EDIÇÃO 20 » COLUNA NACIONAL

Sabe a vida como é...


Leo Bello

Fevereiro foi um daqueles meses intensos, com direito a toda adrenalina que a vida de um jogador de poker carrega. Aviões, viagens, hotéis, lugares novos, torneios, desafios, pessoas interessantes, oponentes difíceis e novos amigos.

Várias pessoas me perguntam como é a vida como profissional de poker? Muitas parecem desejá-la ardentemente, só que por outro lado – de maneira utópica e sem objetivos reais.

Antes de decidir se tornar um profissional de poker você deve aprender a pesar todos os fatores. O glamour das viagens constrasta com a necessidade de encarar o trabalho com seriedade. O poker é uma das poucas profissões em que você pode ir trabalhar e voltar com menos dinheiro do que começou o dia. A vida de vitórias é para poucos.

Mas, nesta coluna, decidi compartilhar com vocês um pouco do que não falei durante a cobertura da minha participação no EPT Copenhagen no meu site (www.leobello.com.br). Como é viajar e ir participar de um evento deste porte? O que ninguém aqui ficou sabendo.
Primeiro, devo admitir que me senti da mesma forma que um outro esportista famoso deve se sentir. Tendo ido como jogador patrocinado pelo Bestpoker, fui recebido com festa na Dinamarca. Tal fato já deve ser comum para o Akkari e o Alê Gomes, membros do PokerStars Team Pro, mas pela primeira vez eu pude vivenciar a experiência jogando pelo Bestpoker.

O site, que originalmente é uma empresa sueca, tem forte presença na região, e recebeu a mim e ao DC de maneira exemplar. Logo no primeiro dia fomos recebidos por dois representantes do site (que depois descobrimos que trabalham no escritório de Estocolmo). Magnuss é o responsável por acompanhar os jogadores VIPs do Bestpoker. Todos aqueles que fazem muitos player points pelo site têm diversas vantagens, desde entrar em festas exclusivas até mesmo ter um acompanhamento personalizado em eventos como este. E sabe o que é mais interessante? O Magnuss comentou que eles estão prestes a montar um serviço semelhante no Brasil.

Conheci também o pessoal da Poker Icons, que nada mais é que uma agência que gerencia a carreira de vários jogadores. A mais famosa das agenciadas é a Annette Obrestad, que inclusive participou do evento e ficava o tempo todo no lounge da Icons conosco. Essa mesma empresa contratou recentemente a Maridu e seu namorado, o Jon “Apestyles” Van Fleet. Além de dar todo o suporte para seus jogadores durante os eventos, a empresa também ajuda a negociar os contratos junto aos sites e conseguir melhores acordos para os jogadores, como bônus por aparições na mídia. Bem interessante o trabalho.

Aos poucos, e ainda no primeiro dia, fomos apresentados a vários representantes da mídia européia, e logo entrevistas começaram. Para sites, blogs e revistas. Todos queriam entender um pouco sobre a situação do poker no Brasil. É claro que eu falava a mais absoluta verdade, que hoje, no Brasil, há muitos jogadores talentosos e que estão papando tudo pela internet (melhores até do que eu próprio). Mas toda aquela atenção até que era interessante. Eu nunca poderia imaginar como o Brasil atrai a atenção de todos. Algumas pessoas falavam que se lembravam do Felipe Ramos (nosso amigo Mojave). Alguns conheciam de nome o Christian Kruel, o Akkari, o Alê Gomes e até o Brasa, mas daí em diante poucas pessoas conheciam. Temos muito ainda a mostrar e supreendê-los, tenho certeza.

A sala de imprensa também era uma visão a parte. Praticamente todos os grandes sites que conhecemos marcavam presença. Ao nosso lado, uma jornalista irlandesa, que cobria para a CardPlayer Europa. Muito simpatica e simples, ela contava várias histórias do seu curto tempo fazendo reportagens de torneios (aproximadamente um ano). Durante aqueles quatro dias, em que além de jogador fui também repórter, pude observar o torneio por um ângulo diferente. Mesmo já tendo feito o mesmo trabalho na WSOP, daquela vez era diferente. E um dos motivos era que uma boa parte ali já me conhecia, pois o BestPoker tratou de explicar a todos quem era o seu representante.

