EDIÇÃO 38 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Perguntas da Rússia: Parte III

Uma grande variedade de questões


Alan Schoonmaker

Dois dos meus livros, Seu Pior Inimigo no Poker e Seu Melhor Amigo no Poker, foram traduzidos para russo. Os leitores de lá tinham algumas perguntas a fazer, e a editora traduziu as questões e minhas respostas. Eis algumas delas:

Pergunta: Eu estava no big blind com um par de seis e flopei uma quadra. Depois que pedi mesa, meu oponente apostou, e eu só paguei. Quando ele acertou um flush no turn, demos raise um no outro diversas vezes, e ele foi all-in. Ele acertou um straight flush no river. Você pode me ajudar a classificar meu oponente?

Resposta: Você me pediu para classificar seu oponente, mas parece estar mais interessado em contar uma história de bad beat. Isso é compreensível, já que essa foi daquelas horríveis. No flop, você era favorito em mais de 99%.

A aposta dele no flop parece legítima. Você demonstrou fraqueza ao pedir mesa, e semiblefar com uma queda para flush é uma boa jogada. A jogada dele do turn sugere fortemente que ele é muito loose e agressivo. Com um par no bordo, jogadores competentes escondendo um flush não dão vários raises.
No entanto, não tire conclusões rígidas sobre um jogador por causa de uma mão apenas. Você deve ser especialmente cuidadoso porque tomou uma bad beat. É provável que queira acreditar que ele é um maníaco ou quase, porque isso lhe fará se sentir melhor. “Eu só perdi porque ele é um idiota”.

Alguns jogadores dizem ser tão perspicazes que conseguem julgar os outros instantaneamente. Eles quase sempre estão errados. Todos cometem erros e ocasionalmente agem de forma estranha. Além disso, você não ofereceu nenhum contexto, e geralmente tirar a mão de contexto torna seu significado obscuro. Se eu escolhesse mãos especialmente para este fim, não identificasse os jogadores, e não descrevesse o contexto, você poderia concluir que os melhores jogadores do mundo são donkeys. Por exemplo, quem jogaria com 10-2 offsuit?

No entanto, parece que ele realmente dá overplay em suas boas mãos, o que sugere que ele é loose-aggressive demais, e não tem tanto bom senso. Então, tire essa conclusão de forma temporária. Se ele jogar bem pelo resto do tempo, provavelmente só teve um lapso momentâneo em seu bom senso. Isso acontece com todo mundo. Se ele dá overplay repetidamente em suas mãos, principalmente nas mais fracas, ele é loose-aggressive demais, ou um maníaco, ou quase maníaco.

P: Há alguma explicação científica de por que as pessoas agem emocionalmente na maior parte do tempo? Em vez disso, por que não seguimos nosso bom senso?

R: Acho que isso é um exagero. Agimos de forma emocional às vezes, e alguns de nós com muita frequência, mas você não deve dizer que é na maior parte do tempo.

Já que emoções são tão destrutivas, temos que lutar constantemente contra elas e contra nosso desejo natural de confiar em nossos sentimentos. Devemos nos esforçar para que nosso intelecto domine nossas emoções, mas isso pode ser muito difícil. Naturalmente queremos confiar em nossos instintos, mesmo quando eles foram afetados por nossas emoções.

David Sklansky e eu frequentemente escrevemos sobre técnicas para permitir que nosso lado racional passe por cima de nossas emoções, reações, intuições e instintos. Por exemplo, recentemente publicamos o DUCY? (“Do You See Why?”) [Em breve em português pela Raise Editora]. Escrevemos, “Muitas pessoas dizem que você deve confiar em seus instintos para tomar uma decisão, e este é frequentemente o pior conselho que alguém pode lhe dar...

