Os jogadores profissionais Phil Laak e Ali Eslami viajaram recentemente a Vancouver, Canadá, onde aconteceu a “Conferência da Associação pelo Avanço da Inteligência Artificial” (Association for the Advancement of Artificial Intelligence), para enfrentar um programa de computador projetado para vencer os melhores jogadores de poker do mundo.
Na exibição de dois dias, os humanos ficaram na frente.
Laak e Eslami foram convidados por um grupo de programadores da Universidade de Alberta, que tem um departamento dedicado ao desenvolvimento de computadores capazes de derrotar os humanos em jogos. Há pouco tempo, a instituição conseguiu seus minutos de fama mundial ao anunciar que havia “solucionado” o jogo de damas. Isso significa que eles desenvolveram um programa, o Chinook, que não pode ser vencido. Ele sempre irá ganhar ou empatar.
O computador contra o qual Laak e Eslami jogaram, chamado Polaris, é especializado em uma forma particular de poker: heads-up de limit hold’em. E, como em toda competição científica que se preze, havia premiação envolvida.
A disputa funcionou da seguinte maneira: os jogadores participavam de quatro sessões de 500 mãos, de limit hold’em de $10-$20. Se os humanos ganhassem do Polaris um total de 25 small bets ou mais por sessão, dividiriam $5.000. Se nem os humanos nem o computador conseguissem ganhar as 25, a sessão seria considerada empatada e os humanos dividiriam $2.500. Se os humanos levassem todas as quatro sessões, dividiriam $50.000. Por outro lado, se o Polaris conseguisse 25 small bets em qualquer uma das quatro sessões, os humanos não levariam nada.
Os dois jogadores atuaram simultaneamente – um em frente à platéia e outro em uma sala fechada – numa espécie de poker duplicado. Isso significa que as cartas que Laak recebesse seriam as mesmas que o Polaris teria para jogar contra Eslami.
Depois das duas partidas do primeiro dia, Laak parecia estar disposto a jogar a toalha.
“(Polaris) é fenomenal. Ele simplesmente joga de forma perfeita o tempo todo”, disse Laak. “Esta coisa nos derrotou.”
A primeira sessão terminou com Eslami e Laak obtendo uma pequena vantagem de sete small bets (Eslami ganhou $465, mas Laak perdeu $395) o que indicava um empate; mas a segunda foi vencida pelo Polaris, que derrotou os jogadores ao faturar $950.
Laak logo viu que esse programa era muito melhor que o que ele havia enfrentado dois anos atrás, quando representou a raça humana no World Poker Robot Championship.
O Polaris, que está sendo desenvolvido desde 1991, foi programado para provocar os adversários e fazer armadilhas como se fosse um jogador de verdade, ajustando-se ao estilo do oponente e identificando suas fraquezas. O programa joga um heads-up tão perfeito que sua principal estratégia é a mesma de muitos profissionais: agir de forma segura e esperar pelo erro do adversário.
“Isso basicamente define toda a minha estratégia”, diz Laak. “E essa é a linha de raciocínio do programa: acho que vamos empatar.”
Mas o segundo dia foi diferente para os humanos. Na terceira sessão, Laak ganhou $1.455 enquanto Eslami perdeu $635, o que deu a eles um lucro de 82 small bets. Na última partida, Eslami ganhou $460 e Laak levou $110, conquistando a vitória com 57 small bets.
O placar final: humanos, duas vitórias e um empate; Polaris, uma vitória.
Laak disse que não foi fácil. Ele ponderou cada decisão pós-flop por cerca de cinco minutos para ter certeza de que estava fazendo o movimento correto. Disse também que havia se reunido com Eslami na noite anterior para conversar sobre uma maneira de derrotar a máquina. Foi necessário muito raciocínio e paciência.
Laak and Eslami não participaram do simpósio apenas pelo dinheiro. Ambos disseram que adoram estar rodeados de pessoas inteligentes, e Jonathan Schaeffer, responsável pelo projeto, e sua equipe se encaixam nesse padrão. Laak e Eslami também.
“Esses caras são fantásticos. Eles são simpáticos e interessados. Acreditamos que jogadores assim chegam a ser perigosos para nós, porque entendem a matemática por trás do jogo,” disse Schaeffer. “É impressionante. Estou admirado com a profundidade da percepção deles.”
Schaeffer afirmou estar “maravilhado” com a competição, e disse que aguarda ansioso por partidas futuras contra Laak, que afirmou já se sentir parte da equipe de pesquisadores. O prazer, segundo Laak, é todo dele. ♠