A Conquista da Vaga
Ano passado, logo depois de ver Luis Campelo, Gamarra e companhia na World Series Of Poker, em Las Vegas, eu havia tomando uma decisão: eu disputaria o CBO. Acompanhar todos os jogadores apenas da torcida me fez perceber o quanto eu queria estar do outro lado. Eu sabia que não seria fácil vestir a camisa do Best Poker Team Brasil, mas acreditava que era possível buscar uma das vagas, afinal, eram 30 este ano.
O início foi desanimador. Acabei perdendo várias etapas por causa de compromissos de trabalho e não pude me dedicar o quanto eu gostaria. Por outro lado, Marcos Sketch, um dos principais nomes do poker nacional, tinha começado de maneira arrasadora, cravando a segunda etapa e chegando à mesa final nas duas seguintes. Ali, eu achei que a vaga do Main Event já tinha dono, mas não foi bem assim.
A definição do Campeonato Brasileiro Online ficou mesmo para última etapa. E foi sofrida. Sketch, Yuri ”xapalapadio” Fonseca e “LFT.14” chegaram à mesa final brigando pela vaga do Main Event. Logo de casa, “LFT.14” foi eliminado em 10º lugar e teria que se consolar com o terceiro lugar no ranking geral. Yuri caiu em oitavo, mas ainda tinha chances.
Com a eliminação de seus principais concorrentes, Sketch precisava chegar ao heads-up para conquistar o CBO 2011. Infelizmente para ele, o sonho que parecia tão próximo começou a se transformar em pesadelo quando os shorts começaram a conseguir sucessivas dobradas.
E foi pelas mãos de um desses jogadores com poucas fichas que Marcos Sketch acabou caindo em 6º lugar. Yuri “xapalapadio”, que estava “secando” Sketch, como ele mesmo me contou no aeroporto, quando do embarque para Vegas, viu a vaga do Main Event cair em seu colo, e sagrou-se o grande campeão do CBO.
Quanto a mim, fui punido pela falta de planejamento. Ao final das 16 etapas, eu era o 77º do ranking. Restava tentar as vagas nos Sit and Go´s da repescagem, que seriam minhas últimas chances de conseguir um lugarzinho no time. (Dê uma olhada em “Entenda o CBO”).
Para piorar, acabei perdendo as duas primeiras repescagens. Eu só teria mais uma chance. Aos 48 do segundo tempo, finalmente consegui. Em um torneio relativamente tranquilo, em que só coloquei meu stack em risco uma única vez, superei quase sessenta jogadores e comemorei, junto com “betodalu” e “pitaoufmg”, que me acompanharam durante o jogo, meu tão sonhado passaporte para a WSOP.
Cai a Ficha
Apesar da vaga assegurada, a ficha só caiu mesmo alguns dias antes da viagem. A ansiedade veio sem aviso: “Vou disputar um evento da World Series Of Poker”, eu pensava, perplexo. Por diversas vezes me imaginei jogando com lendas do poker como Phil Hellmuth, Johnny Chan e Doyle Brunson. E quanto ao bracelete, quem não sonha em ganhar um? Ali, eu começava a entrar no clima World Series, sempre com aquela ponta de esperança de que eu poderia conseguir a cravada da minha vida em Las Vegas.
Os dias até a data de embarque passaram voando. E aqui preciso fazer uma menção a dois sujeitos: Thiago Moreira e Rodrigo Duarte, do Best Poker. Os dois representantes do site trabalharam muito bem e fizeram com que nós, jogadores do Team Brasil, não precisássemos nos preocupar com muita coisa além de jogar poker.
Vegas, Baby!
A chegada em Las Vegas é sempre sensacional. Mesmo sendo minha terceira passagem pela “Sin City”, eu me sentia como se estivesse vivendo aquilo pela primeira vez. Antes mesmo de pousar você entende porque a cidade atrai milhões de turistas dos quatro cantos do mundo: ainda de dentro do avião é possível avistar os hotéis, aquelas construções faraônicas dedicadas ao entretenimento de milhões de pessoas todos os anos. Não dá para descrever a sensação de estar em Vegas. Em vez de colocar no papel, eu sugiro que todo mundo que é louco por poker simplesmente vá até lá e veja com os próprios olhos.
Após sair do aeroporto nosso destino seria o hotel MGM Grand, um dos maiores do mundo. São mais de 5.000 quartos, um cassino que parece não ter fim, lojas a perder de vista e até jaulas com leões de verdade, sem falar na mundialmente famosa a MGM Grand Garden Arena, que já recebeu em seu palco estrelas como os Rolling Stones e Paul McCartney, e também eventos antológicos como a luta entre Evander Holyfield e Mike Tyson – aquela mesmo, da mordida na orelha.
