Em entrevista exclusiva à Card Player Brasil, direto de sua casa em Las Vegas (EUA), o paulista de São Bernardo do Campo – que viveu também em São Caetano do Sul e em Santo André – contou tudo sobre a nova empreitada, os planos para o futuro e também as histórias que o levaram ao posto de um dos principais nomes do poker nacional.
O novo integrante do time de profissionais do Full Tilt falou com exclusividade à CardPlayer Brasil. Confira.
Gabriel Rubinsteinn: Vamos voltar um pouco a fita. Como Felipe Ramos se transformou em Felipe Mojave, um dos maiores nomes do poker brasileiro?
Felipe Mojave: Minha história no poker começa em 2006, quando eu participava de um home game com amigos do trabalho, naquele esquema tradicional de “buy-in de dez reais”, mais na brincadeira. Depois passei a me interessar de verdade. Fui procurar como melhorar no jogo e descobri que tinha que estudar muito. Comecei a fazer isso e logo percebi que queria jogar pra valer. E fui para os meus primeiros torneios ao vivo, jogando Sit ’n Gos baratinhos numa extinta casa de poker de Tatuapé, em São Paulo. Jogava também torneios de fim de semana e circuitos menores, como o do ABC Paulista, e alguns satélites.
GR: Você não jogava online? Por quê? Como foi o planejamento nesse início de carreira?
FM: No começo, eu só jogava ao vivo. Sou da última geração que começou jogando poker live e não online. Só fui jogar na Internet quando decidi me dedicar ao jogo, levá-lo a sério mesmo. E foi tudo planejado. Comecei a jogar online porque queria participar de satélites, que seriam a única forma de alcançar torneios maiores. Deu certo. Consegui vaga pra um torneio grande no Ômega (casa de poker em São Bernardo do Campo), cheguei lá e fiz mesa final. Acabei em sexto num torneio que tinha vários grandes nomes do poker brasileiro naquele momento, como João Marcelo, Akkari e Salim. No mesmo ano, consegui vaga para o BSOP, onde também fui sexto colocado num field que tinha gente do calibre de Igor Federal, Leandro Brasa, entre outros. Como fiz tudo com muito cuidado, prestando atenção em cada passo, tive um começo meteórico. E sempre acreditei em mim. Quando consegui meus primeiros resultados importantes, uma situação me impulsionou. Vi jogadores experientes, os melhores brasileiros da época, dando entrevistas à mídia especializada em poker. Os jornalistas perguntavam quem eram os novos craques das mesas. Eles falavam “Tem o fulano, o beltrano, que estão muito bem. Mas tem um menino novo que joga muito, vai se dar bem, fiquem de olho nele”, e falavam de mim. Passei a me dedicar mais, porque vi que, se fizesse tudo direito, poderia ter futuro mesmo...
GR: E o contrato de patrocínio com o Best Poker veio provar isso...
FM: Exatamente. No final de 2007, meu currículo já tinha o título de uma etapa do BSOP, de um torneio de 100K Garantidos no Rio de Janeiro, a mesa final no Ômega... O Best Poker fez uma oferta e eu aceitei de cara. Larguei meu emprego no mercado financeiro (eu era gerente de relacionamento de um banco) e vi que poderia viver do poker. E deu certo: pouco depois de acertar meu primeiro patrocínio, fui jogar o EPT San Remo e acabei em 13º, o melhor resultado de um brasileiro em torneios europeus até então. Na sequência, joguei o EPT Monte Carlo e também acabei in the money. Foi aí que apareci no mundo do poker, e sites maiores já mostraram interesse em me patrocinar.
GR: E aí veio o Party Poker...
FM: Sim. Meu contrato com o Best Poker era de apenas um ano. Foi muito bom para mim, serei sempre grato a eles. Mas assinei com o Party Poker, que era maior, que me fez uma proposta mais interessante, com o lance de ser embaixador do site no Brasil e na América Latina.
GR: Você ficou mais de um ano no time do Party Poker até acertar com o Full Tilt. Essa mudança só aconteceu por causa dos seus últimos resultados, como as mesas finais no WSOPE e EPO?
