EDIÇÃO 38 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Não Esqueça os Fundamentos

Uma revisão


John Vorhaus

Eu estava jogando um heads-up contra um oponente que havia me proporcionado uma disputa razoavelmente boa. Eu tinha uma liderança de 2-1 em fichas com blinds altos quando ambos fomos all-in – A-9 para mim, K-5 para ele. Flopei uma trinca de noves, e recompensei meu bom oponente com um “gg” no chat – prematuramente, no final das contas, pois ele acertou um straight runner-runner para dobrar e se manter vivo na disputa. Mas o negócio foi o seguinte: Ele não estava mais lá!

Ele ficou tão claramente enojado ao ver meus três noves que simplesmente saiu da mesa, e não voltou mais. Acabou sendo engolido pelos blinds, e eu ganhei a partida contra um adversário que começou respeitável e terminou dando “sit out”. Veja bem, eu entendo o ponto de vista dele. Ele achou que estivesse derrotado – sabia que estava, de forma muito prática – e não quis ficar para ter que suportar o inevitável. Eu simpatizo com este sentimento. Todos nós simpatizamos. Quem quer ficar para sofrer? Só que tal reação emocional irracional nega uma verdade fundamental do poker: O jogo só acaba quando termina. Não importa o quanto ele tenha se sentido magoado, ele ignorou o senso comum – esqueceu um fundamento – quando foi embora, me dando uma vitória sem disputa.

Isso me lembrou de todos os outros fundamentos que por vezes ignoramos no calor da batalha, e me fez pensar que poderia ser uma boa hora para revisar alguns deles. Você pode chamar isso de “boa higiene do poker”, e deveria ser algo automático, natural de qualquer jogador que se considere um vencedor, porque no poker, atualmente, há muitos jogos razoavelmente acima da média, mas você não consegue ter sucesso no ar rarefeito do... digamos... poker-arte a menos que esteja prestando atenção nos fundamentos.



Eis algumas coisas que eu espero que você não tenha perdido o hábito de fazer:

Espere para ver suas cartas: Quando as cartas são distribuídas, há uma grande tentação de ver o que você recebeu e formular uma estratégia para sua mão. O problema é o seguinte: damos informação desse jeito. A menos que você tenha 100% de certeza que é 100% à prova de tells (e não tenha, porque você não é), torne hábito esperar até que seja sua vez de jogar para olhar para suas cartas. Desta forma, você nunca arrisca dar informação àqueles que falam antes de você.

Olhe para a mesa: De forma similar, nem todos os jogadores contra quem você joga terão uma higiene de cartas tão boa. Torne hábito olhar para a mesa toda vez, para ver o que consegue perceber em termos de intenções de seus oponentes. Quem está pegando fichas? Quem está virando suas cartas em direção ao muck? Quem parece estar prestes a dar raise? Você nem sempre estará correto em sua análise destas ações, mas se não olhar, está se negando informação que é oferecida em todas as mãos de forma gratuita.

Nunca olhe para o flop: Os jogadores fazem isso o tempo todo, e eu morro de rir: eles ficam extasiados e atenciosos enquanto o dealer vira o flop, focados intensamente nas cartas e calculando de forma instantânea o impacto que o flop terá em suas mãos. Eles nunca olham para os outros jogadores! Para mim, isso nunca fez sentido. Afinal das contas, o flop ainda estará lá daqui a cinco segundos, mas as efêmeras reações de seus oponentes terão desaparecido. E eu sei que é possível argumentar que bons jogadores não dão esse tipo e informação, mas será que todos os seus oponentes são tão bons assim? Ao olhar para os outros jogadores em vez do flop, você no mínimo remove todo o risco de entregar sua própria reação às cartas, e como isso não seria um bom fundamento?

Vá às compras: Tanto no mundo real quanto online, temos uma abundância de escolhas, mas ainda assim frequentemente nos contentamos com o primeiro assento que fica vago. Se você não está buscando ativamente a melhor mesa com os oponentes mais fracos, está desperdiçando uma oportunidade contínua de lucro. Ao tomar a decisão de jogar em uma mesa menos do que otimizada, é como se estivesse se comprometendo a jogar cada mão de forma menos do que otimizada.

Pense antes de agir: Tome um tempo para fazer cálculos básicos de pot odds e odds de cartas. Mesmo que você saiba que a decisão é óbvia – você tem um fold claro, não tem que se explicar – nunca faz mal rever a matemática básica da situação. Um benefício é que esta prática melhora sua habilidade de fazer estes cálculos às pressas. Outro benefício é que você elimina mais uma tell – a chamaremos de tell do piloto automático –, erradicando a diferença entre o jeito que você se comporta quando sabe o que vai fazer e quando não tem tanta certeza.



Elimine as distrações: Quer você esteja jogando em casa, onde o telefone pode tocar, ou um e-mail pode chamar sua atenção, ou em uma cardroom com telões de TV e garçonetes formidáveis (e bebidas formidáveis!), é muito fácil se distrair enquanto joga poker. Desnecessário dizer, isso diminui sua habilidade de colher informação de seus oponentes e jogar seu melhor e mais focado jogo. Sempre traga sua melhor atitude de “aqui e agora” para o jogo. Se você não consegue fazer isso, provavelmente não deveria jogar.

Monitore sua mentalidade: Se você está jogando bem, reconheça que está jogando bem, e continue fazendo isso. Se você está tiltado, ou acha que está prestes a tiltar, levante-se e saia da mesa. Em todos os casos, preste atenção em como você se sente. Como se pode notar, tanto na mesa de poker quanto fora dela, “Ninguém lhe machuca tanto quanto você mesmo”. Só você pode saber se está com a mentalidade certa para jogar poker – mas se não estiver prestando atenção, nem você saberá isso.

Esta lista, como bem sabemos, pode continuar infinitamente. Não jogue quando estiver passando mal, zangado ou bêbado. Não perca mais em uma sessão do que pode razoavelmente esperar ganhar na próxima. Não deixe os outros jogadores lhe irritarem. Preste atenção ao tamanho dos stacks. Conheça a estrutura da mesa ou do torneio no qual você está jogando. Tudo isso é fundamental, e tudo isso é crucial. Por ser tão fundamental, você pode achar que já entende há muito tempo, e não precisa revisar agora. Eu poderia até concordar com você, se não tivesse acabado de ganhar uma partida contra um oponente que cometeu o fundamental erro de sair da mesa antes de a partida terminar. Ele me deu dinheiro de graça, e não importa o quão esperto, enganoso ou habilidoso ele possa ter sido como jogador de outra forma, ele não pode esperar ser um ganhador se consistentemente, ou mesmo ocasionalmente, fizer isso.

John Vorhaus é escritor profissional e autor de livros de poker. Ele pode ser encontrado no ciberespaço no endereço radarenterprizes.com.




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