Realmente é incrível a força que a TV exerce sobre nossas vidas. Com o Hold’em, é claro, não poderia ser diferente. Além de ter difundido a modalidade de forma avassaladora, as transmissões dos torneios e dos cash games têm ditado moda nos salões e sites atuais. E, já que eu comecei minha caminhada antes que o poker fosse transmitido pela televisão, pude acompanhar cada variação que o jogo sofreu com os novos e bem sucedidos programas de TV.
Há sete anos, quando comecei a jogar Hold’em, a primeira coisa que aprendi foi que o segredo era paciência ao extremo: espere pela hora certa e só jogue mãos muito fortes; e mais, não hesite em dar fold durante horas. Não vou negar que essa até hoje é uma estratégia bastante utilizada e, no cash game, bem sucedida na maioria dos casos. Porém, essa não é mais uma estratégia utilizada pelos grandes jogadores da atualidade e não costuma funcionar em grandes torneios. Ao meu ver, isso se deve a dois jogadores: Gus Hansen e Daniel Negreanu.
Quando viajei pela primeira vez para Las Vegas, em 2003, os torneios de que participei eram extremamente tight, quase não acontecia reraise (nem raise sem jogos fortes) e o que se via era uma grande disputa de paciência. É claro que já devia ter uma turma se aproveitando disso, mas, no geral, o jogo ficava amarrado na espera. Acontece que, em meados de 2004, se bem me recordo, foram transmitidos torneios com a participação do Gus Hansen na mesa final e todos viram um baile sem fim: 9-2, 10-4, J-3s e muitos outros jogos que 99% dos jogadores nem sequer olhavam, nas mãos daquele dinamarquês se tornavam armas fortes de aposta. E assim se deu a primeira revolução do hold’em.
Alguns jogadores passaram a dar muitos raises pré-flop e, como toda ação gera uma reação, os reraises pré-flop começaram a virar jogadas corriqueiras (depois dessa revolução, os torneios duros passaram a ter não apenas um raise por mão, mas sim um raise e um reraise). Ainda assim, o call era muito pouco visto e, na maioria das jogadas em que alguém levava um reraise, a mão terminava ali. E foi então que surgiu Daniel Negreanu desfilando um grande leque de calls – que até então eram vistos como jogadas perdedoras – durante as transmissões em que aparecia. Além de limps, Negreanu começou a dar call nos raises com mãos medianas, e a pagar os reraises com grande tranqüilidade: daí veio a 2ª revolução do hold’em.
Um jogo que durante muito tempo fora baseado em estratégias de pré-flop, passava a ter muita ação pós-flop, o que favorecia (e muito) os bons jogadores, claro. Com isso, acredito que o Hold’em tenha se tornado um jogo muito mais bonito de se ver e prazeroso de se jogar, já que as jogadas que eram definidas em um único raise, passavam agora a ter raise, reraise e call, dando muito mais brilho à variante.
E não foi só o pré-flop que sofreu essa influência. No pós-flop, o call – que sempre foi duramente criticado – passou a ser uma jogada comum, mesmo quando o jogador tem uma mão forte como um AK com um A na mesa. Hoje em dia, o famoso check-raise divide seu espaço com o check-call: jogada que, antes de o Negreanu realizá-la na TV, quase não era vista (a não ser por jogadores ruins, que a utilizavam de forma errada).
Em função desta “nova ordem do Hold’em” o jogo se tornou ainda mais difícil, pois as leituras ficaram bem mais complicadas e os blefes ganharam força. O que se vê hoje numa mesa de um torneio forte é uma grande mixagem de estilos entre os jogadores. As antigas leis do Hold’em, como, “no UTG, só jogue mãos muito fortes”, passaram a ser armas para se roubar os blinds quando os mesmos estão caros. Atualmente, é possível ver mãos como 7-6s, J-10off sendo jogadas dessa posição.
O mais legal disso tudo, é que o Hold’em se tornou um jogo muito mais focado na habilidade, se distanciando cada vez mais da dúvida sobre ser ou não um jogo de azar. O que já se tratava de um jogo de habilidade, está se tornando um jogo de extrema habilidade, forçando a todos que o praticam a estudar e se preparar bastante antes de sentar numa mesa.
Para finalizar, queria lembrar que essas mudanças nos padrões do jogo que mencionei são algumas das muitas inovações que ocorreram nesses anos, e que, com certeza, não serão as últimas. Por isso, mantenha sempre a mente aberta a todos os estilos de jogo e lembre-se de que, para cada mesa em que se sentar, existirá a melhor estratégia a ser utilizada. Portanto, estilo de jogo é como taco de golfe: para cada situação, existe o ideal.