Lembro perfeitamente... Final de 2003... Eu tinha acabado de ver os episódios da WSOP daquele ano... A vitória do Chris Moneymaker tinha despertado novamente em mim o interesse pelo poker, que andava meio escondido desde os tempos de colégio. Então me lembrei que tinha ouvido falar em Texas Hold’em pela primeira vez alguns anos antes, quando assisti ao filme “Rounders – Cartas na Mesa”. Agora, estava decidido: queria saber tudo sobre esse jogo novo que parecia estar virando uma febre nos Estados Unidos!
A primeira coisa que pensei foi: “Será que existe uma revista especializada no assunto?” E, para minha surpresa, existia mesmo! E já tinha mais de quinze anos! Pesquisei na internet, percorri algumas bancas de São Paulo e finalmente encontrei um exemplar. Esse foi meu primeiro contato com a CardPlayer.
Hoje, quase seis anos depois, tenho a honra de escrever para a mais tradicional publicação sobre poker no mundo, verdadeira referência no assunto. E que cara de sorte eu sou! Trabalho e contribuo agora para três das maiores forças do universo do nosso esporte predileto: posso mostrar com orgulho o meu currículo, com os nomes da ESPN, do PokerStars e da CardPlayer. Com essas credenciais, vou me dedicar para fazer um bom trabalho aqui também! Espero que gostem!
Falando nisso, dia desses estava em um boteco aqui de São Paulo com alguns amigos. Depois de muita cerveja e bate-papo, entrou no bar um antigo colega das rodas de poker do tempo de colégio. Fazia anos que a gente não se via, então aquelas perguntas mais básicas foram feitas. Na hora de responder sobre profissão, falei que estava trabalhando com poker, escrevendo blogs e notícias sobre o assunto. Ele achou divertido e soltou a seguinte frase: “Quem diria, você ganhando a vida com jogos de azar...”
Depois daquele silêncio constrangedor, resolvi mostrar pela enésima vez qual é a minha visão sobre o poker. Mas dessa vez tentei usar um argumento diferente...
“Vou lhe propor um jogo agora... Vou lançar um dado, e toda vez que sair um número par, você ganha; toda vez que o número for ímpar, eu levo. Interessa?” Ele disse que sim, mas sem mostrar empolgação. “Mas tem outro jogo... Vou lançar o mesmo dado, só que agora, toda vez que sair um, dois, três, quatro ou cinco, você ganha. Se der seis, quem leva sou eu. Interessa?” Ele arregalou o olho e disse: “Lógico!” Minha resposta foi curta: “Tá vendo, isso é POKER!”
Basicamente, o esporte de que nós tanto gostamos é um jogo de escolhas. Se você consegue fazer as melhores, vai acabar saindo como vencedor. O exemplo que dei mostra claramente qual é a opção mais vantajosa. Mas com dedicação, prática e estudo, é possível ter a mesma facilidade para fazer as escolhas corretas em uma mesa de poker. E são justamente esses fatores que despertam o fascínio pelo feltro, pois, ao contrário do que muitos leigos ainda pensam, a sorte e as cartas são elementos que praticamente não têm influência no longo prazo.
Mas aos poucos a sociedade está começando a entender esta diferença. A própria ESPN (Entertainment and Sports Programming Network) começou a divulgar o poker como entretenimento, e hoje em dia trata o assunto com o mesmo respeito e dedicação dado aos outros esportes. Atualmente, os torneios pelo mundo têm características bem similares às outras disputas desportivas, o que torna mais fácil a assimilação por parte daqueles que não conhecem o jogo.
A indústria criada ao redor do poker é poderosa, multimilionária e fascinante. Mas eu não tenho a menor dúvida de que o trabalho feito pelos praticantes na hora de mostrar o lado positivo do esporte é ainda mais forte. Se você conseguir demonstrar a um amigo ou parente que a habilidade, a inteligência e a técnica são fundamentais na hora da competição, isso vai ajudar a diminuir o preconceito que ainda existe.
Acho que esse é o trabalho que nós, jogadores e entusiastas do esporte, temos que fazer. Não precisamos ser uns chatos que tentam converter os outros a qualquer custo, mas devemos sim tentar mostrar o lado positivo do poker com clareza e objetividade, ajudando a difundir a imagem de uma competição sadia e inteligente. ♠
