E assim continuamos, mais e mais à fundo no tesouro perdido dos conhecimentos do poker dado a nós por John Fox, em seu tomo bem à frente de seu tempo, Jogue Poker, Pare de Trabalhar e Durma Até Meio-Dia! Escrito em 1977 e direcionado a um público-alvo composto por ratos de clubes e convencidos jogadores de cartas dos velhos clubes de Gardena, Califórnia, ele ainda fala para nós hoje, estejamos nos divertindo em Las Vegas, na Califórnia ou online.
Fox prega um severo evangelho de permanecer no jogo quando você estiver ganhando, e sair correndo de lá quando não estiver. Verdadeiro a sua tendência de espancar um cavalo morto até que ele fique esfolado, Fox dá não menos do que 13 razões por que nós tendemos a perder mais em um jogo de poker quando ficamos significativamente atrás. Algumas dessas razões incluem:
Estatisticamente, se você estiver perdendo, provavelmente o calibre de seu oponente é acima da média.
Se você estiver perdendo, seus oponentes estão ganhando, então eles vão tender a jogar muito melhor do que geralmente jogam.
Se você estiver perdendo, provavelmente vai tender a não blefar. Portanto, você não vai ganhar tanto quando tiver boas mãos.
Se você estiver perdendo, pode estar doente ou mentalmente abaixo da média e não perceber.
Se você estiver perdendo, pode sucumbir à tendência comum de continuar jogando em uma mesa muito ruim apenas para “se recuperar”.
Se você estiver perdendo, é dificílimo não ceder à tentação de jogar com mãos ligeiramente mais fracas do que deveria.
E se nenhuma dessas razões fosse verdade (e elas são), eis a conclusão de Fox: “É de vital importância ter uma postura positiva e acreditar que você vai ganhar quando está jogando poker. Como você vai fazer isso quando já está muito atrás?” Você pode achar essa pergunta retoricamente óbvia, mas pense também nas muitas vezes em que sua própria má postura lhe levou para baixo. Durante mais de uma geração, o clássico livro de Fox gritou dos céus: “Saia quando estiver perdendo! Saia quando estiver perdendo!” Apesar disso, nós escutamos? Hein, escutamos?
Fox tem muito a dizer — demais, na verdade — sobre os assuntos correlacionados a imagem, blefe, leitura de cartas e tells. Ele traz um capítulo inteiro intitulado “Por Que É Impossível Ser Inconsistente Com a Realidade” e discute longamente até mesmo sobre como as mentiras dos jogadores que têm mais cara de poker criam uma corrente de irrealidade que o observador sofisticado percebe. Isso não é novidade para nós, óbviamente. Todos já vimos jogadores cujas ações parecem os trair, “um rasgo no tecido do espaço”. O que me fascina é o quanto disso Fox percebeu antes do resto de nós. Às vezes parece que todos estamos nos ombros dele. E, mais uma vez, muito embora ele esteja falando de draw poker, o que Fox relata é valioso para qualquer jogo de poker que você jogue. Considere essa situação:
Um oponente imediatamente à sua esquerda abre raise. A mesa roda em fold até você, que não tem nada. Aquele que abriu expressa surpresa ou despontamento diante do fato de todo mundo parecer querer desistir, só que ele faz isso antes de você falar.
Quais são as chances de esse péssimo ator ter uma boa mão? Nenhuma, afirma Fox, pois se ele realmente tivesse uma grande mão e realmente estivesse se sentindo mal porque ninguém queria pagar, “De forma alguma ele iria entregar isso antes de ter absoluta certeza de que todos os seus possíveis oponentes tivessem desistido!” Ele faz tudo em seu poder para fazer com que você largue. É a velha tell do “eles estão fracos quando agem com força”, bem-conhecida dos clássicos jogadores de Gardena e de mim e de você.
Não há nada de novo aí. Realmente não há. Tendências vêm e vão, jogadores mudam de estilo — e outros mudam e se adaptam às novas tendências e estilos. Mas no final de tudo, nós jogadores de poker estamos todos indo e vindo limitados por uma estreita vereda de verdades e mentiras. Ou nós temos a mão que estamos representando ou não temos. O resto são nuances. É claro que são as nuances que fazem a diferença. Se você interpretar mal as informações que recebeu, vai cometer um erro e pagar uma aposta quando não deveria, ou desistir em um pote que poderia ganhar. Fox não está realmente dizendo que eles estão sempre fracos quando fazem de conta que estão fortes. O que ele realmente está dizendo é: “Preste atenção sempre”. Funcionou há um milhão de anos em Gardena, e funciona hoje.
Fox adora manter uma conversa em um jogo de poker. Ele oferece meia dúzia de razões por que o poker falado é um poker vencedor, desde dar a seus oponentes uma razão para pagar até desencadear guerras de egos com que você possa se beneficiar. No mínimo, Fox afirma, conversas frequentes podem tirar a concentração de um oponente. Esse é um ponto que vale a pena ser refletido se a maior parte de seu jogo for online. Quando você chega a um jogo no mundo real, precisa estar atento às ramificações ofensivas e defensivas de uma conversa. Conversa com turistas, boa; conversa com regulares, ruim. É também bom lembrar o conselho de Mike Caro de que, se você quiser receber um call e achar que não vai, deve ir em frente e dizer (ou fazer) qualquer coisa que venha à sua mente. Você pode perturbar o suficiente o raciocínio de seu oponente, ou criar uma ruptura suficientemente evidente no tecido do espaço, para fazer com que ele mude de ideia. Vale a pena tentar. Se ele iria dar fold de qualquer forma, você literalmente não tem nada a perder.
Eu poderia continuar. Poderia mesmo. Poderia lhe falar sobre as duas dúzias de maneiras que Fox lista para se identificar mãos fortes, e as duas outras dúzias maneiras de identificar as fracas. Mas quer saber? Acho que vou parar por aqui. Jogue Poker, Pare de Trabalhar e Durma Até Meio-Dia! está fora de catálogo há muitos anos, mas cópias ainda estão disponíveis se você souber onde encontrá-las — e eu lhe deixo o desafio de tentar. Nem tudo que você encontra no trabalho de Fox vai lhe parecer novo ou revolucionário, é claro: algumas partes podem até lhe parecer incorretas. Mas ele trilhou o caminho que muitos de nós seguimos, e se você não estiver familiarizado com o trabalho dele, lê-lo seria útil caso sua educação — pelo menos sob uma perspectiva histórica — não seja completa. ♠