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LAPT Lima


Bruno Nóbrega de Sousa

O Latin American Poker Tour faz sua estreia na capital peruana e surpreende com um torneio de alto nível e uma experiência de poker marcante

O céu nublado me fez perguntar ao motorista do táxi quanto custava um guarda-chuva em Lima. “Aqui não chove faz 30 anos”. Quando ele me disse isso, fiquei tentando entender a piada... Não era piada. Na capital peruana não chove de verdade há três décadas – no máximo uma neblina, quase uma garoa, cai sobre a cidade no inverno. Já não era de se espantar as ruas sem bueiro e as casas sem telhado, só com laje. “Para quê telhas onde não chove?”, arrematou o taxista enquanto eu pagava a corrida.

Minha primeira impressão de Lima não foi boa. O trânsito caótico, o buzinaço sem sentido e o céu carregado o tempo todo me incomodavam. Mas assim que dei entrada no hotel e subi para me encontrar com o pessoal no restaurante, as coisas começaram a mudar. O ceviche, tradicional prato peruano com frutos do mar marinados em suco de limão, que serviram de entrada foi um belo cartão de visitas daquela que é considerada a capital gastronômica da América Latina.

Depois da refeição, fui com o pessoal da imprensa brasileira dar uma volta a pé pelo distrito de Miraflores, região da cidade onde estão os principais hotéis e cassinos. O lugar é bem bonito, sofisticado até, e tem uma vista do Pacífico capaz de fazer qualquer pessoa esquecer as nuvens insistentes. A essa altura, Lima já tinha se tornado uma cidade bastante interessante. (Mais tarde descobri que há pontos turísticos que realmente valem uma visita e que ficavam a alguns poucos minutos de carro do hotel, como as ruínas de Huaca Pucclana e o Museu do Ouro).

Terminamos o reconhecimento da área no Cassino Atlantic City, local do evento. Lá aconteceria a coletiva de abertura e um torneio de caridade envolvendo vips e pros. O dinheiro arrecadado iria para uma instituição que cuida de crianças autistas – bela iniciativa do PokerStars, que aproveitou também para fazer um anúncio que muitos jogadores brasileiros aguardavam desde 2008: O Latin American Poker Tour está de volta ao Brasil. Dessa vez, Florianópolis será a sede daquele que se espera seja o maior LAPT até agora. Os muitos atrativos da capital catarinense, juntamente com o fato de o evento ser realizado no Costão do Santinho, considerado o melhor resort de praia do país, promete colocar a etapa brasileira no mapa do poker no continente.

No dia seguinte, quando teríamos ação de verdade, o número de inscritos surpreendeu: 374 jogadores participariam do main event do LAPT Lima, compondo o segundo maior field da história do circuito.  E nesse caldeirão estavam jogadores top como André Akkari, “Nacho” Barbero e Angel Guillen.

Outra figura conhecida que disputaria a Americas Cup of Poker, cuja narrativa você confere logo adiante, e também estava no LAPT, era o americano Dennis Phillips. Em 2008, ele foi um dos finalistas do Main Event da WSOP, conseguindo o terceiro lugar. Só que ele acabou caindo na mesa de Daniela Zapiello, que deu muito trabalho no último LAPT Punta Del Este e não se intimidaria com o impressionante currículo do gringo. Ela simplesmente não tomou conhecimento de Dennis Phillips e, a cada pote, tomava fichas do americano. Nas palavras da própria Daniela: “Como não recebia cartas, fui jogando só à base de moves. Vi que ele era bem agressivo pré-flop e no flop. No turn e no river ele tentava controlar muito o pote e, se eu jogasse, dependendo da minha agressividade, conseguiria fazê-lo largar”. E continua: “Ganhei umas quatro mãos assim, até que chegou a mão final, em que ele teve que dar all-in com um par de valetes, e eu dei call com A-K e o eliminei”. Pena que Dani cairia algum tempo depois, ainda fora da faixa de premiação.

E em meio a jogadores profissionais, amadores estudiosos e milionários de férias, estava Cédric Lenners. O discreto crucifixo pendurado no pescoço daquele sujeito franzino e careca, mas desenvolto no trato com as fichas, não dava qualquer indício de que ele fosse... Padre! Sim, um padre em pleno LAPT! Já vi muita coisa nessas minhas andanças do poker, mas um clérigo dando raises e reraises era novidade para mim. Depois de sua eliminação no Dia 2, pude conversar com ele. Cédric é belga, tem 30 anos e está em missão no Peru há algum tempo. Fã de Chris “Jesus” Ferguson (coincidência?), ele já conseguiu construir o teto de sua capela com dinheiro do poker. “Outro dia ganhei 15 mil dólares em um torneio”. Nada mal. E em meio a nossa conversa, não resisti à tentação de perguntar se ele achava que Deus o ajudava nos torneios, ao que ele sabiamente respondeu: “Não. Poker é um esporte que exige paciência e disciplina. Minhas decisões à mesa é que vão dizer se vou ganhar ou perder. Nesse ponto sou fatalista”. Falou tudo.

