EDIÇÃO 49 » COLUNA NACIONAL

Tão perto, tão longe

Um balanço da WSOP e reflexões sobre a carreira


Felipe Mojave
O Brasil fez bonito demais nessa WSOP 2011. Além da grande vitória do mestre André Akkari, que conquistou o sonhado bracelete, tivemos também as mesas finais de Rodrigo Garrido, que eu já sabia se tratar de um excelente jogador, e Marco Oliveira, que eu não conhecia pessoalmente, mas vi executar grandes jogadas.

Quando eu falo que a gente chegou tão perto de alguma coisa, estou falando de mim. Sim, foi decepcionante conseguir resultados expressivos e não chegar lá. Mas é a vida de quem joga poker. Mesmo tendo sido uma WSOP lucrativa, ficou longe de ser como eu gostaria que tivesse sido. Minha decepção por ter chegado tão perto é porque o mundo do poker não dá margem para projeção sem título. É assim que funciona. “That´s poker”.

No evento de PLO, eu cheguei a ser chip leader faltando 20 jogadores, mas Ben Lamb acabou ganhando o evento. Parabéns pra ele, que fez uma World Series incrível. Eu voltei para casa nem um pouco satisfeito, mas tenho certeza de que meu poker evoluiu bastante. Ouvi elogios de grandes jogadores a respeito do meu jogo, mas não me deixo levar por esses comentários – gosto de mostrar resultado. Esse é meu foco.

Nos últimos três meses, não me lembro de ter jogado contra um field fácil ou algo do gênero. Na verdade, parte dessa evolução é penosa. Venho participando de cash games de limites altos, onde o nível é forte demais. É o preço que se paga para melhorar de verdade.

Também tenho percebido que o tempo se encarrega de mostrar o que está debaixo do nariz e não enxergamos: minha fase de grinder online já passou. Hoje em dia meu objetivo não é grindar mais nada, e sim mesclar um ritmo forte de jogo com uma rotina saudável, com mais pausas e planejamento. Esse equilíbrio faz parte do projeto para uma eventual vitória na WSOP.

No evento Stud Hi-Lo de US$10.000 fui eliminado na 10ª posição. Consegui ganhar apenas um pote no Dia 3, abrindo com boas mãos e não conseguindo completá-las nos limites altos. Fiz o possível e o impossível, até forcei um fold do Ted Forrest na bolha da mesa final, quando eu estava quase sem fichas. Mesmo tendo sido um momento bacana, ainda não foi dessa vez que a vitória veio.

No H.O.R.S.E. de US$10.000 caí em 26º quando estava na média em fichas. Fui o “ante-bolha”. Perdi quatro mãos seguidas que eu tinha que jogar e fim de papo. Numa delas, em limit hold'em, flopei overcards e um flush draw de rei. Acertei o flush no river, mas tomei um nut-flush de Shawn Buchanan. Mais uma vez, cheguei na reta final e fiquei no quase.

Como se não bastasse, lá estava eu na minha terceira reta final em um evento de US$10.000 na WSOP 2011, agora no meu evento predileto: o de Pot-Limit Omaha. Faltando 14 jogadores, eu tinha o segundo maior stack do torneio, depois de ter ganhado uma mão importantíssima com trinca e flush draw contra uma sequência no flop.

Sim, essa foi a mão que fez passar um filme passar na minha cabeça, já que as coisas não andavam muito animadoras na retas finais dos torneios. “Agora vai”, pensei. Não foi. Logo na sequência, perdi uma mão grande num fold muito difícil no turn, com trinca no bordo T-T-7-5 quando eu tinha J-T-9-8... Esperei a hora certa para colocar os meus 15 big blinds na mesa, mas não tive sucesso e fui eliminado na mesma 14ª posição. Essa doeu, mas a vida segue.

Não é nada fácil encarar o field dos torneios de 10 mil dólares da World Series. Além de todas as dificuldades de para se jogar nesse nível, enfrentando os maiores nomes do jogo, ainda é preciso encarar os jogadores emergentes, que podem não ser muito conhecidos ainda, mas são tão bons – ou melhores – quanto os famosos.

Ainda que eu claramente não venha contando com a luz nas retas finais, não há de que reclamar. E quando eu digo luz, não é ganhar uma grande mão por baixo ou ter sorte, mas sim vencer aquele coin flip importante na decisiva. Seja ligeiramente favorito ou flipando, perder três situações na reta final machucou. Foi contra todas as odds. Mas o curto prazo é assim mesmo. O importante é continuar trabalhando forte e contornando bem o caminho que eu já conheço. “Consistência sempre” é o que eu cobro de mim mesmo. O resto são detalhes fora do nosso controle.

No mais, quero agradecer muito a torcida da galera durante a WSOP 2011, e dizer que a luta continua. Ano que vem tem mais. E que fique bem claro que essas inúmeras traves me deixam insatisfeito, mas me fazem acreditar que uma hora vai bater. No fim das contas, acho que essa fé é o que move a todos nós.



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