Como se não bastasse, no final de semana do nosso evento seria realizado ali o UFC 132. Eu mal podia acreditar que estava hospedado a poucos metros de onde aconteceriam as lutas que todo mês eu acompanho pela TV. E não é que eu acabei andando lado a lado com Chuck Liddell e seu cabelo moicano inconfundível? O ex-campeão do UFC atravessava os salões do hotel enquanto vários fãs o abordavam. E mais, em que lugar do mundo eu teria visto Bruce Buffer, a voz marcante do UFC, e logo em seguida o ator Kevin James, famoso pelas pataquadas em comédias hollywoodianas? Acho que só em Las Vegas mesmo. Mas voltemos ao que interessa: poker.
Vivendo o Sonho
O Best Poker Team Brasil foi formado por 28 jogadores vindos de todos os cantos do país. Nossa missão era levar a bandeira brasileira o mais longe possível no Evento #54 da WSOP. E todos sabiam que a tarefa seria difícil: por causa do buy-in de US$ 1.000, começaríamos com apenas 3.000 fichas e provavelmente enfrentaríamos um dos maiores fields da história da WSOP. Assim, um simples erro no início do torneio poderia lhe custar todo o stack.
O Dia 1-A foi realizado em 02 de julho, mas apenas oito jogadores do time entrariam em campo. Foi o caso de Luis "luanpeju" Campêlo, Afrânio "apa_rj", Luis "snakecobra", Daniel "danielg28", Luis "portiba", Marcos Sketch, Brian "black.chip", e o campeão do CBO 2010 “Betodalu”. Eles foram para o pano logo no sábado, mas apenas “luanpeju” conseguiu avançar.
Optei por jogar o Dia 1-B, como o restante do time. Nosso grupo era formado pelos 20 jogadores restantes do Best Poker Team Brasil, além do próprio campeão do CBO 2011 Yuri “xapaladio”, que, mesmo tendo vaga garantida no Main Event, resolveu pagar o buy-in do evento e se juntar ao esquadrão.
Os blinds começavam em 25-25, subindo de hora em hora. Apesar de não demonstrar, eu estava muito ansioso, não tenho vergonha de admitir. Logo nas primeiras mãos eu tive meu momento “donkey”, em que você não quer receber cartas como JJ, AJ, AQ ou até AK, simplesmente por medo de jogar e se complicar.
Para embolar ainda mais o meio de campo, na minha canhota estava um detentor bracelete. (Depois fiquei sabendo que era um tal de Peter Smurfit, irlandês campeão de Pot-Limit Omaha em 2007). Ali, percebi que realmente estava sentindo a pressão, mas esperava que fosse momentânea. Pelo menos no futebol, as coisas voltam ao normal depois que a bola rola, e eu esperava que na WSOP fosse igual. E foi.
Em menos de duas órbitas coloquei minha cabeça no lugar e mantive o foco. Nunca joguei um torneio tão concentrado. Eu estava sem fones de ouvidos, sem conversar na mesa e por aí vai. Pude dar o melhor de mim. Minha estratégia era jogar agressivamente quando recebesse mãos fortes, e não desperdiçar fichas com as especulativas. Mas logo no segundo nível de blinds minha estratégia caiu por terra...
Depois de acertar dois pares no flop, três cartas de copas no bordo deram um flush ao meu oponente. Fiquei com apenas 1.300 fichas. Em poucos minutos, os blinds iriam para 50/100, e eu ficaria em situação muito delicada. Trocando a marcha e acelerando um pouco o jogo, consegui puxar alguns potes. Ao término do quarto nível, eu estava de volta, com 4.000 fichas, e bem mais confiante. Na volta do segundo break eu teria quase 30 big blinds, e outros oito companheiros de time seguiam vivos. Túlio Sá, com 15.400 fichas, era quem estava em situação mais confortável.
O quinto nível de blinds começara com dois jovens muito agressivos sendo colocados à minha esquerda. Isso, aliado ao fato de que só estava recebendo mãos marginais, me fez cair perigosamente para 2.800 fichas. O início do sexto nível trouxe meu primeiro par de Reis do torneio, e consegui eliminar um short stack. Pouco depois, outra grata surpresa, um inédito par de ases. Escondendo a força da minha mão até o river, puxei outro belo pote. Agora, com blinds em 100-200 e antes de 25, eu estava na casa das 6.000 fichas.
Três Outs
O sexto nível já se encaminhava para o final quando eu fui do céu ao inferno em duas mãos. Na primeira, puxei um pote de quase 3 mil fichas ao acertar um bom call com Ace-high no river. Confiante, só conseguia pensar, “agora vai”. Mas o banho de água fria veio poucas mãos depois.
