A Black Friday mudou profundamente o cenário global do poker, mas algo continua praticamente intacto: a capacidade do PokerStars de mobilizar jogadores e realizar eventos de alto padrão. Além de seus grandes circuitos continentais – EPT, LAPT e APPT – o site tem promovido as chamadas franquias regionais, que incluem países tão díspares quanto Irlanda, Grécia e Nova Zelândia. Seguindo essa tendência mundial de migração dos circuitos para os mercados emergentes, nasceu o BPT.
Depois de praticamente dois anos de negociações e preparativos – fala-se em seu nascimento desde meados de 2009 –, finalmente aconteceu a primeira etapa do Brasil Poker Tour. A expectativa era grande, e o resultado acena para o um futuro promissor. Mesmo tendo sido realizado sob a ressaca brasileira pós-WSOP e em meio ao turbilhão da Black Friday, o evento do PokerStars mostrou-se pronto para fincar bandeira no mapa-múndi dos grandes eventos de poker ao vivo.
O Dia 1A teve 150 inscritos, com muitas feras do poker nacional. Isso fez as coisas começarem agitadas. Com menos de 15 minutos de jogo, Norson Saho decretou a primeira eliminação. Com A-Q, ele viu seu adversário colocar todas as fichas no pano com Q-Q. Mas o bordo, caprichoso, mostrava 10-J-K, perfeito para Norson.
Quando o telão marcava o fim do sétimo e último nível de blinds, apenas 77 jogadores continuavam na disputa. Gualter Salles e Marcelo "Urubu" Freire estavam nesse grupo. Porém, entre tantos marmanjos, o destaque do primeiro dia foi uma mulher. Além de ser a única representante do sexo feminino restante, Andrea Ribeiro era também a chip leader do torneio. E ela não desperdiçaria a vantagem e chegaria longe no torneio.
Com os 178 participantes do Dia 1B, o número total de jogadores do BPT foi de 328, sendo que 48 sairiam do torneio com dinheiro no bolso. Entre as feras que marcaram presença no segundo dia de competição estavam o campeão mundial André Akkari e o bicampeão do LAPT “Nacho” Barbero.
Logo após o “shuffle up and deal”, vários embates interessantes ocorreram. Em um deles, antes mesmo de o flop ser virado, Bruno Foster e Fabiano Kovalski bateram de frente em uma jogada relativamente rara, uma “6-bet all-in”. Nessa guerra de seis raises sucessivos entre o profissional do Rox Poker e o da Poker Villa, melhor para o segundo. Kovalski tinha par de Reis e eliminou Foster, que tinha K-9.
Pouco depois, outro morador da casa de poker mais famosa do Brasil, Rafael “GM_Valter” Moraes, aplicou um raise com A-J após dois jogadores entrarem de limp. O curioso é que um desses limpers era Caio Brites, um dos idealizadores da Poker Villa, que tinha acabado de chegar à mesa. Sem pensar muito, Brites mandou todas as fichas para o centro. Depois de pensar por um bom tempo, Rafael pagou e viu o chefe apresentar “sólidos” 7-8. Um Oito apareceu no turn, dando um par e o pote para Caio Brites. Mas isso que não evitou sua eliminação, e pouco depois acabou caindo. O mesmo aconteceu a Rafael, que, também ironicamente, foi eliminado por seu companheiro de time Fabiano Kovalski.
Na mesa ao lado, alheio a tudo isso, André Akkari desenhou um alvo em suas costas. Durante o dia inteiro, ele jogou praticamente todas as mãos. Seu stack chegou a descer perigosamente para 4 mil, mas ao final o Team Pro do PS avançaria para o Dia 2 com 31.200 fichas.
Akkari, Kovalski e outros os 89 jogadores voltariam para o dia seguinte. O carioca Christian Kruel, o luso-brasileiro Fernando Brito e o argentino Jose "Nacho" Barbero não tiveram a mesma sorte, e acabaram sendo eliminados. A liderança do dia e do torneio ficou com Rodrigo Scartezini (140.300 fichas), membro do Steal Team e mesa-finalista do LAPT de Floripa em 2010.
O terceiro dia do BPT começou com 168 jogadores, mas apenas 39 continuariam na briga para fazer história como “primeiro campeão do Brasil Poker Tour”. Ainda no início do dia, outra ironia: André Akkari foi eliminado pelo seu companheiro de time Gualter Salles. O ex-piloto de Stock Car continuou manobrando seu stack com a mesma habilidade que o consagrara nas pistas, e avançou para o Dia 3.
