Vejo muito garoto me dizendo: “Tevito, cravei ontem! Vou mesmo me dedicar 100% ao poker!” Fico p*** da vida. E meu apelo é continuo: “Vai estudar, menino! Pare de viajar da maionese!” Todos os dias eu alerto que o poker tem que ser apenas uma diversão, e não uma obsessão. Para 99% dos que jogam, poker deve ser entretenimento!
Acho que conheço mais de 3000 jogadores, mas apenas uns 20 que vivem exclusivamente dele – o resto ou tem altos e baixos ou quebraram ou desistiram. Outros, ainda, tiveram a inteligência de ouvir suas famílias quando diziam que estavam se tornando nerds viciados: pararam, tomaram uma dose de “Semancol”, e agora jogam por diversão.
O setor mais atingido é o de jogadores de cash games. Lá, no longo prazo, são poucos os que forram. Nem poderia ser diferente, com o rake cobrado atualmente no país, só forra quem churrilha pesado ou é mágico. Já o pessoal que joga torneio sofre os males da variância, que é absurda e chega fazer estragos sérios no seu bankroll. Outros – os que não sofrem desse mal porque são gênios – dão um jeito de engatar em três torneios e duas mesas de cash game ao mesmo tempo. Em outras palavras, tenho visto grandes jogadores em longas sessões de cash game, sempre atolando depois de uma forra. Quem tem se dado bem é a galera do sit-n-go. A razão é simples: de longe, são os mais disciplinados. (E tem que ser mesmo, porque, pelo menos para mim, acho monótono.)
Tenho ouvido falar de gente que tem tido problemas porque começou brincando e agora está abusando – poker é para curtir, hermano! Ele é lindo de ser jogado, e os locais são freqüentados por pessoas da maior qualidade. Mas fique atento para não passar da conta, e tenha sempre os pés no chão: poucos vão conseguir ter uma vida confortável vivendo de jogo. Você que é jovem, vá estudar, namorar e curtir sua família. Combine com eles que vai praticar poker, e não fazer dele uma obsessão. Assim, você terá uma vida socialmente ativa e um grande lazer com esse maravilhoso entretenimento. Curta o poker! Deixe que ele seja uma profissão para alguns eleitos, como Akkari, Alê Gomes, CK, Decano, Pimenta e mais uma meia dúzia.
Existe coisa melhor do que ganhar um alvará da dona da pensão para jogar um BSOP, passar dez dias em Las Vegas ou tirar um domingão para engatar no online? Porem, é preciso dar aos que lhe amam uma vida com você, que eles possam tê-lo presente, que lhe vejam tendo uma vida normal, e não como um alucinado que pensa 100% do tempo em poker. Se você equilibra a balança, facilita tudo, e pode conciliar as coisas.
Você e eu sabemos, mano, que não existe cara mais insuportável do que um sujeito que acabou de tomar uma bad beat. E você costuma descontar essa indignação em quem? Por acaso, você tem consciência de que as pessoas que fazem parte da sua vida não fazem a menor ideia do que seja perder para dois outs no river? O que eles vão ver é um filho, um irmão, um sobrinho, um amigo totalmente tiltado. E, claro, vão pensar que você é um idiota, um desequilibrado. Você vai perder namorada, seus pais vão ficar loucos, porque, ao invés de construir seu futuro, você passa noites em frente a um computador ou nos clubes. E isso vale para os marmanjos também, que são casados e têm filhos.
Tenho leitores inteligentes, que não arriscam mais do que podem. Portanto, nem é tanto em nome da grana que falo isso, mas em noma da convivência. Dedique tempo a sua família, seus estudos ou seu trabalho. Planeje-se, divirta-se com o poker: faça com que este jogo tão lindo seja apenas um hobby praticado com serenidade – esse é o barato do negócio. ♠
