EDIÇÃO 46 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Good Run Bad Run

Ou o silêncio que precede o esporro


André Dexx

Você já ouviu falar em “good run”? Nada mais é do que aquele período em que tudo dá certo para um jogador. É a fase em que grande parte das suas mãos, favoritas ou não, vencem com uma frequência fora do normal.

Faço questão de ressaltar que as mãos vencem “sendo favoritas ou não” porque é comum encontrar jogadores que pensam que a good run é apenas o período no qual um volume de mãos não favoritas começa a puxar todos os potes. O fato é que existem vários tipos de good ou bad runs, o que torna o poker ainda mais complicado de dominar, pois dificulta encontrar falhas no jogo ou classificar se realmente estamos passando por uma fase boa ou ruim.

Vamos supor que você vá all-in 20 vezes com AA, a melhor mão pré-flop. Se você ganhar 19 vezes e perder 1, pode-se concluir que está passando por uma good run, já que a frequência com que essa mão perde no longo prazo é quase 4 em 20 vezes em que se vai all-in.

É muito importante entender esse conceito na medida em que você pode estar passando por uma bad run com par de ases e uma good run com par de damas. Ou pode estar perdendo fora do normal em situações de 3-bet, mas trincando como nunca. Isso torna muito mais difícil afirmar que alguém está passando por uma good ou bad run, pois, ao analisarmos um período de mãos curto ou médio de determinado jogador, veremos que ele atravessou fases boas e ruins em várias situações diferentes.

Outro exemplo clássico é o do sujeito que joga uma moeda para o alto 50 vezes. Se a moeda não for viciada, a probabilidade de dar cara é igual à de dar coroa, ou seja, 50%. No curto prazo, porém, é normal que o resultado fique longe de 50% para cada lado. Digamos que, após 50 lançamentos, dê 40 vezes cara e 10 coroa. Se você achar que é um tremendo azarado porque caiu coroa apenas 10 vezes, não pode esquecer que teria tido muita sorte se tivesse escolhido a outra opção. No final das contas, as coisas podem ser mais equilibradas do que nossa mente nos mostra.

Falando nisso, existe um fator que nos rodeia, a nossa bendita memória seletiva. Nós nos lembramos muito mais de quando fomos os coitadinhos e perdemos com AA para 72 na semana retrasada, e tendemos a esquecer que nosso 72 quebrou um AA uma hora atrás. Aquele momento traumático se fixa na mente dos jogadores de maneira tal que, como vocês já devem ter visto, é muito comum reunir os amigos para contar nossas bad beats. Nos intervalos dos torneios, não se fala em outra coisa. Já percebeu como é impressionante a quantidade de gente “azarada” no salão?

Essa distorção dos fatos é a maior causadora da estagnação dos jogadores. Alguns pensam que são deuses porque estão ganhando rios de dinheiro. Outros acham que foram amaldiçoados, que tudo dá errado para elas no jogo, e por aí vai. No poker, os resultados sempre estão acima ou abaixo daquilo que deveriam ser. Então, se você estiver passando por uma good run, cuidado, pois a bad run está batendo à sua porta. Não é superstição. É matemática.

Independentemente da fase pela qual você estiver passando, continue estudando. Não existe jogador que não possa aprender muito mais do que já sabe.




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