A bolha do torneio estouraria algumas horas mais tarde, com a eliminação de André Espírito Santo em 49º lugar. A “bizarrice” do dia aconteceu com o mineiro Marco Túlio. Depois de um adversário abrir raise do início da mesa e outro pagar, Marco deu reraise do button segurando Q-6. Foi pago pelos dois oponentes. Quando o flop só trouxe cartas baixas, o jogador mineiro empurrou all-in. Para seu espanto, um dos jogadores, afirmando ter que ir embora, pagou com J-10. Um valete bateu no river e eliminou Marco Túlio na 43ª colocação. Foi também no Dia 2 que o dinamarquês Rolf Andersen começou a trilhar seu caminho rumo à glória. Ele lideraria os sobreviventes no dia seguinte.
O Dia 3 do Brasil Poker Tour definiria os oito finalistas. E logo no primeiro nível de blinds, 11 eliminações aconteceram. Nove horas depois, com Rolf Andersen ainda na liderança, a mesa final, que teve Gualter Salles em 10º e Andrea Ribeiro em 9ª, estaria formada.
Eram sete brasileiros contra apenas um gringo. O detalhe é que ele era o chip leader, e parecia ter sido feito para jogar poker em terras estrangeiras. Sem demonstrar qualquer reação emocional e entrando em todos os potes com o único objetivo de puxar todas as fichas, ele conquistou o primeiro 1º Brasil Poker Tour da história. Tomou tanto gosto que prometeu voltar outras vezes.
8º Colocado – Alencar Vicente (R$ 12.700)
Alencar segura K
♣Q
♠ e o bordo mostra 6
♦4
♠2
♠J
♥10
♦ quando ele tenta passar um blefe em Luiz Pheres, que tem 5
♣4
♠. Luiz não dá muito crédito ao catarinense, e a mesa final tem seu primeiro eliminado.
7º Colocado – Guilherme Moura (R$19.100)
Em guerra de blinds contra Rolf Andersen, Gui Moura empurra com A
♣5
♠. O dinamarquês tinha A
♦K
♣.
6º Colocado – Marco Melo (R$ 25.400)
Short-stacked, Marco aposta todas as fichas em seu A
♣7
♠. Mas o small blind, Luiz Pheres, segura A
♥J
♣ e também empurra todo o stack para o centro da mesa. É o fim da linha para Marco.
5º Colocado – Ronaldo Leite (R$31.800)
Depois do raise de Luiz Pheres, Ronaldo não pensa duas vezes e vai ir all-in do big blind. Quando Luiz dá insta-call, ele só pode rezar para que seu par de Setes encontrasse um coin flip pela frente. Não foi o que aconteceu. Luiz tem duas damas, o bastante para colocar mais uma eliminação em sua conta.
4º Colocado – Wagner Honório (R$ 44.500)
Com poucas fichas, Wagner sai empurrando all-in com K
♥3
♥ do UTG. Luiz Pheres paga do big blind com 8
♠8
♥. A primeira carta do flop é um K
♠, e os presentes no salão acharam que Luiz não faria uma nova vítima. Mas um 8
♦ aparece logo após o Rei, colocando fim ao sonho de Wagner conquistar o título.
3º Colocado – Luiz Pheres (R$ 60.460)
Com quatro eliminações Luiz Pheres parece imbatível. Mas em um guerra de blinds contra o paredão dinamarquês, seu A
♠K
♦ perde a corrida contra o par de Dez de Rolf Andersen, que avança com uma boa vantagem para o duelo final.
2º Colocado – Sanyo “Money Evil” (R$ 98.600)
Como bom mineiro, Sanyo “come quieto” na mesa-final. Ele chega ao heads-up sem eliminar nenhum dos outros seis competidores, mas chegou a causar estragos no stack de cada um deles pelo menos uma vez. Contra o dinamarquês, ele ainda consege equilibrar a disputa, mas acaba encontrando um cooler, que define a disputa.
Campeão – Rolf Andersen (R$ 170.500)
Rolf Andersen não foi campeão por acaso. Em seu primeiro torneio live, ele liderou desde o primeiro dia, mostrando extrema frieza à mesa e, obviamente, contando com a sorte nos momentos certos. Na mão que decidiu o torneio, quando o flop trouxe 7
♣2
♠J
♣, parecia que a “Lady Luck” lhe viraria as costas. Andersen tinha A
♣Q
♣ contra A
♠J
♠ de Sanyo. Só que um 2
♣ no turn e um 10
♣ no river deram ao dinamarquês o título da primeira etapa do Brasil Poker Tour.
♠
FICHA TÉCNICA
1ª Etapa Brasil Poker Tour
Local: Hotel Transamérica (São Paulo)
Data: 21 a 25 de julho
Buy-in: R$ 2.300
Inscritos: 328 jogadores
Prize Pool: R$ 656.000
Organização: Overbet Eventos
Oferecimento: PokerStars.net
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