Quando voltei ao salão para ver como andavam os brasileiros, dei de cara com a mesa mais verde e amarela do LAPT do Peru: estavam brigando pelos mesmos potes Maridu, Ernest Kajiura, Ed Angelis e Marcos Pettinati. Este último, aliás, foi o responsável pela eliminação de Ed “(PSY)De_Ange” Angelis, membro do time brasileiro campeão da Americas Cup of Poker 2009, que repetiu a dose e jogaria pelo Brasil de novo esse ano. Pettinati dá raise e toma call de Maridu. Ed Angelis vai all-in, Pettinati paga e Maridu larga. Ed apresenta 8-8, e Pettinati, A-K. No turn vem o rei que derruba o paraibano Ed Angelis, que foi direto fazer a inscrição do Second Chance, torneio no qual chegaria à mesa final. Outro que se deu bem em eventos paralelos foi o curitibano Fabiano Negrelli, que faturou US$10 mil ao cravar o evento de $300. Brasil here!

Quando a bolha estourou, havia cinco brasucas na faixa de premiação: Paulo César “PC” Ribeiro, Durval “Vavá” Ribeiro, José Carlos Rodrigues, George Martins e Sílvio Martins. Apesar da coincidência de sobrenomes, ninguém era parente de ninguém, mas mesmo assim Sílvio Martins concentrou a torcida de todos ao ser o único brasileiro a chegar à mesa final.


Poucas vezes vi tanta gente querendo acompanhar uma mesa final. Quando caíram Valerio Valera, Carlos Herrera e Rene Aguiar, a torcida local começou realmente a acreditar que o peruano Erick Cabrebra pudesse sair com a vitória. A cada mão que ele disputava, o salão se enchia com gritos de “Peru! Peru!”– em termos de empolgação, aquilo poderia ser comparado a um jogo de Copa do Mundo.

Então veio a queda que não queríamos relatar: Sílvio Martins estava short e foi all-in do button com K T. Os blinds largaram, mas o americano Ben Barrows pagou com A 6. Um ás no flop foi o bastante para que os brasileiros perdessem seu único representante na final table. Depois, Sílvio me contou que sua ida para Lima tinha sido inesperada. Ele havia ganhado, em outro site, a entrada para o Irish Open, em Dublin, mas preferiu abrir mão do torneio na Irlanda e trocar seu prêmio por uma vaga no LAPT do Chile, que não aconteceu por causa do trágico terremoto. Assim, ele foi para o Peru e acabou conseguindo um grande resultado: “Sou amador, jogo por prazer e acabei chegando à mesa final. Estou aqui dando entrevista, tirando fotos... Para mim, isso é o máximo!”, concluiu Sílvio.

Com o jogo reduzido a quatro pessoas, a torcida por Erick Cabrera aumentou ainda mais quando Ismael Cadiz foi eliminado por “Nacho” Barbero. Só que alegria de peruano dura pouco, e Erick também se envolveu em uma mão contra o Team Pro argentino, que flopou uma sequência com 9 7 em um bordo com T-8-6 rainbow, enquanto Erick tinha acertado top pair top kicker. Todas as fichas no pano, fim da linha para o peruano, que saiu muito aplaudido pelos torcedores.

Agora, o irritantemente iluminado “Nacho” Barbero estava em mais um heads-up, dessa vez, contra um duro adversário, o americano Ben Barrows. Com uma vantagem de 5-para-1 em fichas, o vencedor da etapa de Punta Del Este do LAPT precisou apenas esperar a mão certa para dar o bote. Em um confronto entre A7 e A 2, o flop trouxe duas cartas de ouros e deixou o americano com um flush draw daqueles que parecem inescapáveis. Mas, em se tratando de “Nacho” Barbero, parece que, contra ele, nada bate. Era o bicampeonato desse exímio jogador argentino, que conseguiu o feito de cravar dois LAPTs em sequência e marcar seu nome na história do circuito. Parabéns, Jose Ignacio Barbero, grande vencedor do LAPT Lima!

Na hora de voltar para casa, ouvi uma confissão: “Se eu pudesse escolher um lugar para voltar no LAPT, seria aqui”. Quem me disse isso foi o Odilon Machuca, da Overbet Eventos, empresa responsável pelo LAPT de Floripa. Engraçado, mas depois de uma semana muito poker, dias nublados e ceviche, acho que eu também saí com uma sensação parecida... É, PokerStars, vocês acertaram mais uma vez.

FICHA TÉCNICA
Latin American Poker Tour
Local: Lima (Peru)
Data: 1º a 5 de Junho de 2010
Buy-In: US$ 2.700
Stack Inicial: 20.000 fichas
Blinds: 60 minutos
Field: 374 inscritos
Primeiro Prêmio: US$ 250 mil
Oferecimento: PokerStars.net




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