EDIÇÃO 24 » COLUNA NACIONAL

Pelos caminhos do small-ball - Parte V

Jogo no River


Raul Oliveira

Fechando a série sobre small ball, nesta edição vamos ver como nos comportarmos no river utilizando essa estratégia. Para quem não acompanhou os últimos artigos, lembro que o small ball é uma linha de raciocínio uti¬lizada em torneios, e seu principal objetivo é maximizar os lucros e minimizar os riscos. E, como em todas as outras estratégias, ter posição é a base do sucesso.

A primeira dica que dou é que, no small ball, o blefe no river não é uma boa arma. Salvo raras exceções, essa jogada está fadada ao fracasso, já que sua imagem na mesa tende a ser bastante loose, fazendo com que a frequência com que você receberá calls no river seja bem maior do que a de um jogador tradicional. A boa notícia é que, da mesma forma que é ruim blefar, é bem mais fácil extrair valor no river quando você tiver uma mão realmente boa. Por isso, outra recomendação que faço é: quando estiver blefando, aposte o mesmo percentual do pote que você apostaria se tivesse uma mão de verdade.

Quando apostar é a melhor opção

Como temos visto, o valor das bets é a chave do sucesso no small ball, e no river continua sendo muito importante. Vamos a um exemplo de como funciona o raciocino para essa aposta: um jogador abre raise de 2.400, com blinds 400-800, numa das posições iniciais. Você dá call do button, com 87s. O flop vem K-6-5 rainbow, e ele dispara 3.000. Voce dá call, e no turn aparece um ás. Ambos pedem mesa, e no river vem um 4, deixando você com o nuts. Seu oponente dá check de novo, e agora e sua vez. Temos 12.900 no pote, e digamos que cada um de vocês tem cerca de 30.000 para trás. Aqui, você teria três opções de bet: apostar o valor do pote, 70%-80% do pote, ou uma aposta mais baixa, como 30%-40% do pote, que é exatamente a opção que melhor vai funcionar, vamos entender por quê.

Considerando que seu adversário deu check no turn e no river, podem¬os facilmente enquadrá-lo numa mão fraca (em algumas exceções, numa mão monstro). Logo, dando uma bet bem baixa, você primeiro faz com que ele dê call em certos casos, para ver se você esta blefando. Diante desse valor, ele poderia fazer isso tranquilamente com um par na mão, ou mesmo KQ ou KJ. Fora essa possibilidade, quando realmente ele tiver um monstro, o seu bet de 30% não vai satisfazê-lo, e a chance de ele voltar um raise é enorme – isso sem contar que, apesar de ser raro, você ainda vai encontrar um jogador disposto a blefar contra você nesse river, justamente pela abertura que foi dada com essa bet.

Quando dar check é melhor do que apostar

Agora vamos ver quando dar check no river é melhor do que apo¬star. Em algumas situações, quando você estiver fora de posição, será melhor abrir check do que apos¬tar em alguns bordos. Para isso, é essencial que se tenha uma leitura do adversário e um bordo em que ele possa imaginar que você sim-plesmente não acertou seu draw. Por exemplo: você defendeu seu blind com A4, e o flop veio QT4. Você dá check-call no flop. Um T veio no turn, e ambos pediram mesa. No river bate um 3, e você, em vez de sair apostando, dá check. Repare que o flop possibilita vários tipos de queda, logo, se seu adversário não tiver uma mão com valor de showdown, ele vai ter que apostar de novo, tentando levar o pote, e assim você consegue maximizar sua mão. Caso ele tenha a melhor mão, tanto dando bet quanto pagando você perderia mais fichas.

Quando uma aposta é a melhor defesa

Outra arma importante no river é usar a bet como defesa. Isso tem o propósito de minimizar perdas quando você não tem a certeza se está ou não com a melhor mão noriver. Vamos a mais um exemplo: com blinds em 100-200, você paga um raise de 600 no big blind, com 55. O flop vem com 765. Você dá check-raise no seu adversário, que paga sua bet. No turn bate um 2. Você dispara $3.500, e ele paga. No river, um 4, carta que tira valor da sua trinca. Agora o pote tem 13.300, e vocês têm algo em torno de 30k para trás. Dar check aqui pode se tornar uma jogada perigosa, já que seu adversário pode fazer uma apos¬ta forte, deixando você numa situa¬ção bem complicada. Mas se você sair apostando, praticamente neu¬traliza a bet dele. E, caso ele volte um caminhão, você vai largar sua trinca “tranquilamente”. A chave aqui é que essa bet é uma aposta defensiva, então, num pote de 13k, uma bet de 4k ou 5k já seria mais do que suficiente. Outra vantagem dessa aposta é que, em alguns casos, você vai conseguir receber call de um overpair, achando que você não acertou seu flush.

Quando o fold é a opção mais correta

Outro ponto importante é saber largar mãos no river. Como você é um jogador de small ball, várias vezes vai se encontrar na quinta carta em determinada mão, e é preciso iden¬tificar as situações perigosas e saber sair delas. Uma boa leitura, alguma tell ou mesmo feelings baseados no estilo de jogo dos seus adversários são artifícios que você deve utilizar na hora de tomar essa decisão.

Para finalizar, vale a pena ter em mente essas cinco perguntas antes de jogar o river. Claro que, de acordo com a situação, você vai ponderar sobre quais deve pensar antes de agir:

Seu oponente vai pagar sua 1. bet?

É possível que ele aplique 2. um check-raise?

Ele vai dar 3. check em posição em mãos que você esta ganhando?

Ele pode dar 4. check-raise blefando contra você?

Realmente vale a pensa 5. apostar e correr o risco?

Após esses pensamentos, volto a bater numa tecla que eu faço ques¬tão: antes de qualquer jogada, pense no que você esta querendo com ela. Não jogue apenas suas cartas ou o bordo. Jogadores pensantes vencem muito mais do que os impulsivos.

Espero que tenham curtido esta série do small ball. E na próxima edição, como prometido, trarei um artigo sobre “anti-small ball”. Até lá!




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