EDIÇÃO 34 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

Um Blefe Que se Adequa ao Seu Estilo

Não tenha medo de ser pego!


John Vorhaus

Na última coluna, nós analisamos dois enredos, ou scripts, que você pode usar para executar blefes. Dessa vez, vamos analisar mais dois, mas, para começo de conversa, vamos primeiro lembrar por que blefamos. Não é só para ganhar potes que de outra forma não ganharíamos. É também (e principalmente) para desestabilizar nossos inimigos e impedi-los de ficar muito confortáveis contra nós. Jogadores de poker, afinal, gostam de oponentes que são consistentes e previsíveis. Contra tais inimigos, ganhar é apenas uma questão de descobrir o que funciona e então fazer isso repetidamente. Para evitar ser tal inimigo, devemos nos tornar inconsistentes e imprevisíveis, e é por isso que blefamos.

Se você tiver medo de ser pego, não tenha. Às vezes, ser pego é a melhor coisa que lhe pode acontecer. Sim, é verdade, você perde algumas fichas. E daí? Agora seus adversários sabem que não podem contar com você ter uma mão quando apostar. Eles precisam tentar descobrir como lhe derrotar quando você tiver uma mão e também quando você não tiver. Sob essa perspectiva, você pode afirmar que blefar lhe torna exatamente duas vezes mais difícil de ser derrotado. Se essa matemática não lhe convencer, reflita sobre as palavras de Annie Duke, que diz: “Se você não for pego com a boca na botija de vez em quando, simplesmente não está jogando certo”.

Em nome do jogo certo, vamos analisar mais dois blefes que podemos executar regularmente.

Nome do Blefe: Slick Rick e o Flop Órfão

Sua Imagem: Você está no controle do jogo. Por alguma razão — apostas espertas, inteligência nata ou beleza arrebatadora — você se tornou Slick Rick, o canudo que mistura o drink. Dessa posição de poder, você pode tentar ganhar potes que os demais vão render.

Seu Alvo: Os temerosos; aqueles contra quem você já demonstrou sucesso. Talvez você já tenha mostrado algumas mãos vencedoras. Talvez tenha dado raise e os afastado de alguns potes. Por qualquer razão, eles deixaram claro que não querem entrar em guerra contra você.

A Situação: Tendo provado tanto uma disposição para apostar agressivamente quanto uma compreensão de quando e como fazer suas jogadas poderosas, o resto da mesa tem tentado evitar comprar briga com você. Alguém que tem uma posição dominante quanto ao número de fichas em geral se encontra nessa posição de comando.



O Blefe: Em certos flops, você simplesmente sabe que ninguém se beneficiou. Algo como 7-7-3 rainbow não apenas é difícil de ter sido acertado por bons jogadores (pois quem jogaria com essas cartas pré-flop?), mas também é praticamente impossível de garantir um draw. Sem nenhum valor de straight, flush ou carta alta, esse é um clássico flop órfão que está em busca de alguém que o adote. Vá em frente e seja essa pessoa. Mesmo que seus oponentes não acreditem que você tenha uma mão real, eles acreditam que você estará disposto a continuar apostando, e decidem que o cuidado lhes trará mais benefícios. Você vai chegar a ouvi-los dizer, enquanto dão fold: “Eu sei que você não tem nada, mas...” Sublime!

Nuance: Não é impossível, é claro, que alguém acerte um flop órfão. Se você encontrar um oponente disposto a pagar, desista. A última coisa que você quer fazer é entregar seu estoque por meio de um blefe enfrentado uma mão formada. E lembre que você não está executando esse blefe contra jogadores espertos o bastante para revidar com outro blefe. Para citar a sabedoria: “Não desafie jogadores fortes, desafie os fracos. É para isso que eles estão aí”.

E Depois: Mantenha seus olhos abertos em busca de mais “floportunidades”. Em especial em mesas de no-limit hold’em fracas e tímidas com buy-ins pequenos, o pote geralmente vai para o primeiro jogador que tenta ganhá-lo.

Advertência: Jogadores afiados vão perceber seus truques. Se alguém der check-raise contra você na disputa por um flop órfão, é melhor se render, tomar nota do jogador que fez a boa jogada e evitar confrontos futuros. Veja a nota acima sobre desafiar jogadores fortes.

Nome do Blefe: Pego Roubando — e Roubando de Novo

Sua Imagem: Você foi pego blefando recentemente. Agora que o rubor da vergonha desapareceu, você está voltando sua atenção para a importante questão de como usar sua imagem de ladrão na mesa contra seus adversários.

Seu Alvo: Jogadores orgulhosos, arrogantes e comandados pelo ego que recentemente tiveram a satisfação de lhe pegar com a boca na botija. Eles querem lhe pegar de novo, pois ladrões como você precisam ser colocados no seu devido lugar.

A Situação: Você foi pego blefando. Parecia o fim do mundo. Foi o fim da sua velha imagem tight e marca o começo da sua nova imagem: punido pela derrota e capaz de quase qualquer excentricidade.

O Blefe: Se você tiver sorte o bastante para receber uma mão real logo depois de ter sido pego roubando, terá a oportunidade de executar o que parecerá uma jogada movida pelo tilt. Seus oponentes não vão acreditar que você tem boas cartas. Eles vão supor que você está ferido pela sua derrota recente e, como muitos deles, vai tentar aliviar sua dor física indo muito longe e muito depressa com a mão seguinte. Nesse caso, você na verdade está blefando que não tem uma mão. Isso se chama “blefar com a melhor mão” e é uma consumação que deve ser desejada.

Nuance: Seus adversários sabem que você acabou de ser pego, e podem suspeitar que você esteja “tiltado”. (Reforce essa suspeita fazendo ruídos típicos de tilt). Mesmo assim, eles não vão esperar que você blefe novamente logo em seguida, pois sabem que você provavelmente vai ser pago. Então, quando você aposta, eles devem crer que você tem uma mão de verdade e descartar. Mas é claro que não vão lhe deixar roubar de novo tão cedo e sem uma disputa. Ao utilizar seu comportamento de tilt para justificar um call ruim da parte deles, você faz com que eles vão em frente e lhe paguem. Lembre que esses jogadores são controlados pelo ego, e esses egos vão conduzi-los a caminhos onde suas carteiras não deveriam ir.

E Depois: Componha-se. As circunstâncias lhe permitiram roubar algumas fichas ao temporariamente fingir ser um maníaco. Você teve sorte de ter recebido uma mão de verdade quando precisava, mas não abuse da sorte. Deixe as cartas e o caráter da mesa determinar o destino da sua imagem.

Advertência: O problema em ir longe demais é que você nunca sabe que está indo até ter ido. Se você achar que está fingindo tilt, mas estiver realmente “tiltado”, tentará empurrar mãos de segunda categoria como se eles fossem de primeira, e vai acabar perdendo suas fichas. Em todos os casos, conheça sua mente e não deixe que as emoções comandem — ou arruínem — o seu jogo.

OK, essa é uma visão geral de alguns dos meus roteiros favoritos de blefes. Eu lhe convido a utilizá-los, mas encorajo a desenvolver seus próprios roteiros. Seus blefes com um propósito determinado estarão em harmonia com sua imagem e serão mais diretamente relevantes nos tipos de jogos em que você geralmente se encontra jogando.

Divirta-se blefando e não tenha medo de ser pego!

John Vorhaus é escritor profissional e autor de livros de poker. Ele pode ser encontrado no ciberespaço no endereço radarenterprizes.com. Foto: Gerard Brewer.




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