Em 2006, Shannon Shorr abandonou a faculdade na University of Alabama para seguir seu sonho de se tornar um jogador de poker profissional. Ele definitivamente não estava sozinho. “Tornou-se incrivelmente mais comum entre estudantes universitários colocar sua educação em suspenso para poder jogar poker profissionalmente”, afirmou Shorr. “Se você olhar para os competidores, digamos, do evento $100+R do PokerStars, verá uma enorme quantidade de excelentes jogadores que em sua maioria consiste em pessoas de 18 a 25 anos que abandonaram os estudos universitários”.
Shorr já voltou para a faculdade e recebeu seu diploma, mas a noção de que o “canudo” pode esperar ainda é popular entre a elite do online. Anos atrás, o interesse no poker era um meio para um fim, uma maneira de pagar as mensalidades, o que inevitavelmente lhe conduzia a outro lugar. Hoje em dia, contudo, muitos jovens escanteiam inteiramente a educação para buscar a riqueza no poker.
Cultura do Campus
Enquanto antigamente o poker era jogado com um ante de vinte e cinco centavos nos dormitórios, hoje em dia ele se tornou parte central das atividades extracurriculares. Nem mesmo a Ivy League pode evitar a fúria do poker. Harvard acirrou sua rivalidade com Yale promovendo um jogo de poker anual. A série de heads-ups ocorre um dia antes de seus times se encontrarem no campo de futebol americano, e ocorre há dois anos.
Numerosos websites surgiram nas faculdades ao redor dos EUA, objetivando juntar até mesmo os praticantes mais casuais para jogos caseiros. Universidades ao redor do país estão formando clubes dedicados ao poker, e algumas estão se qualificando como organizações estudantis financiadas pelo governo, como a Global Poker Strategic Thinking Society (GPSTS) de Harvard. Esses “centros de inteligência” do poker estão juntando as mentes brilhantes, possibilitando que os bons jogadores se tornem ótimos antes de irem para os melhores lugares do mundo.
“Estar na faculdade com indivíduos de mentalidade similar me possibilitou encontrar amigos com interesse de melhorar no poker”, disse o profissional de 22 anos, Vivek Rajkumar. “Eu acho que isso me ajudou a construir uma base durante o início de minha carreira”. Graças a sua mente privilegiada, Rajkumar foi capaz de se formar aos 19 anos na University of Washington, mas outros fenômenos online, desesperados para ganhar agora a todo custo, decidiram que a educação pode esperar, ou que ela é absolutamente desnecessária.
Em Defesa da Desistência
Para poder se dedicar ao seu sonho de se tornar profissional, a superestrela online (e agora ao vivo) Tom “durrrr” Dwan abandonou os estudos na Boston University depois de apenas um ano como estudante de Língua Inglesa. “No começo, eu consegui aumentar meu bankroll sem problemas”, recorda Dwan. “Depois, muitas distrações me fizeram perder quase metade dele. Ao mesmo tempo, percebi que estava sendo reprovado na universidade e que isso tinha prejudicado meu jogo. Decidi abandoná-la e me concentrar apenas no poker”. Atualmente, Dwan ganha até 10 anos de salário em uma única sessão.
A opinião de Dwan quanto ao tema é provavelmente a mais apoiada entre os jogadores bem-sucedidos de sua geração. Jimmy “Gobboboy” Fricke é um dos mais reverenciados na comunidade online, e deixou a faculdade em Illinois para jogar em tempo integral, apesar de não ter idade o suficiente para jogar nos EUA. Os opositores podem condenar, mas os $2,5 milhões de Fricke, em ganhos online e ao vivo na carreira, silenciam qualquer debate.
A lista dos que abandonaram a faculdade é longa e repleta de histórias tanto de falhas quanto de sucesso incomparável. O vencedor do Main Event da World Series of Poker do ano passado, Peter Eastgate, decidiu que os estudos não iriam lhe oferecer a mesma oportunidade que o poker ofereceria, e essa mentalidade teve uma recompensa no valor de $9.152.416. Outro vencedor da WSOP, Phil Hellmuth, é talvez o mais famoso jogador que jamais terminou a faculdade. O “Poker Brat” (pirralho do poker) enfrentou três anos na University of Wisconsin-Madison antes de abandoná-la e se tornar o que, na época, foi o mais jovem vencedor da história, antes que o título fosse tomado pelo supramencionado Eastgate.
