Você já ouviu falar em “metagame”? Não? Então é melhor descobrir logo do que se trata, pois, numa situação em que o nível de conhecimento técnico do jogo for similar entre os jogadores, este será o fator preponderante, e certamente fará a diferença entre o lucro e a perda, a vitória e a derrota.
De forma genérica, metagame pode ser definido como qualquer estratégia, ação ou método utilizado em um jogo, que vai além do escopo das regras pré-estabelecidas. Trata-se dos fatores externos que influenciam a disputa.
No poker, ele nada mais é do que o componente psicológico e comportamental do jogo. Quanto mais observador e concentrado for o jogador, maiores serão as possibilidades de ele decifrar corretamente o comportamento dos adversários e, com isso, ganhar o máximo de fichas possível. Porém, para utilizar esse fator de maneira eficiente, é necessário um mínimo de tempo na mesa (que varia de jogador para jogador) de modo a ser possível traçar o perfil de cada oponente. Portanto, os torneios deep stack e as sessões de cash game permitem uma aplicação muito maior desses conhecimentos.
A essência do poker é induzir o adversário a erro. Um dos fatores que mais ajudam nesse ponto é criar uma imagem na mesa. Sólido ou agressivo? Tanto faz. O que importa realmente é que você tenha plena consciência de qual imagem os adversários têm de você, de modo a poder utilizá-la a seu favor quando for necessário. Por exemplo, se você tiver uma imagem sólida, seus blefes terão muito mais chances de não serem pagos; caso esteja sendo encarado como agressivo, as chances de puxar um grande pote quando o bordo lhe ajudar serão bem maiores.
No poker, invariavelmente nos encontramos em situações nas quais as decisões se tornam dificílimas. Algumas delas podem ser resolvidas levando em conta apenas questões matemáticas e estatísticas, mas, muitas vezes, elas não são o bastante. É nessa hora que o metagame se faz mais necessário do que nunca. Por exemplo, como pagar um all-in com o terceiro par da mesa sem ter uma leitura precisa do adversário? Se você levar em conta apenas as cartas, com certeza deverá fugir, mas pode ser que algum acontecimento anterior lhe leve a pagar a aposta. O oponente pode estar tilado por causa de alguma mão anterior, pode estar embriagado e jogando de forma desleixada, ou até mesmo estar fazendo esse tipo de jogada com frequência nas mãos em que ele segura um draw que não bateu.
Você deve também estar preparado para contra-atacar oponentes que têm um bom metagame: redobre a atenção em suas próprias atitudes na mesa, a fim de que seus adversários não consigam ter uma leitura muito fácil de seu estilo e do modo como você está jogando. Em minha opinião, o mestre na utilização desse fator é o fenômeno do cash game Tom “durrrr” Dwan. Eu nunca vi ninguém trabalhar esse aspecto do jogo como ele. Dwan prepara a armadilha para os adversários de uma forma tão competente que alguns dos maiores nomes do poker mundial ficam apavorados quando estão à mesa com ele. Vale a pena dar uma olhada em algumas de suas jogadas no YouTube e no PokerTube.
O poker é hoje reconhecidamente um jogo da mente, tanto que, no início de 2010, foi aceito pela IMSA (sigla em inglês para Associação Internacional dos Esportes da Mente) como a quinta modalidade que a compõe; as outras são o xadrez, a dama, o bridge e o go (espécie de xadrez de origem chinesa). Esse reconhecimento tem muito a ver com a influência do metagame no resultado final de um jogo de poker, seja em torneios ou em cash games.
Jamais despreze a importância do metagame – a qualidade do seu jogo certamente irá melhorar bastante se você aprimorar esse conceito.