O Brazilian Series of Poker (BSOP) fechou a temporada 2010 em grande estilo. Depois de uma temporada recheada de novidades, como a transmissão de todas as etapas pelo canal ESPN, e também de muitos recordes, com os maiores fields e premiações da história da competição, o principal circuito de poker do Brasil chegou à Vila dos Ipês, em São Paulo, para a etapa de encerramento, ocorrida entre os dias 11 e 15 de novembro.
Para fechar a temporada, o Full Tilt Poker, patrocinador do evento, e a Nutzz, empresa que organiza o torneio, prepararam uma grande festa. Com lotação esgotada – nada menos do que mil jogadores se dispuseram a pagar os R$ 1.200,00 de buy-in –, a etapa de encerramento do BSOP 2010 tornou-se o maior torneio de poker já realizado na América Latina.
E teve muito mais: a festa contou com a participação de todos os brasileiros patrocinados pelo Full Tilt – Felipe “Mojave”, Christian Kruel, Caio Pimenta, Leandro “Brasa”, Raul Oliveira e Léo Bello – além de quatro convidados mais do que especiais: Mike Matusow, Gus Hansen, Luis Velador e Tristan “Cre8ve” Wade.
Todos eles participaram do dia 1A, sexta-feira, mas apenas Mojave, Raul, Brasa e Matusow sobreviveram. O norte-americano foi um dos destaques, garantindo a vaga com o nono maior stack entre os 95 classificados. “Estou gostando muito do torneio. Tem muitos jogadores e a organização está ótima”, disse “The Mouth”.
Gus Hansen, visivelmente cansado desde o começo da disputa, viveu altos e baixos. Logo no começo do dia, viu seu stack inicial cair de 20 mil fichas para menos de 4 mil. Pouco depois, no entanto, ele era o chip leader do torneio e foi para a mesa da televisão, mas não resistiu aos constantes ataques adversários e acabou sendo eliminado.
No dia 1B do evento principal, o field novamente teve 500 jogadores. Jogadores como Thiago “The Decano” Nishijima, Caio Brites, Cláudio Baptista, Marcos Sketch e Caio Pessagno não se deram bem e acabaram eliminados. Dos 109 sobreviventes, destaque para Vini Marques, quinto colocado no BSOP de Salvador, Eric Mifune, primeiro brasileiro a ficar ITM no Main Event da WSOP, e Sérgio Brun.
O dia 2 foi disputado no domingo. Grandes nomes acabaram eliminados – alguns, claro, em meio aos 99 que acabaram dentro da faixa de premiação. Dentre eles, Mike Matusow, que começara o dia com o 15º maior stack e terminou em 49º (R$ 3.100,00), Felipe “Mojave” Ramos, Leandro “Brasa” Pimentel e Raul Oliveira.
Também caíram durante o dia 2 Leandro “AmarulaBR”, Gabriel Otranto e Hugo Adametes (31º colocado – R$ 4.300,00). Após 14 horas de batalha, os 204 jogadores estavam reduzidos a apenas onze.
Na tarde da segunda-feira, dois jogadores precisavam ser eliminados para que se formasse a mesa final, o que não demorou a acontecer. Logo nas primeiras mãos, Léo Brescia, que tinha o menor stack entre todos ainda na disputa, foi all-in com A-5 off e recebeu call de Betodalu, que tinha K
♦ T
♦. No flop, ambos acertaram seus maiores pares, mas um dez no river selou a eliminação de Léo.
Pouco depois, Vini Marques perdeu um coin flip para José Cláudio quando seu par de setes não segurou o A-8 adversário. Na sequência, ele tentou ganhar um pote pré-flop com 6
♦ 8
♦. André Doblas pensou bastante e acabou dando call com 9-9. A mesa não ajudou e Vini caiu na bolha da mesa final, que ficou assim:
1. Roberto “Betodalu” Correa – São Paulo (SP) – 3.620.000 fichas
2. Leandro Bran – São Bernardo do Campo (SP) – 3.195.000 fichas
3. Andre Doblas – Rio de Janeiro (RJ) – 2.835.000 fichas
4. Nilo Del Piccolo – Sâo Paulo (SP) – 2.655.000 fichas
5. Luiz Guilherme – Vitória (ES) – 1.940.000 fichas
6. Jose Claudio Lacerda – São Paulo (SP) – 1.830.000 fichas
7. Mario Borges – Valinhos (SP) – 1.830.000 fichas
8. Celso Vasconcelos – Curitiba (PR) – 1.165.000 fichas
9. Fabio Davini – Ribeirão Preto (SP) – 930.000 fichas
MESA FINAL
A mesa final começou em ritmo acelerado, e o primeiro eliminado foi logo conhecido: Fábio Davini, de Ribeirão Preto. Pouco depois, foi a vez de o curitibano Celso Vasconcelos cair. O terceiro a deixar a mesa final foi Leandro Bran, que teve um ótimo início, mas não resistiu após ser “fatiado” em duas mãos gigantes. Na primeira, seu flush não foi páreo para o full house de Nilo Del Piccolo; na segunda, ele conseguiu a sequência, mas viu outro full house e acabou eliminado em sétimo lugar.
