Nessa edição, vou falar sobre algo especial, inédito em português. Trata-se de uma teoria psicológica fácil de ser entendida e usada, e que se aplica a qualquer modalidade de poker, a Teoria da Projeção.
O poker moderno possui alguns nichos: cash game ao vivo ou online, torneios ao vivo ou online, sit ’n go etc. É quase consenso que o cash game high stakes online, aquele em que as apostas podem passar de seis dígitos, é o mais técnico.
E é nesse habitat restrito que você encontra os estudiosos do jogo, sujeitos que lucram milhões de dólares por ano nas mesas. Também é onde muitas teorias inovadoras são criadas e lá permanecem, guardadas a sete chaves. Só depois, a conta-gotas, esse conhecimento acaba se diluindo entre nós, meros mortais. É justamente um desses “segredos” que eu escancaro agora para vocês.
De forma objetiva, a Projeção afirma que “o ser humano acredita que as outras pessoas pensam como ele”. Fixe isso na sua memória, pois em um jogo mental como o poker, essa frase tem mais aplicações do que conseguimos enxergar de cara.
O primeiro passo para aplicar a Projeção é conhecer o nosso adversário. Precisamos saber como ele pensa, para então entender como ele projeta a forma como nós pensamos. Para deixar mais claro, vamos analisar dois exemplos baseados em fatores importantes.
Exemplo 1: adversário paga raise pré-flop com pares baixos, de 22 a 99, e cartas altas como KQ.
Projeção: ele pensa que nós também damos call pré-flop com essa mesma gama de mãos.
Contra-ataque: nessa situação hipotética, o adversário dá raise do button, posição em que as pessoas aumentam com muitas mãos. Nós pagamos com 87 do mesmo naipe e o flop vem Q-J-2. De acordo com a Teoria da Projeção, a melhor jogada aqui é pedir mesa e esperar ele apostar, para então voltar reraise blefando.
Por que: levando em conta que o adversário projeta que nós pagamos raises pré-flop com mãos como KQ e QJ, ele dará muito crédito ao nosso blefe.
Exemplo 2: adversário dá check-raise blefando no flop.
Projeção: na cabeça do oponente, vamos dar check-raise blefando no flop assim que tivermos a chance.
Contra-ataque: nesse caso, digamos que ele aumenta de posição inicial e nós damos call dos blinds com 77. O flop vem Q-J-7 com duas cartas do mesmo naipe. Aqui, devemos dar check-raise, pois, a partir da projeção dele, nós estaríamos blefando.
Por que: ele vai pensar que a maior parte da nossa gama de mãos é formada por draws e cartas aleatórias. E vai continuar na briga pelo pote com mãos como KQ, AJ e flush draw com cartas altas. Mas todas estão perdendo feio para nossa trinca.
Seguindo essa linha de raciocínio, se um adversário dá check-raise blefando, raramente faça isso contra ele. Da mesma forma, se o check-raise dele nunca é um blefe, abuse do check-raise blefando. Por quê? Projeção.
Espero que vocês tenham gostado dessa introdução à Teoria da Projeção. No mês que vem, vamos nos aprofundar um pouco mais e entender outras aplicações dessa verdadeira maravilha. Até lá.