Lembro perfeitamente que faltavam nove minutos para o break, quando recebi QQ nas posições iniciais da mesa. Aumentei para 525 e vi todos darem fold até o chip leader da mesa, que era o mais ativo até ali. Ele me olhou por alguns instantes e anunciou um reraise para 1.700. A ação voltou para mim, e um turbilhão de imagens e pensamentos invadiu minha cabeça. Shove? Call? Reraise? Depois de pensar em apenas pagar, decidir que o all-in era a melhor jogada. Eu sabia que ele poderia me pagar com mãos piores, já que seus reraises não vinham sendo respeitados na última órbita – e um detalhe que não mencionei: meu call de A-high tinha sido contra ele. Empurrei minhas 8.000 fichas restantes e vi em seu rosto uma expressão que parecia dizer: “ninguém me respeita nesta mesa?”. Ele rapidamente anunciou o call. Eu estava sem meus óculos e, quando ele virou um Ás e uma figura na outra ponta da mesa, imaginei que era ás e rei. Olhando melhor, vi quer era uma dama. Eu era favorito. Infelizmente, o sentimento de alegria acabou logo no flop, quand o dealer mandou uma azeitona no bordo. Era o ás que não podia bater, mas bateu. Fim do torneio para mim. Fim do sonho.
Meu primeiro sentimento foi de revolta. “Pô, como o cara coloca a metade do stack em um A-Q?” Mas de cabeça fria, conversando com amigos e outros jogadores mais experientes, fui ficando mais calmo. Restava torcer pelos únicos representantes do Best Poker Team Brasil que conseguiram avançar para o Dia 2, Túlio Sá e Luís Eduardo "luanpeju" Campelo. E eles não decepcionaram.
Dos 4.576 jogadores que compuseram o segundo maior field da WSOP fora os Main Events, cerca de 500 ainda estavam na briga pelo título no Dia 2, e 463 entrariam ITM. Não deu nem pra dizer que a o estouro da bolha foi emocionante, já que não demorou nem meia hora para que os premiados fossem conhecidos. E os dois representantes dos Best Poker seguiam firmes e fortes. Curioso é que, em 2010, Túlio Sá também havia jogado o torneio pelo Best Poker Team Brasil e também havia ficado ITM. Já Luís Eduardo Campelo estava na torcida pelo seu irmão e xará Luís “TATOAA” Campelo, que, assim como Túlio, também entrara no dinheiro defendendo as cores do Team Brasil em 2010.
Pena que a saga dos dois últimos sobreviventes terminou antes da hora. Túlio caiu na 263ª colocação e embolsou US$ 2.676. Luís Campelo se envolveu em um all-in triplo pouco depois. Com A
♥K
♥, ele viu seus adversários mostrarem par de Dez e de Damas. Parecia um bom cenário, mas o par de dez acabou levando a melhor com um straight. Luís se despediu do torneio na 199ª posição, faturando US$ 3.088.
As duas premiações alcançadas pelo Best Poker Team Brasil talvez tenham sido pouco se levarmos em conta o tamanho do time. Mas poker é assim mesmo. Ao final, a sensação foi de dever cumprido.
Sem dúvida o CBO é campeonato único, que realiza o sonho de 30 jogadores de participar da maior série de poker do mundo. E a boa notícia é que você não precisa ser nenhum gênio para fazer parte desse time. Querem exemplo melhor do que o meu? Sou jornalista, jogador recreativo, mas pude realizar o sonho de jogar uma WSOP graças ao CBO. E junto comigo, outros tantos.
Certamente, o Campeonato Brasileiro Online pode nos proporcionar uma experiência inesquecível. E em breve tem mais. A temporada 2011/2012 começa em algumas semanas. Serão outras 30 vagas, e eu certamente estarei de novo na briga por uma delas.
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ENTENDA O CBO
O Campeonato Brasileiro Online do Best Poker é uma das maneiras mais fáceis de ir para Las Vegas e jogar a WSOP com todas as despesas pagas. São 30 pacotes, sendo um deles para o Main Event, incluindo passagem, hospedagem e buy-in.
É possível adquirir o pacote completo antecipado, com desconto, que dá o direito de jogar todas as 16 etapas. O jogador também pode pagar o buy-in de cada etapa separadamente. Os torneios ocorrem aos domingos, a cada 15 dias.
Além das 16 etapas regulares, existem ainda pelo menos outras três oportunidades de conseguir a vaga, através da repescagem. Confira como conseguir sua vaga:
- Classificação Direta
É feita através do ranking geral. Os 20 melhores jogadores após as 16 etapas regulares ganham o pacote diretamente. O campeão leva uma vaga para o Main Event de 10.000 mil dólares.
- Repescagem (Sit and Go)
a) Os jogadores entre as posições 21 e 50 no ranking geral disputam um torneio exclusivo, valendo três vagas.
b) Os jogadores entre as posições 51 e 100 no ranking geral disputam um torneio exclusivo, valendo uma vaga.
c) Os jogadores que adquiriram o pacote antecipado disputam um torneio exclusivo, valendo três vagas.
d) Os jogadores que participaram de pelo menos 12 etapas disputam um torneio exclusivo, valendo três vagas.
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