Antes mesmo de começar a falar sobre o tema desta edição – que não poderia girar em torno de outro assunto que não fosse o Bestpoker Team na WSOP –, acho que eu preciso fazer uma pausa para comentar o quão importante é termos uma revista como a CardPlayer Brasil comemorando dois anos de vida.
Faço parte desta história desde o início, não só escrevendo mensalmente, mas também vendo o esforço dos editores em aumentar a qualidade do material, acrescentar novos colu-nistas, forçar-nos a trazer material rele-vante e interessante para os leitores.
A CardPlayer americana existe há 20 anos, dez vezes mais tempo que a versão nacional, e a presença de uma publicação com esse respaldo no mercado brasileiro aumenta a credibilidade do poker e ajuda na nossa eterna briga por um espaço justo para o nosso jogo. Espaço que, aliás, vem sido conquistado à unha. Não foi surpresa encontrar quase 100 brasileiros nesta temporada em Las Vegas – e eu cheguei até tarde pra festa! Quando finalmente pousei em Las Vegas, perto do final de junho, Felipe Mojave, primeiro membro do BestPoker Team, hoje com o Party Poker, já havia sido o terceiro brasileiro a frequentar as mesas finais da WSOP. Belíssimo resultado, principalmente se considerarmos que não foi no Texas Hold´em, mas sim no Omaha.
É claro que tínhamos outros destaques rolando, como o desempenho do Gualter Salles e do Diego Vilela, que também nos deixaram ansiosos com a possibilidade de mais jogadores nas mesas finais. Em resu-mo, uma WSOP que prometia. Isso sem falar nos resultados pipocando nos eventos paralelos, como o DeepStack Extravaganza do Venetian, e o MegaStack do Caesars.
Vou dar agora uns passos atrás e relembrar como foi a decisão de formar o BestPoker Team. Há uns dois meses, o CEO do BestPoker, Henrik Magnusson, que atualmente está morando no Brasil, nos chamou para uma reunião em Belo Horizonte. Eu e Rafael Caiaffa já tínhamos laços com o BestPoker desde o final do ano passado, e logo iríamos ser apresentados aos outros dois membros do time: Nelson Dantas e Daniel Hooray, ambos do Rio de Janeiro.
Henrik explicou como ele queria um time eclético, e que não fosse somente composto por nomes já conhecidos do cenário do poker no Brasil. Escolheu o Nelson por ele ter sido, no ano anterior, o campeão do CBO (Campeonato Brasileiro Online). Aliás, este vai ser o maior passaporte para a WSOP do ano que vem, já que serão distribuídos 20 pacotes com passagem, hospedagem e buy-in para os participantes do CBO 2009. Já o Daniel, que online é conhecido como “77theNuts”, foi escolhido pelos seus resultados em torneios no próprio site – ele chegou a ser líder da rede ongame como jogador de MTTs na internet.
Com os quatro jogadores esco-lhidos, tínhamos que traçar o planejamento para o ano, e foi quase unânime que o primeiro torneio ao vivo grande seria o Main Event da WSOP. E que usaríamos este torneio para mostrar aos demais usuários do BestPoker que a porta do time está aberta para outros membros. Mesmo antes de embarcarmos para Vegas, houve um momento em que pensamos em adicionar ainda um quinto jogador para a World Series. Mas a viagem estava muito próxima, e decidimos que escolheríamos mais um jogador para os próximos eventos. Daniel, que gosta mais do ambiente online, não veio para a Série Mundial. Mas Caiaffa, Nelsinho e Leo Bello (eu mesmo!) estávamos prontos.
Criamos um website para que todos pudessem acompanhar o andamento da WSOP (bestpokerteam.com.br). O objetivo era que esse fosse um portal no qual, além das notícias dos torneios, pudéssemos também colocar material de estudo para quem estivesse visitando o site, como artigos, vídeos, mãos jogadas etc. O objetivo seria disponibilizar um portal interativo, em que o visitante pudesse enviar perguntas e postar comentários, gerando uma proximidade entre o pessoal do time e quem estava acompanhando. Algo diferente das coberturas em geral. Porém, com a proximidade do evento, decidimos que a cobertura seria feita também através do meu próprio site, www.leobello.com.br (desenvolvido pela equipe da CardPlayer Brasil), que já estava pronto e funcionando há mais tempo.
Participar de um torneio patrocinado envolve mais do que simplesmente ir lá e jogar. Uma parte importante é desenvolver a interação entre os jogadores do time. Com isto em mente, assim que chegamos, fizemos vários programas por Las Vegas, desde sair para compras até ir fazer o registro para o Main Event, todo mundo junto. A interação chegou ao ponto de marcarmos uma viagem para o Hawaii depois do Main Event – um momento de descontração, de conhe-cer as praias paradisíacas das ilhas e aproveitar para mergulhar e fazer trekking. Acho que isso tudo faz parte da experiência de ser um jogador profissional de poker. A grande maio ria sabe que eu, antes de me profissionalizar, trabalhava com Medicina. Agora, tenho a oportunidade de trabalhar e viajar pelo mundo, conhe-cendo bons restaurantes, pessoas interessantes e lugares que eu tinha só na imaginação.
