Escrever para mim é mais que um ofício. É um prazer, talvez até um vício. É a necessidade de me comunicar e colocar para fora, dividindo o que estou sentindo. Muito do que escrevo, jamais alguém conseguirá ler – uma parte vai para apenas uma pessoa.
Mas alguns textos serão lidos por tanta gente, que a relevância do que eu apresento tem que ser significativa. Mas sempre fica aquela dúvida: artigo técnico ou texto livre? Isso acontece porque hoje me vejo inserido em dois contextos dentro do poker no Brasil. Sou jogador e aprecio dividir técnicas e prazeres, mas também sou empresário e tenho organizado alguns dos maiores torneios pelo país e também estou sempre por dentro das novidades que estão acontecendo com o nosso esporte.
Para exemplificar como é difícil focar em apenas um lado, vamos pegar o meu último mês.
Se eu quisesse falar apenas como jogador, tinha que escrever um belo artigo de como cheguei à mesa final do Circuito Paulista, um torneio tradicional que contou com quase 300 jogadores. Conseguir a sétima colocação foi incrível, e o torneio foi particularmente complicado, pois não recebi cartas boas ao longo dos dois dias de competição. Não vi AA, QQ e JJ nenhuma vez ao longo do torneio. A quantidade de potes que ganhei sem ter que fazer showdown, e uma boa parte deles com mãos marginais, blefes e jogos fracos como top pair, foi impressionante. Considero um torneio muito bem jogado tecnicamente e seria preciso um artigo inteiro para tentar explicar.
Ao mesmo tempo, esse mesmo torneio me ensinou uma lição em relação àquilo que chamamos de sorte. Prefiro mil vezes ter a felicidade de não levar uma bad beat ou pegadinha do destino do que sair várias vezes com AA. E, nesse sentido, aquele torneio foi muito bom. Nenhuma vez em dois dias alguém acertou uma trinca contra mim e me tirou muitas fichas, em todas as jogadas em que tentei passar um blefe, não encontrei ninguém montado em artilharia pesada.
Na semana seguinte, fiz mesa final em um torneio no Ultimate Bet, depois outra no Full Tilt e, finalmente, cravei um torneio de 18K garantidos no PokerStars. Eu, que raramente vinha jogando torneios online, após o paulista comecei a jogar quase toda noite, e os resultados aparecendo. Sabe quem é a principal responsável por isso? A autoconfiança. No torneio que cravei do PokerStars, quando estávamos em 4 jogadores, eu tinha 150K em fichas, outro jogador tinha 200K, o segundo colocado tinha 900K, e o primeiro, 1,2KK. O primeiro colocado ainda eliminou o jogador com 200K, então eu fiquei com apenas 150K de um total de quase 2,5KK de fichas. E eu ficava repetindo, em voz alta mesmo: sou guerreiro, sou vencedor e vou virar esse jogo. E, sem me desesperar com all-ins despropositados, virei o jogo mesmo.
No heads-up, tecnicamente joguei muito bem e, ainda assim, a sorte parecia bater. Após assumir a liderança, por duas vezes parecia que eu ia perder. Na primeira vez que acabamos em all-in, eu tinha AK contra A2, e um 2 no river estragou a festa. Na segunda vez, eu tinha AQ contra QT, e o dez apareceu. Só que, nas duas vezes, eu voltei devagar, ganhando pote a pote. Até que, em um all-in no qual eu tinha 77 contra 55, trinquei no flop para levar o título para casa. Muita felicidade, claro: eram 720 jogadores e a sensação de que o jogo estava sendo feito direitinho.
Passei a ter assunto técnico para escrever umas três colunas da CardPlayer Brasil. Até porque fiz várias adaptações no meu jogo, que vêm funcionando.
Aí vem o outro lado. Quando estava escrevendo meu artigo, Bruno Nóbrega, editor da revista, me escreveu um e-mail com uma sugestão: “Por que você não escreve um resumo da temporada do BSOP até o momento e do que está por vir?” O BSOP é objeto de curiosidade de todos no Brasil. Atualmente, é o maior torneio do país, e tem trazido novidades a cada etapa. A série está na televisão todas as semanas, com programas inéditos, e tem sido uma verdadeira epopeia produzir cada evento.
Eu tenho muita vontade de chegar aqui e contar sobre o processo que é realizar o BSOP, algumas vezes apenas do alto do orgulho de ter criado o evento, outras tentando passar mensagens e convocando os leitores a participar e nos ajudar. Isso porque hoje, ao contrário do que muitos podem pensar, o BSOP é um evento extremamente caro, em que estamos investindo para colher frutos no futuro. Cada etapa custa, incluindo a produção de TV, mais que o dobro do que o próprio evento pode arrecadar com os torneios cheios.
Para o BSOP ser lucrativo, ele depende dos patrocinadores. Porém, eles só virão se o evento se mantiver sempre lotado e com qualidade. Temos que investir em locações paradisíacas, conforto e modernidade. Temos que ter um nível de qualidade alto, para conseguir mostrar às empresas de fora do ramo do poker que vale a pena investir.
Se eu fosse começar a falar do BSOP, poderia abordar jornalisticamente e passar um pouco sobre quem venceu as três primeiras etapas (quando escrevi esse artigo, estava a uma semana do BSOP Curitiba, a 4a etapa) ou comentar sobre o sucesso dos eventos paralelos, que têm atraído um público diverso. Ou poderia falar até mesmo do High-rollers, que, com o triplo do buy-in do evento principal, tem acontecido com 30 a 60 jogadores, o que considero um número muito bom, lembrando o primeiro ano do próprio evento principal do BSOP.