Foi uma pena que caí no final do primeiro dia. Na mão em questão, eu, que fui agraciado com um AA, paguei um all-in pré-flop de um jogador que mostrou AT©, e conseguiu acertar um flush com quatro cartas de ouros na mesa, acabando com o meu torneio. Uma pena, pois no dinner break não precisei nem ao menos procurar comida. O pessoal de suporte do BestPoker providenciou um belo hambúrguer para o jantar. Bom, isso porque no dia anterior comemos em um restaurante tailândes do próprio hotel-cassino.
O que mais me surpreendeu durante o torneio foi ter várias pessoas fotografando, me perguntando quantas fichas eu tinha e até mesmo acompanhando minhas mãos. Antes mesmo de o DC publicar no meu site, um blog sueco publicou a mão que eu ganhei de um profissional local segurando apenas 95o.
Foi um dia somente como jogador, mas deu pra sentir o gostinho de ser um profissional de poker. Venho jogando há mais de 4 anos. Lembro quando comecei em meu primeiro torneio ao vivo, no quintal de uma casa em Campinas, no que seria o berço do Circuito Paulista. Quem diria que no início da 5ª temporada, no final desse mesmo mês de fevereiro, 246 pessoas estariam jogando. Mais de 100 mil reais em prêmios, e por um momento eu não conseguia perceber o que foi mais emocionante: estar em um EPT jogando pelo Bestpoker ou em uma mesa no CPH, onde todos falavam português e o clima de amizade imperava. Falei que foi um mês de emoções fortes, então imaginem o que foi ser um dos bolhas da maior etapa do BSOP na história, com 206 participantes e mais de 200 mil reais em prêmios – também neste mesmo mês de fevereiro.

Seja qual for a definição de ser um jogador profissional de poker, a emoção estava presente nos três eventos. Joguei com a pátria nas chuteiras, queria muito ganhar cada um destes torneios. Mas em todos eles senti que os outros competidores também estavam antenados com o mesmo desejo. É claro que o foco de muitos era a grana, mas estar num EPT (ou, para alguns, em um BSOP ou CPH) é que era parte de um sonho.

Hoje sonho com a Europa e com uma mesa final de milhões. Mas já sonhei em ver o CPH, que começou com 25 jogadores, chegar um dia a 250. E realizei esse sonho. No tempo que levou para concretizar este desejo, vi muitas pessoas chegando e fazendo do Circuito Paulista e do BSOP sua porta de entrada para o mundo mágico do poker. Cada um destes eventos trouxe alegrias para muitos que tiveram a honra de levantar seus troféus, mas também marcou aqueles que apenas participaram e conquistaram um objetivo.
O grande motivo por trás desta coluna é mostrar que, mais do que o glamour da vida de um jogador, o que deve motivar cada um dos leitores da CardPlayer Brasil é tão somente a vontade de atingir os seus objetivos. Um por um, curtindo cada passo conforme eles se apresentam. Vencedo-os e crescendo no caminho.

Que você possa ser a estrela do próximo BestPoker Team, ou ainda, uma estrela com brilho próprio, cheia de orgulho em participar destes eventos. Não desista nunca de seus sonhos. Eu cheguei lá com muito estudo, dedicação e vontade. Que um dia você possa partilhar comigo sua história de como o poker transformou sua vida. Profissional ou amador, devemos ter nossos sonhos de acordo com nossas expectativas e esperanças.

O campeão do EPT, um garoto de 20 anos, jogava um torneio pela primeira vez após sair do exército. O campeão do CPH disse que conquistou o título que mais sonhava desde que começou a jogar, e justo em uma etapa récorde (parabéns, Sérgio!). O campeão da primeira etapa do BSOP teve seu mais importante título (parabéns, Marco Duran!) e já prometeu buscar outros no futuro. O céu é o limite.

A vida de um profissional de poker é do tamanho que quisermos. Viagens não são tão importantes quanto atingir seus objetivos. Não comece pelo mais difícil. Aprenda e participe do máximo de torneios que puder. Faça amigos ao longo do caminho, e sempre se questione.

Vejo vocês no CPH e no BSOP! E juntos vamos conquistar o mundo e mostrar a todos do que o brasileiro é capaz.




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