneiras de ser agressivo – eu meio que desenvolvi meu próprio estilo. Acho que seria difícil me colocar em alguma categoria; não creio que as pessoas digam ‘Bill joga como...’. Para certas pessoas, você pode dizer ‘Ele joga como uma típica criança na Internet, ele golpeia nos blinds’, ou algo do tipo. Quando eu acho que é a coisa certa a se fazer, ajo de determinada maneira. É como se eu tivesse meu próprio estilo a esse respeito, e eu prefiro deixá-lo um pouco misterioso”, disse ele em meio a um sorriso.
Sucesso a Longo Prazo
À medida que nos aproximamos da reta final da temporada de torneios de 2007, os feitos de Edler durante o ano tornam-se impressionantes. Ele ganhou mais de $2,6 milhões, faturou seis vezes mais de $100.000 e ganhou três grandes títulos, inclusive seu primeiro bracelete do WSOP e um título do World Poker Tour, o Coast Poker Championship. Ele aparece em segundo lugar na corrida para Jogador do Ano da Card Player, e como alguém que joga pelos títulos, esse é um que ele gostaria de ganhar.
Embora ostentar sucesso em torneios ao longo de um ano impressione, Bill sabe que isso não é suficiente para definir um jogador como verdadeiramente grande. “Ter ganhado três torneios fez desse um bom ano; veremos se eu consigo continuar fazendo todo ano, mas eu acho difícil”, declara. “Há tanta sorte a curto prazo no poker que o que você alcançou ao longo de muitos, muitos torneios é algo de que você deve ter orgulho. Portanto, seria um orgulho ganhar. Contudo, não me entenda mal, a sorte em torneios é curta demais, uma bobagem. Eu não acho que alguém que não passe muito tempo no circuito de torneios possa entender”.
Foi nesse instante que o discurso sobre seu sucesso se direcionou à sua vitória mais recente, que aconteceu em Biloxi, Mississipi. Ressurgindo com apenas duas fichas de $1.000 até ganhar o Gulf Coast Poker Championship, ele conseguiu a maior virada da história do WPT. E a versão resumida do comentário de Edler sobre seu retorno de $2.000 para $130.000 foi o seguinte: “Fechei meus olhos e dei sorte”. Ele disse que estava especialmente orgulhoso da maneira como jogou de $130.000 em diante, principalmente levando-se em conta que ele ganhou o evento, mas deixará para os outros a incumbência de escrever sua participação na história do poker.
Bons Homens de Família Terminam Primeiro
Outra coisa que as pessoas rapidamente perceberiam se passassem algum tempo com Edler é que ele mantém um nível de educação que não se vê muito comumente. Ele se recusa a passar por uma porta antes de você, se recusa a pedir um prato em um restaurante antes de você, e se recusa a deixar que você pague o almoço. Ele é um cavalheiro nato, e muitas pessoas no mundo do poker já notaram isso. Quando comentei sobre o assunto, ele falou: “Primeiramente, é muito gentil de sua parte dizer isso”, para confirmar minha crença. “Segundo”, ele continuou, “existem muitas pessoas agradáveis no poker”. Ele continuou elogiando a jovem geração de jogadores online e suas jogadas cavalheirescas. “Eles são o futuro do jogo”, disse Edler.
Edler planeja permanecer em cena com o florescente futuro, em busca dos melhores e mais brilhantes competidores. Ele adora viajar, mas, sendo o homem de família que é, a verdadeira dor de cair na estrada é ficar muito distante da vida que ele acabou de começar em casa. “Sou recém-casado; eu me casei pouco antes do Series em 2006, e não existe um homem casado mais feliz no mundo. Eu amo minha esposa e família”, disse. Ele então rapidamente se transformou no maridão orgulhoso, com os olhos brilhando enquanto falava de sua esposa. “Eu entrei na vida dessa garota pequenina e perfeita que é incrivelmente ajustada”, disse. Edler afirma que sua esposa equilibra seu mundo, que gira em torno do poker. “Ela não tem nenhum interesse no poker. Quando eu entrei na mesa final do evento sixhanded, cheguei em casa muito tarde da noite. Ficamos na cama juntos por muito tempo, conversando sobre o dia dela. Passou-se literalmente uma hora antes que ela perguntasse: ‘Oh, Como foi seu dia?’. Eu disse, “Querida, estou muito feliz. Cheguei à mesa final. Estou entre os seis”. Ao que ela respondeu, “Ah, até que enfim”. Edler disse que ela não compareceu no dia seguinte, quando ele ganhou seu primeiro bracelete, mas não porque não o apóie 100%. “Ela não me chama para ir fazer compras com ela, e eu não a convido para me ver jogando poker, e ambos estamos felizes assim”.