Para quem vem acompanhando as últimas colunas, adianto que este artigo é o penúltimo da série sobre small ball. Neste mês, vamos ver como nos comportarmos no turn, que certamente é a hora mais difícil do jogo. Na próxima edição falarei sobre o jogo no river. Além desse, escreverei uma espécie de epílogo, em que abordarei o anti-small ball, já que, contra toda nova estratégia que surge, rapidamente alguns jogadores desenvolvem um antídoto. Lembrando que essa série sobre small ball tem como base o livro do Daniel Negreanu, de onde venho fazendo minhas analises e comentários.
Ao longo de toda a estratégia do small ball, a posição continua sendo a grande arma. Em posição no turn, mesmo com bets pequenos você pode continuar controlando o tamanho do pote, ou pelo menos forçar seu adversário a arriscar muitas fichas num eventual raise sobre sua bet. Fora de posição, uma jogada interessante no turn, que segue o princípio do controle do pote, é antecipar a bet após ter dado call no flop.
Por exemplo: Sua mão é 77 no big blind. Alguém dá raise, e você paga. O flop vem J-6-2. Você da check, seu oponente aposta e você paga. No turn, outro 6. Aqui, em vez de pedir mesa novamente, você sai apostando, neutralizando um blefe que lhe tiraria da mão, e mais, dizendo o quanto você esta disposto a colocar nesse turn. Afinal, se imaginarmos que sua bet foi de 3k num pote de 5k, ao dar check de repente, se você quisesse seguir na mão, teria que pagar uma aposta de 4k ou 5k. Fora isso, pela ação do seu adversário, fica bem mais fácil tomar a decisão no river. Você pode achar que dará margem para um blefe ao colocar essa bet, mas acredite: pouquíssimos jogadores vão praticar tal jogada numa situação como essa.
Apesar de não ser muito o perfil do small ball, um check-raise no turn pode – e deve – ser utilizado em algumas circunstancias. Vejamos algumas situações interessantes:
Check-Raise com o Nuts
Aqui, a estratégia é não afugentar seu adversário da mão, e dar a ele a opção de se enforcar sozinho. Por exemplo, quando você tiver um stack similar ao do seu oponente, digamos 10k, e ele apostar 1k no turn, não volte raise de 4k, 5k ou all-in: coloque algo em torno de 2,5k a 3k no máximo, dando a ele a sensação de que um all-in poderia fazê-lo ganhar o pote. Perceba que as mãos que pagariam um all-in seu no turn são aquelas que provavelmente dariam all-in sobre seu check-raise, ou pelo menos lhe acompanhariam até a bet do river.
Check-Raise Blefando
Esse move deve se basear principalmente na sua leitura do oponente, e o valor a ser colocado precisa ser o mesmo que você utilizaria caso estivesse com o nuts. No small ball, essa jogada deve ser executada quando o risco for pequeno. Uma taxa de sucesso de aproximadamente 50% já a torna vitoriosa. Vamos a um exemplo:
Você esta no big blind com J-T. Um jogador abre raise de 300 com blinds de 50-100, e você paga. O flop vem 9-5-2. Você e seu adversário dão check. No turn bate um ás. Você pede mesa novamente, e ele aposta 350. Agora tem 1.000 fichas no pote, e um bom blefe seria dar um raise do mesmo tamanho. Fazendo isso, caso seu blefe funcione 51% das vezes, já será uma jogada lucrativa. O “feeling” para o blefe deve vir da leitura que você possui do adversário, fora alguma tell que possa ter sido identificada.
Também é possível aplicar um check-raise no turn para tentar se situar na mão, ou evitar uma continuation bet de um jogador agressivo quando você tem uma mão forte, mas não premium.
Check-Raise com Draws
O check-raise no turn quase nunca deve utilizado no small ball. Partindo do princípio de que seu adversário está apostando na quarta carta, pressupõe-se que ele deva ter algo bom na mão, assim, muitas vezes esse raise vai sofrer um reraise. Isso vai impossibilitar você de ver o river ou lhe forçará (dependendo do tamanho do pote) a colocar todas as suas fichas numa queda de uma carta.
Com draws no turn, o importante é ter noção das implied odds (a quantidade de fichas que você deve ganhar se sua carta bater), e a partir disso decidir se deve ou não seguir na mão. Tomar como base apenas as pot odds não é o mais indicado, pois, isoladamente, elas não refletem o real valor da situação no longo prazo.
Uma análise mais profunda da mão pode, por exemplo, aumentar suas pot odds radicalmente. Imagine um bordo com 2♣5♣6♦J♣. Você tem 7♠8♠. Porém, dada a reação do adversário ao ver a terceira carta de paus, ficou claro que ele também não tem esse flush draw. Logo, aqui, ao pagar a bet dele no turn, você não só joga pelo 4 e pelo 9, mas por qualquer carta de paus, afinal, vindo mais uma desse naipe, é possível blefar e levar a mão tranquilamente.
Overpairs no Turn
Pelo perfil do small ball, um par no turn, mesmo que seja acima de todo o bordo, precisa ser jogado de forma bem cautelosa e estudada. Suponhamos o seguinte: você tem AA, o flop vem J-8-7, e, ao ver um 6 turn, um jogador que fala depois dá call. Diante desse cenário, você deve se perguntar algumas coisas antes de agir:
I – Meu adversário daria call pré-flop com T-9?
II – No flop, ele apenas pagaria com K-J ou voltaria raise?
III – Se ele tivesse flopado uma trinca, daria só call no flop?
IV – Se eu apostasse e ele voltasse raise no turn, ele poderia estar blefando?
Só depois de ter as devidas respostas é que você deve tomar sua decisão. Caso não tenha nenhuma informação sobre seu adversário, o melhor é apos-tar baixo para tentar descobrir onde está pisando.
Outra observação importante é a de que, em torneios deepstack, é raríssimo um all-in no turn em que um overpair esteja ganhando. Por isso, seja bastante cauteloso ao jogá-los.
Para finalizar, gostaria de deixar aqui uma boa recomendação para o turn, a saber: antes de tomar sua decisão, esteja um passo à frente. Pense no que fazer caso seu adversário dê call ou raise. Se for você que estiver dando call, pense se vai pagar a bet do river, blefar ou dar fold, dependendo da carta que vier. Enfim, no poker como na vida, o planejamento antecipado de suas ações é um passo importante para o sucesso. Até a próxima!