FM: Primeiro, preciso esclarecer uma coisa: vi muitas pessoas falando que rescindi meu contrato com o Party Poker para acertar com o Full Tilt, mas não foi bem assim. Meu contrato tinha acabado e o Full Tilt já tinha mostrado interesse em me contratar há algum tempo. Essa negociação se arrastou, e eu só não acertei antes porque estava sob contrato. Então, esperei o contrato acabar. Quando isso aconteceu, o Full Tilt fez a proposta e para mim, de longe, era a melhor opção.
GR: Por quê? Muita gente pensou que você iria para o time de profissionais do PokerStars...
FM: O Full Tilt tem mais a minha cara. E me ofereceram um contrato diferenciado. Meu contrato com o Party Poker era aberto, e isso permitiu o assédio antecipado de outros sites, que sabiam quando o vínculo terminava. O Full Tilt quer evitar esse tipo de situações e, por isso, não posso entrar em detalhes sobre o acordo. Mas posso dizer que é diferenciado. Inclui atividades parecidas com as que eu tinha no Party Poker e muito mais: representar a marca, emprestar minha imagem para divulgação do site, participar de eventos, comentar programas de televisão etc. E, fora isso, posso dizer que devo jogar pelo Full Tilt por um bom tempo...
GR: Mas as vantagens de ser um “Red Pro” se limitam às atividades ligadas ao site?
FM: De jeito nenhum! Tem muito mais coisas. Uma das mais importantes é sobre o nível dos jogadores patrocinados. No Party Poker, todos os jogadores patrocinados estavam, na melhor das hipóteses, no mesmo nível de jogo que eu. No Full Tilt, não. Tem jogadores do mais alto nível no time deles. Isso me mostrou que eles acreditam que um dia eu posso chegar lá. Acreditam muito em mim. E vou batalhar muito para mostrar que eles tinham razão.
GR: Considerando seus resultados e o acerto com o Full Tilt, dá para dizer que esse é o melhor ano de sua carreira?
FM: Essa é uma pergunta difícil, porque depende do ponto de vista. Em termos de jogo, pode ter sido o melhor ano até aqui, mas não acho que eu esteja no auge. Felizmente, me sinto numa ascendente. Sei que ainda vou ter anos melhores... Mas não dá pra negar: fazer mesa final em dois torneios de grande porte é inesquecível. Por outro lado, analisando pelo reconhecimento, sem dúvida alguma esse é o meu melhor ano. E não apenas por causa do patrocínio do Full Tilt. Se eu estivesse jogando numa mesa com Phil Ivey, as pessoas chegavam em volta, tiravam foto dele e iam embora. Hoje não. Veem Phil Ivey, tiram foto dele, mas aí viram e falam: “olha, Mojave está aí também, vou tirar uma foto dele”. Tem uma outra história interessante, que me deixou muito feliz porque foi mais uma prova desse reconhecimento. Eu estava jogando o WSOPE e Erik Seidel me perguntou se eu não estava mais no Party Poker. Um dos maiores jogadores da história, um dos criadores do Full Tilt, viu que eu estava sem o patch do meu antigo patrocinador! E, na mesma hora, ele queria ligar para o pessoal do Full Tilt, para dizer que eu estava sem patrocínio. Quando falei para ele que já estava fechando o contrato, ele falou: “Melhor ainda. Então só vou ligar e falar para fecharem rápido com você”.
GR: Você esteve em quase todas as últimas etapas do LAPT e do EPT, que são torneios do PokerStars. Você poderá continuar jogando esses torneios? Como será sua rotina de jogo a partir de agora?
FM: Não me impuseram nenhum tipo de restrição. Vou continuar jogando LAPT, EPT... Qualquer torneio relevante eu vou jogar. O Full Tilt, inclusive, quer que eu faça isso. No poker online, eu posso jogar em todos os sites, mas obviamente vou me focar mais no Full Tilt. Já tem, inclusive, uma mesa com o meu nome lá. Sou host da mesa, tenho assento reservado para mim. Quanto à minha rotina de jogos, aí sim vai haver uma pequena mudança. Eu estava jogando muito live. Agora vou me concentrar mais no online. Mas, obviamente, estarei em todos os torneios live de grande porte, inclusive no Brasil. Devo virar figurinha carimbada no BSOP.
GR: Desconsiderando seu trabalho, suas atividades com o site, analisando apenas o software, o que você acha do Full Tilt? E o que você acha do Rush Poker?
