Fala, galera da CardPlayer Brasil! Nesta edição especial de 2 anos da revista, apresento para vocês os detalhes do meu torneio no evento #35 da World Series Of Poker 2009 (Pot-Limit Omaha de $5.000), em que consegui alcançar a mesa final e a 6ª colocação.
Por mais que eu tenha deixado escapar a vitória no torneio e o sonho do bracelete de ouro, é claro que estou muito contente, afinal, foi a 1ª mesa final de um brasileiro na modalidade Omaha. Este é um jogo que eu venho estudando e praticando bastante, o que me credenciou a estar entre os melhores do mundo na Série Mundial deste ano.
O field de um torneio de 5k da WSOP atrai as maiores feras do plane-ta. E entre os 363 jogadores que se inscreveram para esse evento, estavam praticamente todos os grandes nomes da atualidade. Era possível encontrar craques como Phil Ivey, Jeffrey Lisandro, David Benyamine, Daniel Negreanu, Sorel “Zangbezan” Mizzi, Cliff “JohnnyBax” Josephy, Isaac “WestmenloAA” Baron, Patrick Antonius, John Juanda, Tom “Durrrr” Dwan, Peter Jetten, Noah Schwartz, Matt Graham e muitos outros competidores de alto nível.
Meu torneio começou em uma mesa duríssima, composta por JohnnyBax, Nam Le, John Kabbaj e pelo menos outros dois jogadores com grande currículo no poker. E logo no começo tomei uma grande fatiada com top set, contra um jogador escandinavo claramente me acompanhando no flush draw. O mais curioso é que o flush apareceu no river, e, depois de eu dar mesa, ele pensou por cerca de trinta segundos e resolveu dar mesa também, apresentando Q-high flush. No segundo nível de blinds (100-200), tomei uma tremenda bad beat, que me deixou short stack. Prestem atenção nesta jogada, pois ela realmente foi de uma arquitetura miraculosa.
UTG entra de limp e três calls ocorrem. Quando a ação chega no SB, um jogador russo de perfil loose resolve apostar o pote, no valor de 1.100. Eu olho minhas cartas no BB e encontro A-A-9-7 double-suited, e reaumento para 2.850. Para minha surpresa, a mesa toda dá call, e então a equidade da minha mão já tinha ido pro espaço, ou seja, preciso acertar o flop – e muito bem acertado, por sinal. Mas quando a ação chega novamente no russo, que já tinha as fichas separadas para dar o call antes mesmo de chegar sua vez de falar, ele resolve aumentar novamente e ir de all-in por 7.500 fichas. Claro que eu, internamente, comemorei muito, pois essa jogada dele tinha realmente salvado a minha mão: eu agora teria a chance de reaumentar pela quarta vez, para 12k, e me isolar no pote contra ele, afinal eu sou o próximo jogador com a ação e os demais não terão odds para dar call. Perfeito! É, mas as surpresas não haviam acabado... Uma jogadora no UTG fala: “Let’s gamble!” e vai de all-in por 8k. Os demais jogadores dão fold, e apresentamos as mãos: o russo que deu dois reraises apresenta 9-7-7-2 single-suited (?), a senhora abre J-J-8-7 double-suited, e eu abro A-A-9-7 double-suited. Neste instante estou dominando ambos no flush draw de copas e espadas (eu perderia apenas para paus). O flop foi terrível: J-7-5 rainbow, e não tive ajuda do turn nem do river. Caí para 6k em fichas.
Logo no final desse nível, vim com A-A-K-Q single-suited e voltei a aposta de um adversário que me colocou all-in com a melhor mão possível, K-K-x-x. Dobrei e, depois de acertar alguns flops, voltei para 20k antes do intervalo. Daí pra frente comecei uma boa escalada no meu stack, mas alguns hits não me deixaram ultrapassar muito da média de fichas, como trinca contra flush draw e outras mãos normais no Omaha. Terminei o Dia 1 com 95k, com a média em 85k.
Sobre o Dia 2, já vou começar dizendo assim: “Foi o melhor poker que eu já apresentei na vida”. Tomei uma série de decisões muito felizes e estava com timing de jogo muito ajustado, o que me fez manter o meu stack num tamanho adequado. Neste dia houve duas mãos muito importantes que me alavancaram. Na primeira, eu tinha um stack de 75k e dei um call do button com J♣J♦T♦8♣. Com outros três jogadores na ação, o flop veio T♣9♣4♦, sendo que eu acertei um draw para straight-flush. A minha mão não é tão forte assim, pois facilmente sou batido com J-high flush, e minha sequência nunca é nuts, exceto se entrar o 7. O primeiro adversário dá check, e o segundo aposta 14k. Dou call em posição e o outro jogador dá fold. No turn aparece a carta milagrosa: 7♣ (isso mesmo, straigh-flush!). Meu adversário aposta o pote, que já era quase suficiente para me colocar em all-in, que eu mesmo anunciei com as 20k fichas restantes. Ele dá call com nut-flush e eu tenho o straight-flush! Sensacional! Dou um salto para 150k e agora tenho stack para brigar com os grandes da minha mesa.