Alguns chegaram a outro extremo, como a vencedora do evento principal da WSOP Europe, Annette Obrestad. A norueguesa de 19 anos de idade deixou o colégio faltando seis meses para terminar os estudos do ensino médio, e não tem intenção de voltar para terminar. Como seu nickname Annette_15 indica, Obrestad começou a jogar na metade da adolescência, e era uma profissional muito antes de acabarem seus dias de colegial. Na cabeça dela, por que ela deveria continuar com a formalidade de uma educação se já está equipada com o conhecimento de que necessita para viver como uma jogadora de poker profissional?
Tentar equilibrar estudos, trabalho e poker funcionou para Jonathan Little — por um momento, pelo menos. O estudante da University of West Florida vinha jogando seriamente havia algum tempo quando decidiu tentar. Ele abandonou seu trabalho de reabastecer aeronaves, deixou os estudos e tentou a sorte. “Eu estava sentado no aeroporto, lendo livros de David Sklansky durante meus intervalos, e percebi que havia muito dinheiro a ser ganho”, disse Little. “Em pouco tempo eu tinha aumentado meu bankroll, então decidi fazer do poker minha prioridade em tempo integral”. Little, que admite não fazer nada a não ser que possa ser o melhor naquilo, rapidamente dominou o cenário dos torneios ao vivo, tendo cinco mesas finais na World Poker Tour e $4 milhões ganhos em torneios na carreira.
Em Defesa da Permanência
O jogador Isaac Haxton estava se dando bem nas mesas e decidiu que, com a realidade do Unlawful Internet Gambling Enforcement Act, era a hora certa de sair por um período da Brown University. “Quando ouvi que o UIGEA iria vingar, tomei uma decisão de última hora de passar o ano seguinte longe da universidade e tentar ganhar o máximo de dinheiro possível jogando poker online antes que isso se tornasse impossível”, lembrou Haxton. “Em retrospecto, a situação não era tão desesperadora, mas acabou sendo uma boa decisão de qualquer modo”.
Mais tarde naquele ano, Haxton ficou em segundo no PokerStars Caribbean Adventure, ganhando quase $900.000. “Eu fiquei um pouco tentado a simplesmente abandonar os estudos naquele momento e continuar com o poker, mas, faltando apenas dois semestres, decidi seguir meu plano original e terminar logo os estudos”, afirmou Haxton. “Eu sabia que queria ter um diploma como um segundo plano caso o poker se tornasse não-lucrativo, ou se simplesmente eu me cansasse dele. Achei que seria mais divertido ganhar meu diploma enquanto ainda conhecia outras pessoas na faculdade e não era muito velho para ir a festas”.
Haxton alertou contra a apatia generalizada em relação à educação que advém quando você já está ganhando muito dinheiro. “Quando eu voltei para a escola e decidi estudar filosofia, seguia com a maré e fazia o que era preciso para conseguir um emprego caso eu abandonasse o poker”, admitiu Haxton. “Quando você aborda sua educação dessa maneira, é difícil levá-la a sério”.
Shorr deu um conselho sobre os benefícios imperceptíveis de viver uma típica experiência universitária. “Era bom estar ali no mundo real fazendo o que devia ser feito e interagindo com as pessoas. Inúmeras vezes nos últimos dois anos em que joguei poker em tempo integral, eu senti falta daquilo. Lembro-me de estar sentado em um cassino jogando e me esquecer que existia um mundo real cheio de pessoas batalhadoras e interessantes fora de nosso pequeno reduto que é o mundo do poker. Eu recomendo muito a volta à faculdade para todos os jovens jogadores que a abandonaram. Vale muito a pena, mesmo que você seja como eu e jamais tenha a intenção de usar seu diploma. É uma questão de autorrealização”, afirmou Shorr.
Quando Tudo Dá Errado
Essa indústria está cheia de indivíduos economicamente sofredores muito mais do que de milionários, e muitos vão à falência antes mesmo de chegar perto de ganhar muito. A chave é reconhecer se você é o tipo de jogador que obtém êxito em meio à pressão ou evita risco a todo custo. Bankrolls tendem a aumentar mais depressa na faculdade, quando as contas são mínimas e as cervejas baratas, mas quando o jogador tem a responsabilidade extra de manter uma cobertura e um calendário social caro, mesmo os ricos sofrem.