FM: Uma coisa é fato: sempre admirei o software do Full Tilt. Sempre falei que, para mim, é o melhor. O site sempre foi inovador. Foi o primeiro a fazer o break sincronizado, a disponibilizar a possibilidade de acordo automático... O Rush Poker também é sensacional. Foi uma ideia brilhante. Você pode jogar milhares de mãos por hora! É uma nova forma de jogar, que exige uma estratégia diferente. Mas para quem gosta de jogar online, é ótimo. Você pode chegar do trabalho e em poucas horas ganhar um bom dinheiro, brincar bastante. Isso é importante. Poker não é só profissional. O Rush Poker é muito bom também para quem não tem muito tempo para jogar. O Rush Poker é também muito bom como passatempo, recreação. No quesito entretenimento, acho que o Full Tilt também está à frente.
GR: Ultimamente, você também se destacou muito jogando Omaha. Tem preferência por algum tipo de jogo?
FM: Eu comecei a jogar Omaha e Texas Hold’em ao mesmo tempo. Quando as pessoas “descobriram” o Omaha, eu já era jogador. Isso me deu uma vantagem. Mas não tenho preferência por nenhum tipo de poker. Acho que o melhor jogador é aquele que também é o mais completo. Por isso hoje eu me dedico a todas as variações de poker. Mas não posso negar que tenho um carinho especial pelo Omaha. Sou o único jogador do mundo que tem mesa final nos cinco principais torneios do estilo no circuito mundial de poker: WSOP, WSOP Europa, EPT, FTOPS (Full Tilt Online Poker Series) e WCOOP (World Championship of Online Poker).
GR: Quem é seu maior ídolo no poker? E o melhor jogador da atualidade?
FM: Não tem apenas um. Existe um grupo de jogadores que dominam o alto escalão do poker mundial. Claro que há muitos outros capazes de batê-los, mas quando se analisa um jogador, deve-se analisar a pessoa, o profissional, não apenas o seu jogo. Não adianta ganhar no poker e torrar a grana com bobagens. Levar uma vida desregrada. Sou fã do Patrick Antonius por isso. Ele começou do nada, e eu espelho minha trajetória na dele. Fez tudo com calma, passo a passo, inclusive quando migrou pro cash game. Ele não é apenas um gambler. Sabe se cuidar, é saudável, cuida da imagem. Ele pode não ser o mais brilhante no poker, mas é um profissional completo.
GR: O mercado do poker cresce a passos largos no Brasil. A cada semana, chegam milhares de novos jogadores. O que você indica para quem está começando?
FM: Primeiro: não é porque você é o melhor jogador do seu home game que você será um grande jogador de poker. No nível profissional, as coisas são bem diferentes. Isso aconteceu comigo, mas tive a sorte de nunca achar que eu era um jogador fora de série. Dê um passo de cada vez, não se iluda, e as coisas poderão dar certo. Segundo: tenha referências, procure alguém que sirva de espelho. Não só no jogo, mas também na vida. Como falei, não adiante ser um grande jogador de poker e ter uma vida bagunçada, que não lhe leva a lugar nenhum. Outro ponto importante: estude bastante antes de sair jogando por aí. Quando chegar num torneio, você vai se dar melhor, porque já sabe exatamente o que fazer. Aconteceu comigo. Comecei do nada e fui construindo tudo pouco a pouco. Não tenho pressa, nunca tive. Repito: não tente dar um passo maior que a perna...
GR: Já que você falou em cash games, ficam as perguntas: você gosta de cash game? Quando veremos Felipe Mojave nas mesas de high stakes do Full Tilt?
FM: Gosto muito de cash game. Quando saí do Brasil para morar nos EUA, minha principal ideia era me especializar no cash game. Joguei muito esse estilo em Las Vegas e em Los Angeles. Acho que consegui evoluir muito, e hoje posso dizer que é uma das minhas especialidades. Como já falei, misturo todos os estilos. Não me defino como jogador de um ou outro estilo. Jogo de tudo, até para compensar. Às vezes estou mal em um e muito bem em outro. Isso balanceia meu jogo. Mas cash é um dos que mais gosto. Hoje, ainda não estou conseguindo manter uma rotina no Full Tilt. Tenho jogado de tudo, variado bastante, mas ainda não estou grindando pesado. Estou resolvendo muitas coisas e ainda não pude me dedicar aos grandes torneios como gostaria. Mas logo isso se resolve e, certamente, muito em breve, estarei nas mesas de high stakes do Full Tilt. Podem esperar! ♠