E, como empresário e um dos donos da Nutzz, posso ter o prazer de contar que algumas empresas já começam a sondar, de início de forma tímida. Vêm, perguntam e ficam de dar resposta, mas já é um avanço que estejam procurando abertamente. E começam a nascer algumas parcerias. Uma eu já posso contar para vocês: acabou de ser criada a CVC Poker Viagens. Isso mesmo, a CVC, maior operadora de turismo da América Latina, e uma das dez maiores do mundo, resolveu investir no poker nacional e se associou ao BSOP. Isso trará muitas vantagens para o cliente que quiser viajar com o BSOP.
Antes, podíamos oferecer pacotes tradicionais para os eventos, que incluíam passagem e hospedagem apenas no hotel do evento. E muitas vezes não conseguíamos atender à demanda inteira de jogadores, que procuravam pousadas ou hotéis mais baratos próximos ao evento. Com a CVC, eles podem oferecer todo o leque de hotéis próximos ao evento. Ou seja, o meu cliente vai poder escolher o que mais agradar ao seu bolso. Isso porque a operadora possui acordos com a grande maioria dos hotéis das cidades que hospedam o BSOP, e não mais terão necessidade de vender apenas o local do evento. Além disso, o cliente pode entrar em qualquer loja CVC do país, encontradas nos melhores shoppings centers, e comprar ou montar seu pacote de poker para qualquer etapa do BSOP. São mais de 450 lojas próprias espalhadas pelo país, e mais de 4.000 agências autorizadas a vender os produtos CVC.
A filosofia adotada pelo BSOP é tentar se unir apenas com os líderes de cada segmento. Assim foi com a Copag, absoluta no mercado, e com o Full Tilt, que é o segundo colocado mundial e, no Brasil, é quem detém a maior fatia do mercado (e, sem criar nenhum tipo de polêmica, vale dizer aqui que o PokerStars é o líder mundial e no Brasil tem também uma ação digna de lideranças e tem contribuído muito para o crescimento do poker no país).
Os planos da CVC são de se tornar referência para o público de poker e ser a maior operadora nesse segmento. O grande público conhecerá a CVC Poker Viagens já a partir do BSOP Curitiba, e, oficialmente, a partir do BSOP Rio de Janeiro, em julho, poderá comprar seus pacotes em qualquer loja CVC do país.
Agora, voltando ao problema inicial do artigo, como empresário e pessoa engajada no mercado do poker, não posso ficar falando dos meus torneios jogados e do BSOP e não comentar a notícia que saiu há apenas duas semanas na mídia mundial, tendo tido destaque no portal do UOL e até na própria Rede Globo de televisão: o poker foi reconhecido pela IMSA como um esporte da mente!
Essa é a melhor notícia do ano para o poker, e acredito que muitos leitores não percebem o quanto. Vale a pena algumas explicações. A IMSA (International Mind Sports Association) fica em Lausane, na Suíça, no mesmo edifício onde está instalada a sede do COI (Comitê Olímpico Internacional), sendo um de seus braços. Como assim? O COI, que determina quais esportes são olímpicos, é formado por associações como a FIA (Federação Internacional de Atletismo), a de esportes aquáticos (que engloba natação, pólo, saltos ornamentais), a de esportes em equipe (que engloba futebol, vôlei, basquete, handebol etc.), dentre outras. Cada braço desses tem subdivisões. No braço da IMSA, foi aceito como membro da entidade a IPF (Federação Internacional de Poker), que tem a CBTH (Confederação Brasileira de Texas Hold’em) como um de seus fundadores.
O poker agora tem o mesmo status do xadrez e do bridge. É um esporte da mente e um jogo reconhecidamente de habilidade. No Brasil existem competições de xadrez e bridge apoiadas diretamente pelo governo. E agora, por que não fazer o mesmo com o poker?
Na nossa briga, essa é uma munição de grosso calibre. Quem vier contestar um torneio de poker querendo taxá-lo como contravenção utilizando o frágil argumento de que se trata de um jogo de azar, vai encontrar mais uma forte prova internacional do reconhecimento do nosso esporte.
Ainda assim, li em alguns fóruns algumas pessoas ridicularizando o termo esporte para o poker. O que há de se entender por quem ama o poker é que, politicamente, esse é o caminho. Quem quer ver o poker crescer no país tem que abraçar essa ideia e seguir em frente.
Um dia nos lembraremos que, em abril de 2010, um grande passo foi dado para o poker mundial. E espero que isso ajude no crescimento aqui no nosso país. É mais um argumento para conseguirmos patrocinadores para os eventos, apoio do governo e reconhecimento para os praticantes.
E assim, sem focar em apenas um assunto, ainda faltou falar da Stack Series Full Tilt 750K, que irá acontecer em São Paulo no final de maio e início de junho. O evento principal, que terá buy-in de 3.500, promete uma premiação garantida de 750 mil reais. Mas a grande novidade é que, pela primeira vez no país, teremos uma série de torneios que se desenrolará ao longo de duas semanas. Serão 11 eventos em nove dias. Torneios para todo o tipo de gosto. Quem quiser mais informações, deve acessar: www.superpoker.com.br/750K
Até o próximo mês, galera, do único colunista que escreveu em todas as CardPlayers Brasil, exceto uma! (Acabei ficando de fora da última edição pela primeira vez desde o lançamento da revista, mas não se preocupem, que não vou mais abandonar vocês).