EDIÇÃO 20 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

‘Se Eu Largar, Você Mostra as Cartas?’

Ficar calado geralmente é a melhor aposta


Matt Lessinger

O jogo era limit hold’em de $15-$30. Eu jamais tinha enfrentado o sujeito do assento 5 antes, mas logo descobri que ele era um desses tagarelas que não param, especialmente durante uma mão. Se um flop viesse com um rei como maior carta e um oponente apostasse, ele perguntava imediatamente: “Você tem o rei?” ou “Por que você apostou tão depressa?” Jogadores assim me divertem, pois raramente tiram vantagem das respostas que seus oponentes dão. Assento 5 não era exceção. Suas reações às respostas (ou falta delas) de seus oponentes pareciam aleatórias. Eu estava esperando ter uma chance de jogar um pote heads-up com ele. Então, se ele começasse a fazer perguntas idiotas, eu procuraria usá-las contra ele.

Depois de um tempo, a oportunidade chegou. Eu era no big blind no assento 2. Os dois primeiros jogadores desistiram e o “Tagarela” abriu raise. Três jogadores pagaram e eu também dei call com J 10. O flop veio  9 8 2, nada mal. Eu não queria tomar a iniciativa, pois ele provavelmente aumentaria, e eu não queria afastar meus oponentes.

Pedi mesa, Tagarela apostou, dois jogadores pagaram e eu dei check-raise. Tagarela reaumentou, o que foi tanto bom quanto ruim. Ruim porque, se eu acertassse uma sequência ou flush, teria apenas um oponente para me pagar; bom porque, se virasse um dez ou um valete, seria mais provável que eu tivesse a melhor mão.

Além disso, ter apenas um oponente abriu a possibilidade de um blefe. Eu não estava certo de que iria funcionar, mas com um flop tão favorável, eu não queria abdicar do controle da mão. Eu reaumentei e Tagarela imediatamente perguntou: “Você tem dois pares? Uma trinca? Paguei”. Obviamente, ele não estava muito preocupado com dois pares ou uma trinca, mas pelo menos começou a se perguntar se eu o derrotaria. Além disso, com sua tagarelice, ele praticamente definiu sua mão como A-9 ou, o que é mais provável, um overpair. Portanto, eu não tinha mais que me preocupar com ele ter flopado uma trinca.



O turn foi A, e eu apostei. A reação imediata dele demonstrou claramente que o ás não o ajudou. “Não se preocupou com o ás?” perguntou. Ele tentou me encarar e, é claro, eu não lhe dei nada. “Você tem um ás? Ás nove?” Eu continuei a encará-lo friamente e não lhe dei nada. Ele relutantemente jogou $30 para pagar.

O river foi o K, o que me deixou com nada mais que um valete. Mas como a mão mais provável dele era um par menor que reis, achei que minhas chances de blefar tinham melhorado. Apostei novamente. Agora ele pareceu muito confuso. “Você ganhou de mim no turn, certo?” Ele tinha os $30 na mão para pagar, e ficava jogando de uma mão pra a outra, mas parecia bastante relutante em colocá-las no pote. Finalmente, ele olhou para mim e perguntou: “Se eu desistir, você mostra as cartas?”

Como eu não tinha piscado os olhos diante de nenhuma das outras perguntas dele, estou certo de que ele não estava esperando nenhum tipo de resposta. Mas, acredite ou não, eu estava esperando essa pergunta em particular. Ele já tinha perguntado várias vezes a outros oponentes, quando tinha uma mão fraquinha e estava tentando conseguir informações.

De vez em quando, os adversários dele concordavam em mostrar, mas freqüentemente se recusavam. Em ambos os casos, ele às vezes tinha pagado e outras vezes largado, então não havia conexão discernível entre as respostas dos oponentes e as ações dele. Mas eu realmente não queria deixar nas mãos da sorte. Portanto, eu sabia exatamente o que queria dizer se e quando ele me fizesse a pergunta e eu quisesse que ele desistisse.

Eu pareci um pouco exasperado e disse: “Eu normalmente não faço isso, mas vou lhe mostrar dessa vez. Mas depois, por favor, não me pergunte mais OK?” Ele concordou, mostrou 10 10, e empurrou as cartas. Eu esperei até que o dealer colocasse as cartas dele no monte, então virei minha mão. Dois jogadores na mesa assentiram, como se uma mão como um valete fosse exatamente o que eles esperavam que eu mostrasse. Alguns fizeram uhs e ahs sutis, parecendo felizes com a derrota de Tagarela, e talvez tentando irritá-lo.

Ele ficou calado durante um tempo, depois começou a resmungar um pouco sobre mim. Depois, começou a sugerir que eu tinha feito algo desonesto. Quase tive que rir alto disso. Ele era quem estava se comportando de forma inadequada, fazendo coisas amadorísticas para economizar apostas. As poucas vezes em que os jogadores mostravam suas cartas depois que ele dava fold, ele ficava com os $30 que provavelmente teria usado para pagar. Não posso nem calcular o quanto ele economizou assim. Então, em uma mão, tomei de volta todas aquelas apostas economizadas ao induzi-lo a desistir de um pote considerável. Para mim foi como fazer justiça à moda dos apostadores.

Eu tipicamente não faço coisas assim. Gosto de pensar que posso ganhar sem isso; além do mais, coisas do tipo podem ser vistas como falta de etiqueta. Mas às vezes eu acho necessário, quando um oponente está saindo muito dos eixos. Alguém precisa mostrá-lo que essa tagarelice sem fim pode prejudicá-lo, e se eu puder me beneficiar com isso, melhor. Nesse caso, ele perguntou se eu mostraria minha mão e eu disse sim. Foi simples assim. OK, atuei um pouco como se estivesse fazendo um favor. Mas, de certo modo, talvez tenha feito mesmo. Não fiz o favor de mostrar que o fold dele foi bom. Em vez disso, fiz o favor de mostrá-lo que alguns jogadores podem usar o comportamento dele contra ele.

Se você for um jogador que fica sempre incomodando os oponentes com perguntas, tome cuidado. Pode parecer que você não tem nada a perder, mas isso claramente não é verdade. Além do fato de poder ser levado a tomar uma má decisão, você deve também levar em conta que suas perguntas denunciam a força de sua mão.

Resumindo, ficar calado geralmente é sua melhor aposta.

Matt Lessinger é autor de O Livro dos Blefes: Como Blefar e Ganhar no Poker, disponível pela Raise Editora. Você pode encontrar outros artigos dele em www.CardPlayer.com




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