EDIÇÃO 41 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Mãos Problemáticas

Evitando os perigos das “trouble hands”


Ed Miller

Em uma sessão de no-limit hold’em, você provavelmente vai se encontrar correndo perigo pelo menos uma vez. Perigo significa que um oponente fez uma aposta alta ou aumentou muito e você não sabe o que fazer. Sua mão não é boa o bastante para enfrentá-lo, nem ruim o suficiente para garantir um fold fácil.

Correr perigo é ruim para seus lucros. Tipicamente, são situações de perda. Se você der call, perde com mais frequência do que ganha. E se der fold, obviamente perde o pote.

Correr perigo é inevitável, mas muitos jogadores se colocam muito em situação de perigo ao apostar ou pagar com base em noções errôneas. Darei alguns exemplos de como os jogadores entram em situações de risco, e discutirei o que eles poderiam ter feito para evitar isso (se é que era possível). Os exemplos, se não houver informação em contrário, são de mesas $1-$2 com stacks de $200.

Mão nº 1
Um jogador de posição inicial aumenta para $10. Um jogador dá call a três posições do button com Q J. O button aumenta para $30. Os blinds dão fold e ambos os jogadores dão call.

O flop vem Q 9 3. Ambos os callers dão check até o button, que aposta $60 no pote de $93. O primeiro jogador dá fold e o que segura Q-J dá call.

O turn é o 4. O primeiro jogador dá check e o segundo empurra all-in. Trata-se de uma aposta de $110 em um pote de $213.

Esse é um exemplo clássico de um erro cometido no começo da mão que traz perigo. De fato, Q-J e mãos similares, fracas de cartas altas, são geralmente conhecidas como “trouble hands”, por todos os perigos pós-flop em que elas podem lhe colocar. No turn, o jogador com Q-J tem odds de mais ou menos 3-para-1 no call, mas é bem provável que ele esteja enfrentando alguém que segure A-A ou K-K. Mesmo com cinco outs contra um overpair, o fold é claro.

Mas o verdadeiro erro ocorreu pré-flop. Pagar um raise de posição inicial a três posições do button com Q-J offsuit é questionável. Eu consigo imaginar algumas poucas situações em que talvez eu desse call, mas na maioria das vezes, eu daria fold. Quando o button volta reraise, contudo, pagar novamente é um erro custoso. Pode parecer tentador pagar $20 para ganhar o que agora é um pote de $73, mas o reraiser provavelmente segura uma mão bastante forte, e a aposta do flop provavelmente será grande. As odds para o draw não estão presentes.

Como regra geral, pagar reraises pré-flop com mãos fracas ou marginais é chamar o perigo. Raises pré-flop geralmente são sérios. Apenas dê fold.

Mão nº 2
Um jogador abre raise de $8 a cinco posições do button segurando K Q. Um jogador de posição intermediária e o cutoff pagam, assim como o big blind. O flop vem K 10 8. O big blind dá check e o jogador com K-Q aposta $30 no pote de $33. Os dois jogadores seguintes dão call e o big blind dá fold.

O turn é o 9. O jogador com K-Q aposta $90 no pote de $123. Apenas o cutoff paga.

O river é o 4. O primeiro jogador dá check e o cutoff vai all-in de $72. Excluindo a aposta, há $303 no pote.
Eis outra situação de perigo. O pote é bem grande comparado à aposta, mas K-Q é uma mão fraca nessa situação. Embora à primeira vista alguém possa dizer: “Preciso dar call com top pair”, para que isso valha a pena, é preciso que o jogador do cutoff aposte com uma mão K-J ou pior. A grande maioria dos jogadores daria check-check com K-J ou qualquer outra mão, em vez de colocar seus últimos $72 no river.

Um blefe também parece improvável, tendo em vista a ação. Essa é definitivamente uma situação de perda para o jogador com K-Q. O problema dessa mão foi a aposta do turn. Ela foi agressiva demais para a força da mão.

Pré-flop, abrir raise com K-Q offsuit é bastante razoável. Às vezes, essa pode ser uma mão problemática, e eu geralmente daria fold diante de um reraise pré-flop. Mas ela é boa o bastante para dar open-raise.

No flop, ela é relativamente forte. Muitas mãos mais fracas pagariam a aposta de $30, inclusive reis mais fracos, draws e até mãos como 10-9 ou A-8.

No turn, contudo, a situação muda. Primeiro, a carta do turn se conecta com um número de mãos que teriam dado call no flop; 10-9, por exemplo, agora acertou dois pares. Além do mais, a aposta alta de $90 no turn fará com que mãos mais fracas deem fold. É querer demais esperar que alguém com K-3 pague $90 no turn. Sem dúvida, isso acontece ocasionalmente, mas em média, se a aposta do turn for paga ou aumentada, não se pode esperar que K-Q seja a melhor mão.

Em geral, você não deve apostar com mãos prontas nas ocasiões em que, basicamente, só tomará call de mãos melhores. Obviamente, há exceções, mas, nesse exemplo, a aposta do turn exagerou a força da mão. Um check no turn não evitaria totalmente o perigo, mas é a melhor jogada.

Mão nº 3
Nessa, os stacks são de $500 e não de $200. Um jogador loose abre raise de $10 e quatro pessoas dão call. Você dá call do button com 4-4. Ambos os blinds dão call. Oito jogadores veem o flop; o pote é de $80.

O flop vem Q 10 4. A mesa roda em check até você, que aposta $60. Dois jogadores pagam.
O turn é o J. Eles dão check até você, que aposta $200 no pote de $260. Um jogador paga.
O river é o K. Seu oponente vai all-in com $230.

Isso indica perigo com certeza. Você flopou uma trinca em um grande pote, mas agora, quatro cartas para um straight e três para um backdoor flush estão no bordo. O custo para você é de $230 e o pote é enorme, $660, excluindo essa aposta. Mas seu oponente só precisa de um ás para lhe derrotar.

Contra a maioria dos jogadores, você deve dar fold nessa situação. Mais importante para essa coluna é que esse perigo era inevitável. O call pré-flop, a aposta do flop e a do turn foram boas jogadas. Você apenas foi vítima de uma carta ruim no turn e de uma terrível no river. Acontece.

Considerações Finais
Nem todo perigo é evitável, mas muitos o são. Você pode criar perigo para si mesmo se comprometendo demais com mãos fracas ou marginais. Você pode fazer isso pagando muitos raises pré-flop ou às vezes jogando de maneira muito agressiva no flop ou no turn com uma mão pronta vulnerável.

Se você se encontrar em uma situação terrível como a dos exemplos acima, em que você enfrenta uma grande aposta em um pote ainda maior e sua mão não é boa o bastante, revise todas as suas jogadas que lhe conduziram ao perigo. Faltou sorte e bateu uma carta muito ruim, como no terceiro exemplo? Ou você poderia ter feito algo melhor, como no primeiro e segundo exemplos, e evitado o perigo? Responder essas perguntas lhe tornará um jogador melhor.

Ed Miller é uma das maiores autoridades mundiais em teoria do poker. Ele é instrutor do stoxpoker.com, e também escreve no seu próprio site, notedpokerauthority.com.





NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×