EDIÇÃO 20 » MISCELÂNEA

Bits e Bets: Índices VPIP e PF em SNG Blinds altos


Vicenzo Camilotti

Neste mês, falaremos sobre as diferentes formas de se interpretar os índices VPIP (voluntarily put money in the pot) e PF (preflop raise) na fase decisiva do torneio, quando os blinds estão altos.

Esses dois números andam sempre juntos, e continuam assim na hora de decidir se você será o bolha do torneio ou vai entrar ITM. Um fator importantíssimo a considerar é que, normalmente, as características dos jogadores mudam quando o pingo está alto.

Um jogador com VPIP 17% e PF 14% pode se tornar over-aggressive e atacar de all-in toda hora que chega um GAP. Um VPIP 35% e PF 25% pode inverter sua tendência e se retrair, sentindo a pressão financeira de ficar na zona de premiação do torneio.

Ainda assim, o somatório geral desses dois índices é de suma importância. Via de regra, os jogadores são obrigados a se soltar mais quando os blinds estão altos, já que torneio sit-and-go turbo não costuma perdoar quem espera demais por cartas. Informações que poderiam ajudar a elucidar mais sobre os oponentes são “all-in preflop” e “call-all-in preflop”, porém, é necessário um número de mãos catalogadas infinitamente maior em comparação com o VPIP e PF.

Quando eu jogo nesta fase, sigo o princípio de que a meta dos jogadores é ficar ITM, para só então pensar em ganhar o torneio. Em meu ver, os índices VPIP e PF são mais importantes para os resteals contra os jogadores do que para saber se você será pago ou não no roubo do pingo, e com que frequência isso deve acontecer.

Deixo claro que não acho errado jogar com objetivo de ficar na zona de premiação, pois a prize pool é bem mais reduzida em relação aos torneios multi-table. Em outras palavras, a equity de 20% em caso de terceiro lugar pode “apenas” subir para 50% em caso de vitória – teoria essa, correta, diga-se de passagem.

Muito se escreve a respeito, e diversos vídeos instrutivos abordam a idéia de que, no sit-and-go, a importância de ficar in the money é bem maior do que nos torneios MTT. Nesses últimos, afinal, o grande retorno está destinado aos quatro mais bem colocados. Chegar em 200 num torneio de 2000 jogadores não é tão atrativo quanto ficar em terceiro num torneio de 9 ou 10 pessoas. Mas o que ocorre efetivamente é que “se joga ‘certo’ pelo motivo ‘errado’”, ou seja, esse conceito de escalonamento simples da premiação do torneio é superestimado pelos jogadores de sit-and-go, que jogam para se defender e chegar à zona de premiação, mesmo que seja de muletas. É preciso levar em conta que, de 20% para 50% da premiação, existe sim uma diferença significativa. Portanto, acaba-se virando alvo fácil de quem joga para ganhar o torneio, tentando acumular o máximo de fichas possíveis antes da zona de premiação.
“Mas como vou saber quem são os jogadores que se defendem com unhas e dentes para chegar ITM, e os que são soltos e só querem saber de ganhar o torneio?” Basicamente pelo “índice de agressividade”, ou “aggression factor” (AF) do oponente. Este  índice não chega a ser desnecessário, mas também depende de várias interpretações. O mesmo acontece com os famosos VPIP e PF, em cujos números deterei atenção exclusiva neste artigo, assim como fiz nos dois últimos.

Vamos ao exemplo prático (vide diagrama 1).


Como proceder diante do cenário apresentado? Pergunte à máquina! Observe os quatro grupos de jogadores que costumo classificar:

VPIP 6% e PF 3% – FOLD
O jogador é rocha pura, e, mesmo que os requerimentos de mãos jogadas por ele sejam menos rigorosos, essa característica ultra-conservadora (e auto-destrutiva para se conseguir bons resultados no longo prazo) não irá se modificar tanto assim na maioria dos casos. O pingo ainda não pressiona a pilha de fichas dele, portanto, não há motivo que justifique um reraise ou call.

VPIP 40% e PF 4% – FOLD
Um “limper” que resolve entrar de raise... Melhor acreditar que está com grandes ferramentas na mão e procurar outra oportunidade de efetuar o resteal.

VPIP 32% e PF 25% – RERAISE para total de 1100 fichas ou ALL-IN
Particularmente prefiro o all-in. Não apenas pelo fato de estarmos fora de posição, mas também porque serve para colocar o máximo de pressão sobre pilha de fichas do oponente. O range dele é imenso, sobretudo nessa fase do torneio e, mesmo que tenha duas cartas altas como AK e resolva pagar, ainda assim teremos 42% de chances no confronto. Obviamente, ele pode estar com par alto na mão, mas a chance disso acontecer é reduzida, tendo em vista o altíssimo índice de PF.

VPIP 17% e PF 15% – ALL-IN ou RERAISE 1100 fichas
O reraise ganha mais argumento nessa situação, pois o adversário é um pouco mais seletivo nas mãos que escolhe para jogar, e essa sondagem o ajuda a se situar melhor. O grande problema aqui é estar fora de posição: por isso continuo preferindo o all-in. Mas não se pode condenar de forma alguma o reraise apenas, pois você é o líder do torneio, e seu adversário sabe que o único capaz de eliminá-lo é você. Assim, de todo modo, a chance de puxar o pote sem luta é grande.

Esta sequência de artigos tem demonstrado de forma prática a importância dos índices VPIP e PF. Eles são uma porta de entrada para o mundo cibernético e, para quem realmente quer levar o poker a sério, são ferramentas imprescindíveis, e seu benefício, primordial.

No próximo artigo, falarei a respeito de massive multi-tabling no poker online e sobre quais softwares os players que abrem 15 ou mais mesas ao mesmo tempo utilizam para dar mais agilidade e precisão aos seus movimentos no pano virtual.




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