A oscilação dos torneios de poker é tão grande que jogadores às vezes sucumbem à pressão dos custos de buy-ins e viagens. Como resultado, um bankroll de seis dígitos pode ser detonado durante um período de seca na WSOP ou mesmo no curso de seis meses em turnê. Jonathan Little, que joga em quase todo evento dentro dos Estados Unidos, afirmou que pode facilmente gastar $500.000 em buy-ins ao longo de um ano.
Muitas dessas estrelas online tomam a decisão de desbravar o circuito ao vivo, e rapidamente descobrem que pode ser preciso anos antes da primeira grande vitória. Por causa disso, alguns dos melhores jogadores do mundo são forçados a ter um patrocinador, alguém com quem dividir as despesas e, também, os lucros.
Inúmeros jogadores com centenas de milhares de dólares em ganhos em seus currículos ainda estão batalhando ou falindo, graças à quantidade de dinheiro que devem aos patrocinadores e que deve ser pago antes de começarem a ter lucros próprios.
Obviamente, a economia do poker sofreu como o resto do país e se tornou muito mais difícil encontrar investidores dispostos. Aqueles que não conseguem pagar os buy-ins são obrigados a voltar a seus laptops com o rabo entre as pernas. Eles não são necessariamente maus jogadores, apenas não são sortudos o suficiente para ganhar muito logo de cara.
Indo em Direção a Algo Maior e Melhor
Enquanto alguns jogadores estão mesmo buscando uma maneira de escapar da rotina de nove às cinco, outros estão legitimamente usando o poker apenas como um passo em direção a coisas maiores e melhores.
Um jogador desse tipo, Sumeet “batera” Batra, disputou vários torneios de grandes buy-ins durante seus anos enquanto universitário e conseguiu manter um histórico de vitórias enquanto estava plenamente envolvido na faculdade de medicina. O poker sempre será um hobby para ele, mas esse futuro jovem médico está feliz com a real carreira de sua vida.
O mais famoso exemplo de superação veio do ex-aluno da Duke University Jason “strassa2” Strasser. Embora jogasse em horários bastante limitados enquanto assistia às aulas, Strasser conseguiu ganhar mais de $1 milhão em torneios ao vivo e online. Suas proezas em cash games já somaram muito a seu bankroll e o formando em biomedicina e engenharia elétrica já foi considerado por muitos a próxima superestrela em formação.
Em vez disso, Strasser decidiu deixar o poker para trás e usar sua mente brilhante para ir para Nova York e trabalhar para Morgan Stanley como analista da bolsa de valores. Isso não significa que as habilidades que o poker lhe ensinou não foram úteis em seu novo emprego, conforme Strasser revelou em uma postagem num fórum: “As habilidades no poker são incrivelmente úteis no meu trabalho”, escreveu Strasser. “A quantidade de raciocínio focado nos resultados que ocorre em Wall Street é incrível. Se você tivesse mais de $10.000 na mesa e utilizasse esse fato para ditar as decisões de outra mesa, todo mundo lhe chamaria de idiota, mas você ficaria surpreso com a quantidade de coisas assim que acontece [aqui]. Wall Street contrata muitos caras superespertos de ótimas escolas com excelentes notas, mas, para o papel de corretor, a maioria de vocês lendo essa postagem entende mais sobre apostar do que eles. Provavelmente vocês ficam mais confortáveis ganhando e perdendo dinheiro, e também ficam menos tímidos quando precisam puxar o gatilho ao tomar uma grande decisão”.
Tomando a Decisão
No final das contas, a decisão se resume a dois fatores. Você (a) tem o desejo de jogar poker profissionalmente e (b) tem a habilidade, força e vigor mental para isso? Alguns dos melhores jovens jogadores responderam sim às duas e pegaram o mundo do poker pelos chifres. Outros fizeram tentativas sem a adequada preparação e ficaram olhando para as luzes da Las Vegas Boulevard, imaginando o que foi que deu errado.
Talvez a única pessoa que possa realmente saber é quem está lendo essa reflexão — desde que seja capaz de analisar realisticamente além de suas habilidades e defeitos e ser disciplinado e bem-informado o suficiente para saber o que realmente é preciso para obter êxito. ♠