Quem nunca jogou poker e tomou aquela aposta maior do que o pote no river? Sim, a gente é pego de calças curtas e fica querendo esganar o adversário. Mas não adianta choramingar, mesmo contrariado, você precisar decidir entre call e fold. Nesta edição falaremos exatamente desse tipo de aposta, a overbet.
Essa é uma jogada pouco explorada pelos jogadores, que dá calafrios em muitos jogadores, estejam eles no papel de autor ou de vítima da overbet. Mas já adianto que é possível defender-se delas com conselhos simples, e o principal, no momento certo e contra o oponente certo, é possível aplicá-las de forma lucrativa.
Minha primeira recomendação é que, contra um jogador regular desconhecido, prefira sempre o fold ao call. Geralmente, jogadores regulares costumam fazer essas apostas muito mais com o topo do range do que blefando. A menos que você tenha uma leitura de que determinado jogador costuma dar overbet blefando, não dê call.
A segunda dica é que não existe uma fórmula para se defender de uma overbet vinda de um donkey. No entanto, é sempre fácil perceber as tendências de um jogador fraco. Aproveite isso para obter informações na hora H, use a lógica para pensar em que tipo de mão ele poderia estar segurando para fazer aquele move. Na maioria das vezes, não irá fazer muito sentido, e você conseguirá dar bons calls.
Outra coisa que você deve fazer é caracterizar seu oponente. Se ele for um maníaco, por exemplo, obviamente blefará mais. Diante disso, seu ajuste será dar mais slowplays. Se ele for um adversário passivo, um calling station, provavelmente estará com uma mão forte. Vejamos como usar essas informações em nosso favor.
A overbet é mais comum quando jogamos contra um donkey. Levando em conta que estamos diante de um oponente que supervaloriza suas mãos e não se apega a detalhes do jogo, como padrões de aposta etc., é possível explorar essa fraqueza optando por apostas maiores do que o pote. Com isso conseguimos colocar o máximo de fichas na mesa apostando forte no flop, no turn e no river.
Outra situação interessante é quando estamos com a melhor mão possível e nosso adversário tem provavelmente a segunda melhor. Isso é mais comum quando se tem o maior full house ou o maior straight.
Por exemplo, numa mesa NL-1.000, o herói tem $1.000 e está com Q-9 no cutoff. Ele abre raise para $30, e o vilão, que também tem $1.000, dá call do button. Os blinds dão fold. O flop vem T-8-7 ($75 no pote). Nosso herói aposta $55 e toma outro call ($185 no pote). Um valete bate no turn. O herói dispara $165 e o vilão novamente paga ($515 no pote). No river vem um 2, e o heroi vai all-in de $750. O vilão pensa e dá call com T-9.
Perceba como não importou o tamanho da aposta, o vilão sempre deu call. Se ele não tivesse o 9, não teria pagado nenhuma aposta. Já segurando o nove, ele raramente daria fold diante do nosso all-in.
Outro caso é quando induzimos o nosso oponente a polarizar nosso range, obrigando-o a tomar uma decisão. Desse modo, ele divide nossas prováveis mãos em blefes ou de valor alto. Essa é uma jogada tão interessante que conseguimos extrair valor até de mãos que normalmente dariam fold diante de uma aposta padrão no river, como no exemplo a seguir.
Mesa NL-1000. O herói possui um stack de $1.000 e segura AJ no cutoff. O vilão também tem $1.000 e está na posição de button. No flop bate J-7-4, sendo duas do mesmo naipe ($75 no pote). O herói aposta $55 e recebe call. No turn vem um 2 ($185 no pote). Nosso herói aposta $112 e toma outro call. No river bate um 4 ($409 no pote), e o herói dispara $490, tomando o terceiro call. O vilão poderia mostrar mãos como 8-8, 9-9, T-T, J-9, J-T, J-Q, J-K ou J-A.
Nesse caso demos três tiros – sendo uma overbet no river – e fomos pagos todas as vezes. Vamos analisar com calma o que nosso adversário estava pensando, supondo que ele segurasse um par de dez.
Ele deu um call fácil no flop, já que eu posso disparar uma continuation bet com diversas mãos que estariam perdendo para seu TT.
O 2 no turn não mudou praticamente nada no bordo. Nosso herói ainda pode estar apostando com draws ou pares piores que Dez, então o vilão resolve pagar.
No river abre um 4 e o bordo continua o mesmo. O herói coloca uma aposta maior do que o pote. Aqui, o vilão pensa: “Não faz muito sentido essa aposta. Ele sabe que meu range é fraco. Se eu tivesse trinca ou um par de damas ou maior, teria protegido minha mão dando raise no flop ou no turn”. Então, ele sabe que nosso range é basicamente 8-8, 9-9, T-T, J-9, J-T, J-Q, J-K, A-J e draws que não bateram. “Se ele sabe que meu range é fraco e aposta forte, é provável que esteja querendo me expulsar com blefes. Vou dar call com meu par de dez”, é o que pensa o vilão.
Perceba que, se nosso herói tivesse feito uma aposta normal de $300 em um pote de $400, o vilão estaria mais disposto a largar. Sem falar que, com essa aposta, muitas vezes conseguimos tirar quase metade do stack do vilão. Outro fator importante é que esse tipo de aposta é mais eficaz contra jogadores que sabem nos colocar em um range polarizado.
É possível ainda utilizar o mesmo exemplo para ilustrar como blefar usando a overbet. No exemplo anterior, podíamos estar apostando até o turn com algum draw. Mas como não completamos nossa mão no river, e levando em conta que o oponente é um jogador mediano que dará call em uma aposta padrão com mãos como J-9, J-T, Q-J e K-J, mas que não arriscará pagar uma overbet, optamos pela aposta acima do valor do pote, o que elimina quase todas as combinações de mãos com as quais ele daria call.
É isso aí, pessoal, espero que vocês tenham gostado das dicas. E, de agora em diante, nada de querer esganar o adversário. Seja técnico, seja lógico. É a melhor saída para você e para suas fichas. ♠