EDIÇÃO 39 » FIQUE POR DENTRO

Filosofia do Poker: Aprendendo Com os Outros

“Tudo aquilo que nos irrita nos outros pode nos conduzir a uma compreensão de nós mesmos” — Carl Jung


David Apostolico

Eu li recentemente essa frase de Carl Jung e, é claro, comecei a pensar no meu jogo de poker. Eu contemplei o que costumava me irritar e o que ainda me irrita, refletindo sobre o que isso significa. Então resolvi compartilhar minhas descobertas nessa coluna.

Uma das coisas que mais me irritavam era o tempo que os outros em geral levavam para tomar uma decisão. Eu sou muito impaciente por natureza, e costumava enlouquecer enquanto esperava um oponente refletir sobre dar call, fold ou raise. Então, há algumas semanas, eu estava em um jogo privado quando começamos a discutir sobre o tempo que as pessoas levam para decidir. Um jogador disse que eu era um dos que mais demoravam. Minha reação imediata foi ficar ofendido.

Eu me lembrei então da frase acima – e comecei a pensar. Sempre reconheço quando um jogador está fingindo, e não contemplando uma decisão. Ou seja, eles foram pegos com a mão na botija e sabem que vão dar fold, mas fazem um “teatro” antes. Ou então eles têm um monstro e querem agir como se estivessem diante de uma decisão difícil. Embora eu ache isso irritante, também acho revelador. Também gosto de decifrar quando alguém está diante de uma decisão real.

Embora me orgulhe de jamais dar tells, eu geralmente demoro quando tenho que tomar uma decisão. Tento variar um pouco demorando também quando a decisão não é difícil. Contudo, será que estou entregando algo? E o que significa quando dou insta-call? Eu posso estar dando mais informações do que suponho. Como resultado, tento padronizar meu processo de tomada de decisões. Eu evito reações instantâneas e demoro deliberadamente nas piores jogadas. Eu já tentei aumentar meu tempo de decisão quando diante de um dilema difícil, exceto quando estou heads-up diante de um all-in e não preciso me preocupar em dar informações.

Eu sempre tento ser muito honesto sobre meu próprio jogo, por meio de um rigoroso processo de reflexão e autoanálise. Também tento passar a mesma quantidade de tempo analisando meus oponentes. Eu até mesmo tento encontrar falhas em meus oponentes que eu porventura também possa ter. Contudo, acho que há um grande ponto cego quando se trata de coisas irritantes. Nenhum de nós gosta de pensar que é irritante. Então, quando percebemos algo irritante nos outros, nós fazemos de conta que não temos o mesmo comportamento. Como precisamos estar sempre em busca de maneiras de melhorar, eu irei prestar mais atenção quando um jogador fizer algo irritante, para ver se por acaso apresento o mesmo comportamento.

Eu tenho certeza de que todos nós já testemunhamos um amigo reclamando de alguma característica de outra pessoa e pensamos: “Do que você está reclamando? Você faz a mesma coisa”. Agora, vou refletir sobre com que frequência já pensaram isso sobre mim e meu jogo.

David Apostolico é autor de Torneios de Poker e A Arte da Guerra e Estratégia Maquiavélica do Poker, em breve disponíveis em português pela Raise Editora.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×