EDIÇÃO 33 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

O mundo dá voltas - Bem puxado, João Paraná!


Daniel Tevez Cantera

O último BSOP, realizado no Rio de Janeiro, teve um justo campeão: João Paraná. Conheço o cara desde a segunda etapa do sul brasileiro, realizada na parte de cima de um restaurante lá no Shopping Estação, em 2005. Naquela época, ele usava barba e ainda tinha cabelo – não jogava nada, mas já pensava em viver de poker.

Sou conhecido por desestimular quem tenta fazer isso (basta ver minha coluna do mês passado). Afinal de contas, quem vive do poker é uma meia dúzia de jogadores, mais os organizadores, sites, clubes, além daqueles que persistem muito. João é desses últimos. Eu estava em Las Vegas e li no maior jornal do Paraná que ele tinha fechado sua marcenaria para se dedicar totalmente à ficha no pano. Acho que ele nunca foi muito chegado a trabalhar (risos) e, quando achou o Texas Hold’em, decidiu que viveria – veja só – de torneios de poker... Nossa, como eu peguei no pé dele.

Fui bem “sacana” com meu amigo: não tinha um torneio em que eu não pedisse para me sentar na mesa dele e sempre lhe “voltar a casa” na cabeça. Dava calls nojentos, principalmente na bolha. Acabei com muitos torneios dele. Além disso, eu fazia questão de dar camisetas, bonés ou créditos em sites a quem o eliminasse, sempre lembrando que, se fosse com uma bad bet, o prêmio seria dobrado – João nunca tiltou comigo, e olha que ele é mais grosso do que motorista de caminhão FNM.

Todos se perguntavam por que ele não me batia ou me mandava para aquele lugar. Que nada! João é um sujeito para lá de agradável, e sabia tirar proveito das minhas brincadeiras. É duro querer viver de torneios que cobram 20 “pursas” de rake, ainda mais no caso dele, que fazia o supermercado com o que ganhasse de premiação: era grande demais a pressão para cima do careca, mas ele sempre dava um jeito, tanto que se sagrou bicampeão anual da Liga Curitibana de Texas Hold’em.

Às vezes ele se virava com alguma cavalada. Então, lá ia eu acusar quem o cavalava de ser trouxa e de estar comprando terreno na lua. Só que João cresceu no jogo, melhorou muito e ano passado dividiu o prêmio de um BSOP aqui em Curitiba. Não é nada fácil viver de torneios, ainda mais se você não joga online.

Todos perguntaram: quanto vale a cabeça do João, Tevez? Ao que eu respondia: Não vale nada. Hoje, João ganhou meu reconhecimento. Pelo seu próprio esforço, ele parou de ser motivo de chacota da minha parte e passou a despertar em mim uma profunda admiração – e ele vai muito longe.

Vi o João feliz, junto com sua esposa no Tower Cruise 4. Lá, ele me disse: “Tevito, pode acreditar: este ano vou ter um bom resultado”. Ele até recebeu o apelido de caça-níquel (porque colhia e não devolvia nunca), até o dia em que forrou de uma vez só todo mundo que acreditou no seu potencial: seus resultados fizeram um investidor local acreditar nele.

Foi bonito vê-lo engatando com tudo pago, focado só no pano. Puxar seria consequência. E ele o fez. E fez isso dando aula de poker na mesa final, sem deal. Chega a ser irônico: eu, que cobri tantos torneios, perdi a chance de estar lá e ver o João mostrar seu talento.

Teve um blefe que ele deu, que eu só conheço uma pessoa aqui de Curitiba que faria igual (eu e ele sabemos de quem se trata). Essa jogada acabou com o torneio da galera. João não perderia mais. E puxou.

Ele voltou para Curitiba e teve sua merecida homenagem. Fora isso, forrou o investidor, aturou meus conselhos de investir seu bankroll e por aí vai. Comprou um bom carro, pagou adiantado um ano de escola das crianças e o resto deixou com a esposa, que sabe muito bem o que fazer.

Tá assim de gente querendo comprar “pursas” dos próximos torneios do Paraná. Mas ele já esta compromissado. Se conseguir o visto e for à WSOP, eu o banco sozinho num torneio: é retorno garantido.

Muita gente ficou feliz com a vitória do João. Eu, porém, certamente fui um dos que ficaram mais felizes. Daqui para a frente, Sr. João Paraná, se eu alguma vez chamá-lo de “trouxa”, estarei cometendo uma tremenda injustiça: pode me dar uma bolacha nos ouvidos.

Parabéns, batalhador, craque e amigo. Bem puxado, João Paraná!




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×