EDIÇÃO 49 » COLUNA NACIONAL

Como nasce um jogador? Quebrando!

Pelo menos foi assim com Negreanu, Chan, Hellmuth e as maiores estrelas do poker mundial


Pedro Nogueira

“A melhor maneira para se tornar um verdadeiro ganhador é, antes, entender como é ser um perdedor.” Despejada assim, sem mais explicações, pode até parecer frase de algum escritor de autoajuda. Mas, amigos, não se deixem enganar: o real autor dessa passagem é Johnny Chan, bicampeão do Main Event da WSOP em 1987 e 88. Talvez soe estranho. Afinal, por que um dono de 10 braceletes da WSOP, com R$ 13 milhões de premiação na carreira, enalteceria algo como “ser um perdedor”?

Simples: porque ele já esteve lá. Chan conta que, em sua primeira viagem a Las Vegas, perdeu todo seu bankroll, US$ 2.500, em trinta minutos. Deixou metade na mesa de craps, a outra metade na de blackjack. Absolutamente abatido, ele então avistou uma mesa de Limit Hold’em, com blinds $5-$10. Sacou 200 dólares no cartão de crédito e sentou-se nela. “Joguei por três dias quase sem parar”, diz Chan. “Ganhei US$ 30 mil.” Quando Chan estava prestes a ir embora com a carteira recheada, porém, um dos chefes do cassino veio oferecer a ele uma suíte, uma limusine e ingressos para qualquer show da cidade.



“Aceitei a oferta – e acabei perdendo cada dólar dos US$ 30 mil.” É nesse contexto que Chan cita a frase que abre este texto. E depois completa: “Você precisa saber como é perder tudo antes de poder realmente apreciar aquilo o que ganhou.”

A história de Johnny Chan não é um caso raro, amigos. Muitíssimo pelo contrário: praticamente todas as estrelas do poker já quebraram – várias vezes – em suas carreiras. Não é à toa que Antonio Esfandiari costuma afirmar em entrevistas que ele é “o único jogador de poker” que nunca quebrou na vida. “A partir do momento em que deixei meu trabalho para jogar cartas, nenhuma vez estive quebrado”, disse Esfandiari. “Não sei se existe qualquer outro jogador que possa dizer o mesmo.”

Daniel Negreanu, o segundo jogador mais premiado da história, com 22 milhões de reais, tem uma história parecida à de Chan. “Quando eu quebrava em Las Vegas – e isso acontecia sempre – eu voltava para Toronto com o rabo entre as pernas e reconstruía meu bankroll”, escreveu Negreanu no livro Deal Me In. “Eventualmente, descobri como ganhar nas mesas de $20-$40. Também tive uma boa série de torneios e, assim, consegui juntar 60 mil dólares. Mas esse dinheiro não durou muito. Queimei quase tudo jogando Limit Hold’em de $75-$150.”

Já Phil Hellmuth, o maior vencedor da história da WSOP com 11 braceletes, sendo um deles o do Main Event de 1989, precisou trabalhar numa fazenda para se recuperar da bancarrota. “Algum tempo depois de deixar o meu trabalho para jogar poker”, conta Hellmuth, “entrei numa seca e quebrei. Um amigo me emprestou 100 dólares. Só que ele pegou minha carteira de motorista como garantia.” Bom, é quase desnecessário dizer que o empréstimo não durou muito. “Eu não tinha dinheiro para jogar poker – nem mesmo pagar o aluguel – e eu precisava pegar minha carteira de volta. Foi quando decidi deixar a faculdade e ir trabalhar numa fazenda”, diz Hellmuth. “Levei três meses para reconstruir o bankroll e pagar meu amigo. Consegui juntar, no entanto, dinheiro suficiente para me bancar na mesa de poker de novo.”

As histórias não param por aí, amigos: Phil Ivey, Howard Lederer e dezenas de outros enfrentaram a mesma situação. “Até os melhores jogadores enfrentam períodos de seca”, afirmou Doyle Brunson. “É preciso lidar com a ideia de que, às vezes, todo mundo quebra.” É fato: perder sempre dói. Mas saber que Ivey, Negreanu, Lederer, Chan, Hellmuth e Brunson também passaram por isso ajuda a aliviar a dor. Não?!





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