“Você não pode se tornar imune [à reação emocional], mas pode minimizar seus efeitos. Primeiro, simplesmente admitir para si mesmo que pode estar sendo influenciado por fatores irracionais pode abrandar o impacto. Segundo, você pode estabelecer procedimentos objetivos e estar disposto a seguir com a decisão resultante (principalmente se for parecida), mesmo que você ‘sinta’ que é a errada.” (Páginas 84-85)

Além disso, pergunte-se repetidamente, “Por que eu fiz aquilo?”. Você frequentemente descobrirá que deixou suas emoções passarem por cima de seu intelecto. Quando reconhecer este padrão, você se tornará menos vulnerável a ser subjugado por suas emoções. Infelizmente, a maioria dos jogadores de poker não gosta de olhar para si mesma, principalmente para suas emoções. Eles prefeririam proteger seus egos negando a realidade. Então cometem os mesmos erros vez após vez.

P: Eu jogo poker online, e frequentemente não penso muito (ou simplesmente não penso) antes de apertar o botão de “Bet”. Eu clico automaticamente. Por que eu faço isso?

R: Eu sinceramente não sei, mas você está um pouco à frente de alguns jogadores. Eles agem sem pensar, só que não percebem isso. É preciso transformar este auto-conhecimento em ação ao se forçar a pensar antes de agir. Se não o fizer, precisa parar de jogar, ou se resignar a perder. Desculpe por ser tão direto, mas o poker recompensa ações pensadas, e pune ações impulsivas.

P: Você escreveu muito sobre controlar emoções, mas não é um pouco perigoso, conter as emoções dentro de nós mesmos?

R: Pode ser muito perigoso. Por exemplo, se você está extremamente zangado e não tem um jeito inofensivo de expressar isso, pode “perder a cabeça”. Suas emoções suprimidas podem se tornar tão fortes que você tem que expressá-las. Você pode jogar poker de forma insana, ou fazer algo muito pior, como dirigir de forma descuidada, ou bater em seu chefe ou sua esposa.

Portanto, não negue suas emoções. Entenda-as e monitore-as. Então as expresse de uma forma relativamente inofensiva. Por exemplo, em vez que dar um soco no seu chefe estúpido, escreva-lhe uma carta maldosa, mas não a envie. Em vez de relaxar jogando de forma insana em sua mesa normal, jogue dessa forma em stakes minúsculos. Até mesmo Daniel Negreanu joga de forma maluca de vez em quando, no que ele chama de “dia de festa”. Negreanu escreveu, “O verdadeiro benefício que consigo com os dias de festa é me livrar do stress!” (“Dia de Festa”, CardPlayer, Março de 2001)

P: Não estou satisfeito com o meu progresso. Há algum tempo, fiz um plano para melhorar minhas habilidades. Coloquei como objetivo ganhar certo número de torneios e uma determinada quantia de dinheiro em um ano. Custou bastante tempo e esforço, mas eu alcancei meus objetivos. Agora, embora eu reconheça que preciso de novas habilidades, não estou motivado para trabalhar no meu jogo. O que devo fazer?

R: Estou contente por você ter alcançado seus objetivos, mas tenho algumas dúvidas sobre sua ênfase nos resultados de curto prazo. Eles dependem demais da sorte, e bons resultados podem lhe tornar complacente. Eles podem ter retirado sua motivação para melhorar.

O valor dessa motivação depende de quão importante o poker é para você. Se você tem jogado primariamente por diversão, não precisa melhorar. Relaxe, jogue o melhor que puder sem se esforçar demais e não se preocupe tanto com isso.

Mas, se você joga para viver, ou se é seu segundo emprego, é melhor encontrar essa motivação. Se você não trabalhar em suas habilidades, terá problemas em breve. Seus melhores oponentes irão melhorar, o que implica dizer que, relativamente, você ficará pior. Lembre-se, o importante não é quão bem você joga, mas quão bem você joga em comparação à concorrência. É preciso se esforçar tanto quanto eles, ou verá seus lucros diminuírem, ou até mesmo se tornarem perdas.

Alan Schoonmaker é PhD em psicologia ocupacional e autor da Trilogia da Psicologia do Poker, disponível em português pela Raise Editora.




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