Eu estava assistindo a um aluno jogar na mesa limit $3-$6 no Full Tilt quando ele recebeu um par de ases no button. A mesa rodou em fold até ele, que aumentou. Essa pode ser uma situação excelente para essa mão, pois quase todo mundo tem uma ampla gama de raise aqui, e os jogadores nos blinds raramente cogitam que podem estar enfrentando uma mão tão forte.
Apenas o big blind pagou. O flop com 9♣ 5♥ 2♦ pareceu perfeito para o meu aluno, e ele não se preocupou nem quando o big blind deu check-raise diante da aposta dele. Ele analisou suas alternativas e resolveu dar raise no turn, então pagou o check-raise.
O 3♠ no turn pareceu ainda mais seguro e ele, de fato, deu raise quando o big blind apostou. O river foi o 7♦, deixando o bordo com 9-5-2-3-7. Meu aluno apostou e recebeu um check-raise imediatamente. “Ah, não” exclamou ele em voz alta. “Perdi a mão”. Ele então pagou e viu 8-6 offsuit, que formava uma sequência. Ele, é claro, perdeu a mão.
Vamos analisar rapidamente o que o big blind fez. Supondo que estava diante de um steal-raise, ele resolveu tentar um resteal ao flopar uma queda na gaveta. Quando tomou raise no turn, ele sabia que estava diante de uma mão real, mas resolveu pagar para tentar a sorte. Isso foi contra as odds, pois ele tinha 7-para-1 em um tiro de 11-para-1, e, mesmo que conseguisse mais duas bets no river, ele conseguiria apenas um total de nove bets ao final. O raise do meu aluno no turn deu ao big bling algum lucro teórico, muito embora ele tenha perdido na prática.
Dar call no river: Por motivos didáticos, a mão basicamente se jogou sozinha, exceto pelo call no river. Então eu faço a seguinte pergunta: “Ele deveria mesmo ter pagado o check-raise no river ou poderia ter largado sua mão?”
A favor do call está o fato de, quando ele estiver diante dessa decisão, haver 11,7 (contando o small blind) bets no pote, então ele tem odds consideráveis. Além disso, há um dogma básico que diz que o limit hold’em não é um jogo que favorece folds heróicos. Afinal, ele precisa pegar um blefe apenas 9% das vezes para que esse call seja lucrativo.
Há uma lógica no poker que é contra call. Vamos analisar esse tópico seguindo as categorias a seguir:
• Instinto
• Apostas anteriores
• Como as pessoas jogam
• A natureza do bordo
• O fator curiosidade
Instinto: Primeiro, na própria reação automática dele: “Ah, não, fui derrotado”. Não foi: “Provavelmente fui derrotado” ou “Na maioria das vezes estou derrotado”. Ele essencialmente sabia que seus ases não eram bons.
Apostas anteriores: O fato de meu aluno ter dado raise no turn é uma consideração importante. Uma das coisas que você precisa levar em conta quando um oponente pode estar blefando é se ele tem uma expectativa razoável de que você dará fold. Pouquíssimos jogadores dão check-raise no river depois de terem sofrido um raise no turn, esperando ganhar o pote sem um showdown. O check-raise deles visa a ganhar mais dinheiro, não induzir um fold.
Como as pessoas jogam: De fato, pouquíssimos jogadores jamais dão check-raise blefando no river. A maioria dos jogadores se encaixa numa categoria de “cautela”, fazendo jogadas ocasionais no flop, mas um blefe check-raise caro e quase nunca bem-sucedido no river é simplesmente dispendioso demais para ser cogitado. Colocar duas bets na esperança de que um oponente mediando que vem apostando com força de repente decida desistir funciona tão raramente que você quase nunca se depara com isso.
As únicas pessoas que fazem esse tipo de jogada são grandes jogadores com uma habilidade incrível de ler oponentes, jogadores muito fracos que aprenderam uma nova jogada e não sabem muito bem como ela funciona e jogadores desesperados que decidiram tentar qualquer coisa para ganhar um pote. A não ser que você identifique seu oponente como sendo um desses tipos pouco usuais, você pode ter certeza de que ele quase nunca vai tentar um check-raise blefando no river.
A natureza do bordo: Eu aprendi esse velho axioma nos tempos idos da minha juventude: se um jogador der raise contra você em um bordo com J-10-8-7, ele pode ter uma sequência ou estar simplesmente querendo representar um 9 e lhe fazer dar fold. Mas se um jogador faz isso em um bordo com J-8-5-2, é quase certo que ele tenha um monstro. Não há nada que ele possa representar aqui, então ele não pode achar que está lhe assustando. Se ele não está tentando representar algo, ele deve ter algo.
Na mão que estamos discutindo, o bordo tem 9-5-2-3-7. Não tinha como ser mais seco. O oponente do check-raise não acredita que você seja capaz de achar esse bordo assustador a ponto de simplesmente desistir. Se ele não espera lhe amedrontar, deve estar esperando que você pague. Logo, sua mão de um par não é boa.
O fator curiosidade: Muitos calls no river diante de raises e check-raises repentinos são feitos porque o caller quer simplesmente saber que mão o está derrotando. Ele realmente não espera ganhar, mas quer saber o que o derrota, em parte para ter uma boa razão para se lamentar e reclamar depois da sessão. Eu não estou dizendo que isso se aplica ao meu aluno, mas que acontece muito nos jogos live de que participo.
Conclusão: Outro axioma do poker nos diz para descobrir o que nosso oponente espera que façamos, para então fazer o oposto. Se ele estiver claramente dando um check-raise na esperança de que iremos dar call (e perder), devemos dar fold. Isso é difícil de se fazer, particularmente quando sua mão começou tão promissora, mas uma bet é uma bet, e economizar uma é o mesmo que ganhar uma.
Obviamente, você não deve ter a reputação de quem dá grandes folds, senão vai encorajar seus oponentes mais atentos e audazes a dar raises blefando e check-raises. Mas uma das melhores coisas quando se descarta uma mão é que seu oponente não saberá o que você tinha – isto é, a não ser que você diga, e a tentação de fazer isso parece ser irresistível para alguns jogadores.
Se você aplicar a lógica do poker a todo showdown e evitar tornar públicos seus folds difíceis, pode economizar algum dinheiro quando fizer sentido e pagar quando realmente achar que está diante do preço justo para ganhar. ♠
Barry Tanenbaum dá aulas de poker personalizadas de acordo com a necessidade de cada aluno. Seu website é www.barrytanenbaum.com, e você pode contatá-lo em pokerbear@cox.net.