O sexto colocado, José Cláudio Lacerda, caiu em um all-in pré-flop. Ele mostrou Q
♦ J
♦, que não conseguiu derrotar o A-8 de André Doblas. Quando restavam apenas cinco jogadores, Betodalu abriu raise do button, tomou reraise de Mario Borges do small e Nilo Del Piccolo anunciou all-in do big blind. Apenas Mario deu call, com J-J. Nilo mostrou A
♣ K
♣, mas as cartas comunitárias não o ajudaram e ele acabou eliminado, garantindo um prêmio de R$ 52.500,00.
A quarta colocação ficou com Luiz Guilherme. Ele voltou all-in no raise pré-flop de Mario Borges e recebeu call. Quando viu o A-A do adversário, percebeu que seu K
♥ 7
♥ não seria o bastante para mantê-lo no jogo. E foi o que aconteceu.
Restando apenas três jogadores, a disputa esfriou. Após mais de três horas, Mário Borges foi all-in antes do flop e tomou call de Betodalu. Na disputa entre seu K
♠ T
♠ e o A-6 do adversário, Mário se deu mal e acabou eliminado, mas deixou o BSOP São Paulo em um honroso terceiro lugar e mais R$ 93.000,00 no bolso.
Após alguns minutos de intervalo, o heads-up começou com Betodalu e André Doblas quase empatados em fichas e em ritmo acelerado – isso já às 3h da manhã da terça-feira 16 de novembro. Depois de verem muitos flops e fazerem as fichas ir e vir, veio a mão decisiva.
Com stack reduzido, Betodalu foi all-in pré-flop. André deu insta-call com A-J e um Valete no river derrotou o T-6 adversário. André correu para o abraço, ganhou R$ 180 mil – os finalistas fizeram um acordo de divisão do prêmio – e se sagrou Campeão Brasileiro de 2010, mesmo sem ter sido premiado em nenhuma outra etapa da competição. O ranking do BSOP leva em consideração apenas as premiações de cada etapa, portanto, como em São Paulo o field foi muito maior do que em outros lugares, a premiação também bateu recorde. Com a vitória, o carioca ficou na primeira colocação.
“Sinceramente, não me sinto campeão brasileiro. Mas é o regulamento. A ficha ainda não caiu, mas daqui a pouco isso vai acontecer. Amanhã eu vou acordar e pensar nisso: sou Campeão Brasileiro, venci o maior torneio da América Latina, um field de mil jogadores! Não sei nem o que falar. Estou muito feliz. Parece sonho”, comemorou André.
O ranking confuso, no entanto, não diminiu a grandiosidade do evento, sem dúvida um marco na história do poker brasileiro. Além do field recorde, da alta premiação, dos jogadores de alto nível e da excelente organização, uma chance para mostrar que o país pode, sim, estar entre os principais centros do poker no mundo.
Caio Pimenta vence torneio “Invitational”
Pouco antes do início do dia 1B do torneio principal, a organização do BSOP promoveu o torneio “Invitational”. No field, estavam todos os brasileiros que fazem parte do time do Full Tilt, além de Mike Matusow, Gus Hansen, Huck Seed, Luis Velador, o presidente da CBTH Igor Federal, quatro jogadores classificados em satélites online e mais três convidados.
Os 18 jogadores foram apresentados individualmente e se dividiram em duas mesas. O clima descontraído deu o tom do evento, de caráter beneficente, e que prometia um carro 0km para o campeão.
Depois de muita brincadeira, “falinhas”de todos os tipos e para todos os lados, o mineiro Caio Pimenta, que briga por mais um prêmio de Jogador do Ano da CardPlayer Brasil, foi o vencedor.
Hansen autografa livro e aprova BSOP
No domingo, terceiro dia do evento, antes do reinício do torneio principal, Gus Hansen promoveu uma sessão de autógrafos de seu livro “Todas as Mãos Reveladas”, lançado recentemente em português pela Raise Editora. “Tenho certeza de que o livro vai ajudar bastante gente, pois mostra que, para jogar poker de alto nivel, você precisa se ajustar às situações. Agora em 2010, estou jogando de maneira diferente da que jogava quando escrevi o livro. Hoje, sou o ‘tight Gus’”, disse o jogador, famoso pelo seu estilo agressivo nas mesas de poker high-stakes. “Todo mundo pensa que eu sempre tenho 7-2. Acham que eu sou louco”, brincou, sobre as consequências que o livro causou na sua vida profissional.
Sobre o torneio, “O Grande Dinamarquês” se mostrou surpreso e satisfeito. “A estrutura é muito boa, o torneio tem um staff muito eficiente, dealers muito bons. Isso mostra que o poker não é tão embrionário no Brasil. Claro que, para mim, seria muito melhor um torneio com um buy-in mais caro, que gerasse um prize pool maior, mas é evidente que vocês estão no caminho certo. Garanto que em breve vocês poderão acompanhar torneios grandes por aqui. No ano que vem, devo voltar”, garantiu.
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