EDIÇÃO 4 » COLUNA INTERNACIONAL

Slowplaying

Cuidado para não ficar lento demais


Todd Brunson

Todos os bons jogadores fazem slowplaying de tempos em tempos, e você deveria fazer o mesmo. Ao optar por jogar uma mão dessa forma, surge uma questão importante: Como saber se está lento demais? Se você jogar muito rápido, pode assustar sua presa; sendo muito lento, pode perder apostas, deixando que ele escape muito fácil. Ou ainda pode ocorrer o pior pesadelo do slowplay: conceder muitas cartas de graça ou baratas, e ver sua excelente mão ser derrotada! Comecemos do princípio: “É preciso jogar assim?” Eu geralmente detesto dar respostas definitivas no poker, mas, dessa vez, a resposta é sim – absoluta e positivamente. Se você jamais faz slowplay, seu oponente pode blefar contra você ou apostar pelo valor sem medo de um check-raise. Se você faz isso apenas em raras ocasiões, deve aumentar essa freqüência para manter seu oponente em xeque. Ele deve pensar que, quando você pede mesa, pode na verdade ter uma excelente mão e está armando para ele. Ao instalar esse medo em seus oponentes, você consegue jogar um poker mais “direto”, se achar mais confortável. Mas até conseguir isso, jogará na sintonia deles, não na sua própria. Eu sei que, quando jogo, a maioria de meus oponentes pensa duas vezes antes de apostar com o top pair, e não vêm com kicker ou com o segundo melhor par para cima de mim, em nenhum instante da mão. E se eles não tiverem medo de mim? Bem, eu terei uma surpresa para eles num futuro próximo. O slowplay também tem uma vantagem que muitos não percebem: ao jogar dessa maneira, você pode às vezes conseguir escapar de uma armadilha. Seu oponente pode já ter vencido, ou estar com algum draw tão bom que não largará esse osso de jeito nenhum, mesmo se você acelerar as coisas. A mão seguinte, que joguei recentemente, é um ótimo exemplo: eu estava em uma partida de no-limit hold’em balanceada – nem muito tight nem muito loose. Quando vários jogadores entraram de limp antes de mim, e eu fiz o mesmo com um par de cincos. Para minha alegria, vários outros entraram de limp depois de eu ter falado e o big blind pediu mesa. O flop veio 5-4-4, naipes diferentes... bingo! A mesa rodou em check até minha vez, e eu agora tinha de decidir entre fazer um slowplay ou não. Existiam vários fatores a considerar, como o número de oponentes que viram o flop. Como eu disse, havia vários limpers – sete no total. Esse fator isolado era suficiente para me fazer querer apostar logo em vez de esperar. Em primeiro lugar, porque com tantos jogadores na disputa pelo pote, eram maiores as chances de que alguém conseguisse algo bom. Segundo, eu tenho uma boa mão, mas ainda vulnerável a pares maiores que acertassem um full house maior. E, finalmente, tenho muito dinheiro na mesa em comparação com o tamanho dos blinds e em relação à mesa como um todo. Isso amplifica os dois primeiros pontos. Eu posso ganhar ou perder um pote muito grande aqui (outro fator relevante seria a agressividade dos jogadores na mesa, mas como eu tinha acabado de chegar e não conhecia nenhum deles, precisava jogar instintivamente). Dito isso, apostei cerca de três quartos do pote e só quem pagou foi uma senhorita com um stack considerável. Se você não conhece seu oponente, esse é o momento em que se deve analisá-lo rapidamente e descobrir que tipo de adversário ele é e o que provavelmente fará em seguida. Eu posso ver, pela maneira como ela brinca com suas fichas, que ela não é “marinheira de primeira viagem”. Além disso, tem um olhar agressivo e faminto — como o de uma stripper no final do mês que não guardou nenhum dinheiro para pagar as contas que vencem amanhã (em outras palavras, todas elas). Ela foi a única que chamou a aposta, e o turn trouxe um 7 de um outro naipe. Agora eu tinha outra decisão a tomar: pedir mesa e possivelmente dar a ela uma carta grátis, ou apostar. Não havia muitas cartas que pudessem prejudicar minha mão, então não tinha como um pedido de mesa fazer mal aqui. Mas eu sinto alguma coisa nessa moça. Ela parece ser o que eu costumo chamar de “jogador espelho”. Todos nós já jogamos contra esse tipo de adversário: você pede mesa, eu peço mesa (apesar de ter uma excelente mão). Você aumenta, eu aumento (apesar de não ter nada). Eu temo que, pedindo mesa com dois pares, ela faça o mesmo com uma trinca de quatros ou mesmo uma quadra — por outro lado, se eu apostar, ela pode voltar um raise pesado (espelhando minha jogada). Eu atiro uma aposta do tamanho do pote e, conforme esperava, ela retribui com um grande aumento. Uau, o que eu devo fazer agora? Bem, eu tento enquadrar rapidamente as possíveis mãos dela. Um full house com uma trinca de setes ou uma quadra de quatros me derrotariam, mas são pouco prováveis, e não há nada que eu possa fazer se esse for o caso, mas apenas chamar pode me economizar alguns dólares. Se ela tivesse um full house com uma trinca de quatros ou uma seqüência pagaria meu reraise e provavelmente me daria o valor máximo. Mas e um overpair, uma trinca de quatros ou uma mão como 7-6 (top pair com duas pontas para uma seqüência)? Eu não quero assustar uma mão assim, e seria grande a chance de ela desistir se eu desse um reraise. E não podemos nos esquecer do blefe descarado. Eu decido apenas pagar e dar a ela outra carta. Talvez ela consiga sua seqüência ou seu full house com uma trinca de quatros. Bem, o river trouxe uma pequena surpresa para mim, outro 7, virando dois pares no bordo. Agora, se ela realmente tinha 7-6 ou um full house com uma trinca de quatros e um par de setes, acabou de fazer um full com uma trinca de setes, me derrotando. Mesmo assim, ainda acho que tenho boas chances de estar com a melhor mão. Se não for assim, talvez possa me livrar de um bet forte com uma aposta defensiva. É isso que eu faço, colocando cerca de metade do pote. A senhorita não perdeu tempo, empurrando todas as suas fichas até o centro da mesa, com um sorriso meio contido na face. Depois de alguns momentos de hesitação, eu descartei de forma relutante o full house que tinha flopado. Você provavelmente deve estar pensando: “Todd, seu idiota cabeça oca. Você exagerou no slowplay!” E esse bem que poderia ter sido o caso aqui. Felizmente, para o bem de meu ego, minha oponente, sendo a lady que era, disse: “Essa carta não me ajudou”, e mostrou seu four de quatros! Essa foi uma das raras ocasiões em que ambos estávamos fazendo slowplay com mãos monstruosas. Se ela tivesse aumentado no flop, eu jamais teria descartado algo tão grande como um full house, e ela teria me destruído, com certeza. Portanto, quando estiver jogando assim, veja se não está lento demais. Como eu disse antes, no poker, raramente existem respostas definitivas. Analise todas as informações que tiver e pense a respeito dos pontos que levantei aqui. Talvez você também escape de uma armadilha!




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