Nesse momento, o chip leader Jesper Hougard, com 550k em fichas, é transferido para a minha mesa. Além do grande estoque, ele também é um excelente jogador, e estava pressionando muito. Quando eu disse que foi o melhor poker que apresentei na vida, estava falando em jogar fora de posição contra um adversário forte e com quatro vezes o meu stack. Eu sabia que ali era a galinha dos ovos de ouro, pois arrancar fichas dos demais jogadores estava difícil, já que eles estavam jogando muito firme e tight. Então, pelo poker sólido que eu vinha apresentando, minha estratégia foi deixar ele encarecer o pote e voltar todas as minhas fichas no turn, pois eu sabia que ele estava jogando mãos muito marginais e seria improvável que me desse call com qualquer mão média. E assim, em dois grandes blefes contra Jesper, consegui subir 220k. No segundo, a jogada foi bem interessante: ele abriu raise do UTG+1, e eu dei call do button com 2-3-4-5 single-suited em paus. O flop vem A-5-9 com duas de espadas, e eu acerto um wrap de nove outs com um par. Ele dispara o pote, e eu dou somente call. No turn, um T♦ não muda muita coisa, e ele dispara o pote de novo. Simulando claramente ter uma mão forte e, quem sabe, o draw para flush (algo como trinca e flush-draw ou top-two e flush-draw), dei call mais uma vez, pois eu sabia que, ainda que eu não fechasse a minha mão, ele se assustaria com o segundo call e talvez reduzisse a marcha no river. E foi exatamente o que aconteceu. O river trouxe um 6♠, deixando três desse naipe no bordo. Ele prontamente deu check, e depois de 30 segundos eu anunciei all-in. Ele pensa um pouco e, como o previsto, dá fold, pois estava forçando a barra desde o começo, talvez com um ás apenas. Alcancei a marca de 300k em fichas sem nenhum showdown e com jogadas bem pensadas, que exigiram realmente o melhor de mim. Colocar todas as fichas nessa situação antes mesmo do ITM foi uma jogada classe A, e era exatamente isto o que eu queria que ele pensasse: que eu não seria capaz de fazer essa jogada na bolha do torneio se eu não tivesse o nuts. Na verdade, essa jogada teve um risco muito bem calculado, e o único problema dela seria se ele tivesse fechado realmente alguma mão no river e apostasse, pois isso o deixaria pot-commited e só me restaria dar fold.
E foi logo em seguida que eu consegui engatar uma sequência de mãos, ganhando bons potes contra Jeffrey Lisandro e eliminando o Justin “Boosted J” Smith. Dobrei o meu stack numa grande mão contra o JohnnyBax. Ele deu raise do cut-off, e eu paguei do big blind, com 2-4-6-7 single-suited em espadas. O flop trouxe 2-3-T com duas de espadas, e dei check no flop para ele apostar. Depois de algum tempo, voltei all-in. Ele demorou muito, mas muito tempo, e resolveu dar call, apresentando apenas K-K-x-x, ou seja, overpair. Com isso, minha mão tinha 70% de chances de vencer, pois tinha uma combinação bem forte com par, straight e flush-draws. Logo no turn eu acertei o meu straight com 5, dobrei e disparei para acima da média.
Quando entramos na faixa de premiação, as eliminações começam a acelerar, e logo chegamos à mesa semifinal. Num determinado momento, restavam 11 jogadores, e a minha mesa estava 5-handed. Eu tinha 550k em fichas e um bom stack para a mesa final, que estava perto de se formar. O chip leader do torneio era Rifat Palevic, com 850k, e ele abre raise do UTG para 60k, com blinds 10k-20k. O short stack da mesa, que tinha 250k, volta o pote e fica praticamente em all-in. Estou no button, encontro A-A-J-T single-suited em espadas e dou reraise do tamanho do pote, que era quase o meu all-in também. O chip leader dá fold, e Dan Hindin apresenta K-J-T-8 double-suited em espadas e copas. Que maravilha! Ele está dominado em espadas, o que o deixa numa situação de 28,5% de chances de ganhar a mão. Mas o flop foi cruel demais, trazendo três cartas de copas para ele acertar o flush e dobrar. E eu, que ia entrar na mesa final com 800 mil fichas, fiquei numa situação de short stack com 360 mil. Pelo menos essa foi a última mão do dia, e um banho e uma boa noite de sono recarregariam as minhas energias para voltar no dia final com o espírito renovado, pronto para alcançar a mesa final. E foi o que aconteceu.
No dia final, quando estávamos em hand-for-hand para formação da FT, ganhei simplesmente todos os potes que joguei com raises roubando os blinds e mantendo o stack. Escalei para 452k. Depois de Isaac Baron ser eliminado, a mesa final foi composta assim: