No meu penúltimo artigo, conversamos sobre a relevância e a complexidade de uma ação muito comum e importante no poker: o fold. Agora, nosso papo é sobre uma ação igualmente relevante e complexa: apostar. Então, por que dar bet? Com certeza, essa é uma pergunta que todos deveriam fazer antes de executar essa ação.
Apostar blefando?
Obviamente, se você está apostando como blefe, quer dizer que você não quer tomar call. Assim, é preciso analisar se o nosso oponente é capaz de dar fold em determinadas situações. Para tanto, temos que fazer uma avaliação se ele é daqueles que dão call em qualquer aposta com quaisquer duas cartas ou se ele é do tipo que larga se não tiver uma mão no mínimo razoável.
Se nosso oponente estiver no primeiro grupo, dos que não costumam dar fold contra nada, devemos evitar apostar e selecionar mãos com valor. Mas se ele for do tipo que continua na disputa apenas com mãos razoáveis, devemos sempre fazer continuation-bets em qualquer oportunidade, dando crédito a ele caso siga em frente.
Agora, se estivermos diante de um adversário mais esperto, inevitavelmente vamos precisar analisar o histórico dele para saber do que esse vilão é capaz. Assim, precisamos verificar aspectos como:
– a última mão jogada entre vocês (para fins de histórico de mãos e talvez metagame);
– a posição em que ambos estão na mesa (para saber a maior parte do range com que ele joga naquela posição);
– as cartas que batem em cada street, na tentativa de afunilar cada vez mais o range dele (para saber se ele é capaz de dar fold diante de uma próxima aposta, caso você coloque mais pressão);
– as texturas do bordo (para saber em que bordo é melhor evitar uma aposta como, por exemplo, K-T-7 com flush draw, em que você provavelmente receberá muitos floats por conta da possibilidade de ele ter flush draw, gutshots, pares médios e top pair).
Imagine a seguinte hipótese: oponente bastante tight-aggressive dá call pré-flop. Você faz continuation-bet em um bordo com muitos draws. Ele paga.
Essa é uma situação interessante, em que os jogadores quase sempre terão um pocket pair entre baixo e médio, uma vez que esse tipo de oponente tem o hábito de dar 3-bet ou fold com mãos como suited connectors, A9, AT, AJ, KQ ou KJ. Dessa forma, é possível pressioná-los muitas vezes apostando em todas as streets, pois, se ele tivesse um draw forte ou uma trinca, provavelmente daria raise na sua c-bet logo no flop. Se aparecer um draw bem nítido no turn, você poderá colocar pressão até o river também, já que oponentes com esse perfil dificilmente farão slowplay com mãos fortes em bordos assim.
Uma boa dica é não se esquecer de que é muito importante aproveitar ao máximo a possibilidade, mesmo blefando, de completar uma mão caso o oponente dê call. Assim, evite dar blefes puros e escolha situações em que você ainda tenha alguns outs, sejam duas overcards, um gutshot, um backdoor flush, e por aí vai. Isso vai fazer com que sua rentabilidade aumente de maneira significativa.
Apostar pelo valor?
Quando se aposta pelo valor, a primeira coisa que vem à cabeça é que devemos extrair o máximo que nossa mão permitir. Mas o que isso quer dizer? Quer dizer que, além de termos em mente qual deve ser o possível range do oponente, precisamos nos perguntar “com o que” ele pagará nossas apostas, “do que” estaremos ganhando e o quanto apostar. Caso você mensure errado qualquer uma dessas variáveis, estará perdendo valor em sua mão, deixando de extrair o máximo que ela permite.
Vamos dar uma olhada em três situações em que temos maneiras diferentes de se adaptar contra três tipos de jogadores. Para os fins desses exemplos, vamos considerar os turns e rivers como “blanks” (aquelas cartas praticamente não modificam o bordo). A mesa é de nl-100 short-handed, e nossa mão é Q♥J♦ em um bordo com Q♣7♦2♥.
Situação 1 – Contra um jogador “calling station” bem fraco
Aqui, na maioria das vezes, você deve estar propenso a apostar em todas as streets e, como o jogador em questão é fraco e sequer notará o tamanho das suas apostas, é possível extrair bastante apostando um valor próximo do pote, otimizando a jogada.
Dica: contra jogadores fracos, é interessante mudar o tamanho da aposta a seu favor – se estiver blefando, aposte menos; se tiver uma mão de valor, aposte mais.
Situação 2 – Contra um jogador regular que só faça o básico
Nesse caso, suponha que você esteja no cutoff e ele no button. Aposte no flop na maior parte do tempo, pois você vai receber muitos calls de mãos piores, como middle pair, top pair com kicker pior, pocket pair médio e float. No turn, há a opção de apostar (algo que você deve fazer na maioria das vezes) ou dar check-call, se o oponente for do tipo que dá muitos floats. No river, se você tiver apostado no turn, vá de check-fold porque, quando o oponente aposta nessa street, ele representa no mínimo KQ, AQ ou trincas. Se você tiver dado check-call no turn, será preciso avaliar se a melhor opção é dar check-call ou check-fold.
Dica: contra jogadores regulares, padronize mais suas apostas tanto apostando por valor quanto blefando, para não dar nenhuma informação de que você está extraindo valor.
Situação 3 – Contra um regular spewy agressivo
Agora, você está fora de posição e dá call do big blind contra o button, um jogador agressivo que costuma “vomitar” fichas. Na maioria das vezes, por saber que ele costuma apostar em todas as streets, alimente a natureza dele apenas dando check. Então espere que ele mesmo se atole com mãos piores do que a sua, primeiro porque o range do button costuma ser enorme, depois porque ele vai apostar tanto blefando quanto tirando valor de middle pairs e top pairs com kickers piores.
Dica: antes de dar call no river, é muito importante estar atento ao histórico recente desse oponente e ao tempo de ação. Isso tornará esse call mais rentável.
É isso, galera, espero que tenham gostado. Espero ver vocês no meu Twitter @dexx_rj. Até o próximo artigo! ♠