Mas acredito que o que mais interessa a vocês é saber como foi a experiência de jogar o Main Event, afinal, não é todo dia que você coloca US$10.000 de inscrição em um torneio. Falando nisso, nunca vi tantos brasileiros participando: este ano acho que chegamos a quase 50 inscritos. Ok, apenas uma pequena fração dos quase 6500 jogadores, mas ainda assim, impressionante para o nosso país. Muitas feras por lá!
Decidi jogar no último dia, e já comecei com pressão nas costas, pois meus companheiros de time, Caiaffa e Nelsinho já tinham feito o dever de casa e passado para o segundo dia. O torneio deste ano começou com 30.000 fichas, e blinds que duravam duas horas. Impressionante, pois eu joguei cinco níveis no primeiro dia, e os blinds estavam só em 200/400. Ou seja, quem estava com as mesmas 30.000 fichas do início do dia, tinha 75 big blinds para jogar.
Mas apesar da aparente facilidade, meu primeiro dia foi muito complicado, e de uma maneira bem estranha. Eu recebia boas cartas sem parar: um festival de AA, KK, QQ, que simplesmente não se transformavam em fichas. No primeiro break, lembro que passei com 28K. No segundo break eu já estava próximo de 23K e, quando paramos para o jantar no final do terceiro nível, eu tinha chegado a apenas 12K em fichas. Para que isso acontecesse, eu perdi com AA em um bordo com Q-J-Q-9-T em que, após ser aumentado no river, não tive outra opção além de jogar minhas cartas fora. Outra mão complicada foi quando recebi KK, e o flop veio A-Q-Q, e minhas cartas fizeram um sprint até o muck. Se perder uma vez com AA e uma com KK é pouco, logo tive outro KK quebrado. E esse em um fold meu muito bom, pois, em um flop com 8-5-3 rainbow, larguei diante um mega-raise no flop: o jogador tinha trincado o 8 contra mim.
Bem, faltava perder com QQ, JJ e TT, não é? Então, logo completei o Grand Slam do poker às avessas. Com QQ contra AK, quando o bordo veio A-8-3. Com JJ, que encontrou resistência pela frente em um flop com A-K-3. E por último com TT, mas nesse vou poupar os detalhes. O que restava fazer? Chorar pitangas? Claro que não. Um bom jantar e uma volta por cima. E com estilo, quando o meu TT quebrou AA no river! Nessa mão pulei de volta para 26K e daí subi, até chegar aos 45K nos dois últimos níveis do Dia-1, quase sem mostrar minhas cartas.
Comecei a ficar bem a vontade e impor o meu jogo. Mas confesso que o call do dia foi quando, faltando apenas 20 minutos para acabar o dia, eu tinha cerca de 32 mil fichas e me envolvi em um pote que poderia ter me quebrado. Eu tinha QQ e subi fora de posição. O jogador que havia quebrado meu AA deu call, e o que tinha quebrado o KK e o QQ acompanhou. Flop 9-9-J. Eu dei mesa, e fui seguido pelos adversários. No turn veio uma carta baixa, que não mudava a situação. Dei mesa de novo, e o jogador à minha esquerda apostou 3.5K. Resolvi pagar após o fold do outro adversário. Meu plano nessa hora era dar check-call no river se nenhuma carta estranha aparecesse. A quinta carta veio baixa, e não mudava o bordo. Só que aí, o inesperado: após meu check, o adversário vai all-in de 13 mil fichas. Era uma overbet, mais fichas do que tinha no pote. Se eu desse call nessa aposta e perdesse, ficaria com cerca de 12 mil fichas, voltando para situação de antes do jantar, faltando apenas 20 minutos para acabar o Dia-1.
Tive que me fechar e começar a pensar na jogada... Eu perdia para JJ e para um ou mais noves na mão dele. Perdia também para trincas pequenas e AA ou KK. Só que, revendo a jogada na cabeça, ele não parecia ter nenhuma dessas mãos, e a aposta no river foi inexplicavelmente grande. Reunindo toda minha coragem, dei call. Ele mostrou 88. Eu acabava de eliminar mais um jogador e chegar a 45 mil fichas! Na última mão do dia, ainda recebi KK em UTG, mas ninguém pagou meu raise. Objetivo 1 cumprido!
Dia 2 pela frente, mas não sem antes descansar um pouco: um dia de piscina, relaxamento e, claro, energizar com a força que vinha do Brasil. E o segundo dia foi o melhor de todos. Curiosamente, não recebi jogos premium como no dia anterior. Mas em compensação, fui jogando sem fazer showdown, sem mostrar minhas cartas ria sabe que eu, antes de me profissionalizar, trabalhava com Medicina. Agora, tenho a oportunidade de trabalhar e viajar pelo mundo, conhe-cendo bons restaurantes, pessoas interessantes e lugares que eu tinha só na imaginação.
