EDIÇÃO 20 » COLUNA NACIONAL

Pelos caminhos do small-ball

Potes pequenos estão com tudo


Raul Oliveira

O small-ball foi apresentado basicamente pelo modo de jogar que Daniel Negreanu exibiu na TV. E se trata de uma forma de manter o pote quase sempre pequeno e sob controle.

Normalmente, um jogador iniciante tende a empurrar todas suas fichas com muita facilidade. E esse conceito mostra exatamente como jogar da forma contrária, ou seja, evitando ao máximo colocar todas as suas fichas na mesa – salvo, claro, situações em que você estiver nuts ou com KK ou AA pré-flop.

O interessante de se jogar dessa forma é que, por manter sempre o pote baixo, torna-se possível participar de muito mais mãos do que ao gerar potes maiores. Logo, mãos iniciais normalmente selecionadas ganham um leque bem maior para ser jogado. Mas, a partir desse raciocínio, também fica claro imaginar que, para agir assim, é preciso dominar bem o pós-flop: por isso o estilo não é muito indicado para quem está começando no hold´em.

Nem é preciso ir tão longe para perceber que “posição” é importantíssimo para o small-ball. Afinal, considerando que jogaremos muitas mãos, essa vantagem se torna imprescindível. Além disso, outra marca do small-ball é, de cara, diminuir o tradicional raise pré-flop de 3 para 2,5 big blinds (alguns jogadores estão descendo para 2,2 ou 2,1). Esse é outro motivo que faz com que haja mais jogo pós-flop, pois com aumentos mais baixos, a chance de algum jogador vir a pagar é bem maior.



Uma estratégia que tem sido utilizada é mudar o raise em função do adversário – quando for aumentar contra blinds de jogadores que costumam pagar, eleve um pouco a proporção. Por outro lado, não se indica alterar o valor do raise em razão das próprias cartas. Normalmente, quando fazemos isso, acabamos dando algumas tells sem perceber.

A idéia principal dessa estratégia é muito interessante, pois, essencialmente, trata-se de ganhar mais arriscando menos – ao contrário do que sempre costumamos ouvir. Acontece que, jogando dessa forma, suas mãos boas costumam receber action, já que você participa de muitos potes. Fora isso, suas ações tentam fazer com que seu oponente siga na mão quando estiver por baixo.

Outro atributo dessa estratégia é, em certas situações, deixar que seu oponente aposte por você. Isso equivale dizer que, mesmo sabendo que você tem a melhor mão, sua jogada vai ser dar check e apenas pagar a aposta do adversário.

Por ser uma nova e interessante forma de jogar, falarei sobre o small-ball também nos próximos artigos. Neste, discutiremos mãos iniciais.

Pares Altos

AA e KK podem ser utilizados de forma mais agressiva e sem grandes ressalvas. Já QQ e JJ exigem mais cautela, pois, levando em conta que você joga de forma mais loose, essas mãos vão receber mais action do que o normal e, com alguns jogadores a mais no pote, elas obviamente perdem boa parte da força. Em early position, apenas pagar raise com essas mãos vai deixar a mesa em dúvida futuramente, quando você der call com mãos mais fracas na mesma situação.

Pares Medianos e Baixos

Pares como TT–77 devem ser jogados de forma bastante cuidadosa, tendo em mente que para querer gerar um pote grande é preciso ter flopado a trinca – o que também vale para os pares baixos. Evite reaumentar com essas mãos, mas abra raise com as mesmas se estiverem no gap.



Mãos Sem Par
Tome cuidado com AK e AQ, pois são cartas que tendem a ganhar potes pequenos e, quando participam de potes grandes demais, costumam estar atrás. Mãos como AJ, AT, KQ, KJ, KT, QJ, QT devem ser valorizadas quando forem do mesmo naipe. Sequências e flushes podem gerar grandes potes. Mas se você acertou um ou dois pares e estiver diante de um pote enorme, normalmente estará perdendo.

Suited Connectors
São mãos valorizadas nesse estilo. Elas são capazes de derrotar pares altos com seqüências e flushes, além de serem fáceis de largar quando se acerta apenas um par.

Mãos-Lixo
No estilo small-ball, ainda é possível jogar mãos bem fracas. Mas, para isso, é preciso ter posição e uma situação favorável.

O conselho que deixo aqui – inclusive para quem está começando – é que você pratique essa estratégia, mesmo que não seja a sua predileta. Ela pode ajudar bastante em alguns tipos de mesa e, principalmente, vai lhe deixar apto a enfrentar oponentes que a utilizam.

Assim, se você costuma, por exemplo, jogar multi-tables de $100 de forma bem segura, desça para $20 e tente aplicar o small-ball: estar à vontade com o valor do buy-in é uma das chaves do seu sucesso.

Finalmente, é importante saber que essa estratégia só deve ser aplicada em torneios que tenham uma relação stack-blind folgada (deeps). Afinal, é fácil perceber que, num torneio em que a média dos stacks gira em torno dos 20 big blinds, não será possível manter o pote baixo.




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×