EDIÇÃO 23 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Análise De Jogada

Deepstack Nl Hold’em


Felipe Mojave

Vira e mexe, eu trago para vocês análises de mãos de torneios que disputei por esse mundão afora. Nesta edição, vou analisar uma jogada de no-limit ocorrida no Evento n. 2 da WSOP deste ano. Apresentarei ainda comentários feitos pelos próprios envolvidos nessa jogada tão interessante, ocorrida na reta final de um torneio deepstack.

Evento 2 da WSOP 2009
Buy-In: $40k (Torneio Especial de Aniversário da WSOP)
Situação: Bolha da mesa final (1 mesa com 10 jogadores)
Blinds: 25k-50k, ante 5k


A MÃO
Alec Torelli, com 6.000.000 em fichas (25% do total), abre raise de 130k com QJ em UTG+2. Isaac Haxton, com 2.800.000, paga com 66 em middle position. O resto da mesa dá fold, e o flop vem Q86. Alec pede mesa, e Isaac coloca 400k, o valor do pote. Depois de algum tempo pensando, Torelli volta all-in, e Haxton dá call. No turn bate um T, dando à Torelli uma queda para a gaveta. No river, vem um 3 que mantém a vitoria de Isaac.

ANÁLISE DOS JOGADORES

Eu era o chip leader e decidi ampliar um pouco o range de mãos para raise. Então joguei com QJo, que considero uma mão bem decente. Não coloquei Haxton em AA ou KK pelo fato de ele ter dado call pré-flop em posição. Acertei o top pair com queda para straight e flush na última carta, e resolvi dar check para induzí-lo a blefar, pois ele sabe que eu vou dar check-fold muitas vezes naquela situação. Ele apostou 400 mil, e eu acreditava que QJ seria a melhor mão. As mãos que cogitei para ele seriam AQ, trincas, quedas fortes combinadas e blefes. Resolvi ir all-in e, para minha infelicidade, ele tinha uma trinca de seis. Repensando a jogada, acredito que a melhor coisa ter feito seria dar check-fold mesmo, pois eu estava com muitas fichas, e Haxton é um jogador muito inteligente. Não valia muito a pena me envolver, afinal, eu tinha 25% das fichas em jogo. – Alec Torelli


Resolvi dar call com par de seis naquela situação, o que é uma jogada bastante questionável. Muitos dos meus amigos, conversando depois comigo, disseram que o fold era a melhor opção. Eu acertei a trinca e, depois de meu adversário pedir mesa, decidi apostar o pote, devido à situação que me encontrava (bolha da mesa final), pois havia muitos draws no bordo. Acredito que ele quis entrar na minha mente e tentar descobrir o que eu estava pensando, mas ele podia ter dado call na aposta do flop, e fold na minha aposta no turn, pois muitos existiriam muitos “turns perigosos” naquele bordo, que me fariam jogar com mais cautela. – Isaac Haxton




MINHA ANÁLISE
Eu jogaria ambas as mãos de maneira diferente. Depois da decisão de dar o call pré-flop, Haxton jogou muito bem, pois levou o adversário a cometer um grande erro. E são derrapadas assim que não podem ser cometidas em no-limit, pois custam muito caro.

Torelli se precipitou bastante e jogou a mão como um grande novato. Seria mais simples dar call na aposta do flop e ver a próxima carta. Com aquele turn, seria muito provável ambos jogadores darem check, e uma blocking bet em torno de 500k resolveria o problema no river.

Ele mesmo fez a análise de que seu adversário somente colocaria aquela aposta com AQ, trincas, grandes combos e blefes. Dentre essas quatro possibilidades, ele está perdendo feio em dois casos, empatando em um, e ganhando apenas de blefes. E a pior maneira de se descobrir se seu adversário está blefando ou não é colocando todas as fichas na mesa, pois não tem volta.

Já com referência ao Haxton, não gosto nada da jogada que ele fez pré-flop, dando call em middle position com um par baixo (muito por conta do tamanho do stack dele também). Uma jogada de classe seria o reraise pré-flop, em que ele ganharia a mão ali mesmo. E se tomasse call ou reraise, já poderia identificar a força da mão do adversário. Dar fold também seria uma opção bem comum e razoável, mas não nesse caso, no qual está sendo jogada a bolha da mesa final e a pressão aumenta – ainda mais contra o chip leader, que vai abrir raise com um range de mãos muito grande (assim como o fez) e daria fold facilmente com QJ off pré-flop. Depois do ocorrido, ou seja, call para acertar a trinca, Haxton não poderia ter jogado de forma melhor.

É isso, pessoal. Espero que vocês tenham gostado desse novo tipo de análise de jogadas, e que este exemplo possa ter ilustrado bem a maneira de pensar dos profissionais para aumentar o repertório de jogadas de vocês!

Assista a essa mão no Pokertube.com, pesquisando “Torelli vs Haxton”.




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