Mas acredito que o que mais interessa a vocês é saber como foi a experiência de jogar o Main Event, afinal, não é todo dia que você coloca US$10.000 de inscrição em um torneio. Falando nisso, nunca vi tantos brasileiros participando: este ano acho que chegamos a quase 50 inscritos. Ok, apenas uma pequena fração dos quase 6500 jogadores, mas ainda assim, impressionante para o nosso país. Muitas feras por lá!
Decidi jogar no último dia, e já comecei com pressão nas costas, pois meus companheiros de time, Caiaffa e Nelsinho já tinham feito o dever de casa e passado para o segundo dia. O torneio deste ano começou com 30.000 fichas, e blinds que duravam duas horas. Impressionante, pois eu joguei cinco níveis no primeiro dia, e os blinds estavam só em 200/400. Ou seja, quem estava com as mesmas 30.000 fichas do início do dia, tinha 75 big blinds para jogar.
Mas apesar da aparente facilidade, meu primeiro dia foi muito complicado, e de uma maneira bem estranha. Eu recebia boas cartas sem parar: um festival de AA, KK, QQ, que simplesmente não se transformavam em fichas. No primeiro break, lembro que passei com 28K. No segundo break eu já estava próximo de 23K e, quando paramos para o jantar no final do terceiro nível, eu tinha chegado a apenas 12K em fichas. Para que isso acontecesse, eu perdi com AA em um bordo com Q-J-Q-9-T em que, após ser aumentado no river, não tive outra opção além de jogar minhas cartas fora. Outra mão complicada foi quando recebi KK, e o flop veio A-Q-Q, e minhas cartas fizeram um sprint até o muck. Se perder uma vez com AA e uma com KK é pouco, logo tive outro KK quebrado. E esse em um fold meu muito bom, pois, em um flop com 8-5-3 rainbow, larguei diante um mega-raise no flop: o jogador tinha trincado o 8 contra mim.
Bem, faltava perder com QQ, JJ e TT, não é? Então, logo completei o Grand Slam do poker às avessas. Com QQ contra AK, quando o bordo veio A-8-3. Com JJ, que encontrou resistência pela frente em um flop com A-K-3. E por último com TT, mas nesse vou poupar os detalhes. O que restava fazer? Chorar pitangas? Claro que não. Um bom jantar e uma volta por cima. E com estilo, quando o meu TT quebrou AA no river! Nessa mão pulei de volta para 26K e daí subi, até chegar aos 45K nos dois últimos níveis do Dia-1, quase sem mostrar minhas cartas.
Comecei a ficar bem a vontade e impor o meu jogo. Mas confesso que o call do dia foi quando, faltando apenas 20 minutos para acabar o dia, eu tinha cerca de 32 mil fichas e me envolvi em um pote que poderia ter me quebrado. Eu tinha QQ e subi fora de posição. O jogador que havia quebrado meu AA deu call, e o que tinha quebrado o KK e o QQ acompanhou. Flop 9-9-J. Eu dei mesa, e fui seguido pelos adversários. No turn veio uma carta baixa, que não mudava a situação. Dei mesa de novo, e o jogador à minha esquerda apostou 3.5K. Resolvi pagar após o fold do outro adversário. Meu plano nessa hora era dar check-call no river se nenhuma carta estranha aparecesse. A quinta carta veio baixa, e não mudava o bordo. Só que aí, o inesperado: após meu check, o adversário vai all-in de 13 mil fichas. Era uma overbet, mais fichas do que tinha no pote. Se eu desse call nessa aposta e perdesse, ficaria com cerca de 12 mil fichas, voltando para situação de antes do jantar, faltando apenas 20 minutos para acabar o Dia-1.
Tive que me fechar e começar a pensar na jogada... Eu perdia para JJ e para um ou mais noves na mão dele. Perdia também para trincas pequenas e AA ou KK. Só que, revendo a jogada na cabeça, ele não parecia ter nenhuma dessas mãos, e a aposta no river foi inexplicavelmente grande. Reunindo toda minha coragem, dei call. Ele mostrou 88. Eu acabava de eliminar mais um jogador e chegar a 45 mil fichas! Na última mão do dia, ainda recebi KK em UTG, mas ninguém pagou meu raise. Objetivo 1 cumprido!
Dia 2 pela frente, mas não sem antes descansar um pouco: um dia de piscina, relaxamento e, claro, energizar com a força que vinha do Brasil. E o segundo dia foi o melhor de todos. Curiosamente, não recebi jogos premium como no dia anterior. Mas em compensação, fui jogando sem fazer showdown, sem mostrar minhas cartas