EDIÇÃO 20 » ESTRATÉGIAS E ANÁLISES

Questionamentos de um Cliente

Perguntas de um estudante de poker


Bob Ciaffone

Como vocês devem saber, eu tenho muitos clientes, estudantes de poker com os quais trabalho. Recentemente, recebi muitas perguntas em um e-mail de um de meus clientes que tinha aplicações tão amplas que resolvi compartilhar com vocês. A correspondência foi levemente editada para dar mais clareza, e minhas respostas foram expandidas aqui.

Meu cliente escreveu: “Eu tenho algumas perguntas só sobre cash games de hold’em. Na medida em que lia diversos livros, adotava muitas coisas como verdades no poker. Hoje, eu as questiono. O que você acha das afirmativas a seguir?”

1. “‘A-A versus K-K all-in pré-flop é simplesmente inevitável. Basicamente, se você tiver K-K, deve estar pronto para ir all-in pré-flop. Se seu oponente tiver A-A, você simplesmente teve azar’. Muitos profissionais e autores de poker disseram isso”.

Bob Ciaffone: Verdadeiro: para estoques de 100 big blinds ou menos. Falso: para estoques de 200 big blinds ou mais. Incerto: para estoques de 101 a 199 big blinds. Se estiver jogando com blinds de apenas $10-$20 e tanto você quanto seu oponente tiverem estoques monstros de $6.000, você acha que deve empurrar todo seu dinheiro com dois reis? Deve haver algum sentido, pois o dinheiro é maior onde você não quebra com um par de reis pré-flop. Analise a proporção entre o tamanho do pote e o estoque de fichas. Suponha que você abra com 3x BB e todo mundo peça mesa até o big blind, que agora aumenta para entre 10x e 12x BB. Se você tiver 30 big blinds, volta all-in sem pensar a respeito. Se tiver 200 BBs, prefere pagar e ver o flop ou dar reraise com a intenção de colocar todo seu dinheiro se seu oponente voltar a atacar? Um call é prudente, pois você tem boas odds para tentar flopar uma trinca, mas ainda assim ter a opção de permanecer na mão caso flope um overpair.

2. “‘Se você flopar uma trinca e perder para outra trinca flopada, é inevitável’. Isso veio dos escritos de Todd ou Doyle Brunson. Você parece crer que deve proceder com cautela se não tiver a maior trinca ou o nuts. Com que frequência duas pessoas flopam trincas?”

Bob Ciaffone: É definitivamente raro ver duas trincas flopadas. Contudo, Doyle foi citato de forma equivocada. Ele disse que você deve ser capaz de se livrar da menor trinca em um pote sem raise, mas que não se deve fazer isso em um pote aumentado. Muito embora seja uma simplificação (assim como a maioria das generalizações), ela é essencialmente verdadeira.

3. “‘Se você colocar todo o dinheiro com a melhor mão e perder (alguém acertar um draw que lhe derrote), simplesmente é azarado’. Por exemplo, você tem o nut straight com um flush draw possível no turn, e a pessoa imediatamente antes de você vai all-in. Deve-se pagar (e possivelmente aumentar para forçar a saída de um flush draw)”.

Bob Ciaffone: Verdade. A melhor maneira de ver se você jogou corretamente ao olhar para uma única mão é ver como se comportou quando o dinheiro alto entrou, em vez de analisar o resultado atual.

4. “Eu tenho tentado jogar grandes mãos, flopar uma trinca ou uma sequência e dobrar. Devo dizer, isso não me serviu bem no longo prazo. Eu faço apostas do tamanho do pote no flop, turn e river (caso decida apostar) para tornar as odds ruins para possíveis draws”.

Bob Ciaffone: Por que você faria apostas do tamanho do pote no river se o objetivo é tornar as odds ruins para possíveis draws? No river, as odds para possíveis draws são as mesmas para todas as mãos: zero. Apostar no river depende muito da situação, não se baseia em fórmulas.

5. “Eu vejo Daniel Negreanu defendendo o poker small-ball, mantendo os potes pequenos e diminuindo seus riscos. Tenho o novo livro dele e não li essa sessão, mas vi um vídeo que ele produziu, que mostrava algumas coisas básicas. O que eu devo tentar alcançar? Jogar poucas mãos depois do flop com grandes potes ou mantê-los os potes menores (apostando metade do pote)?”

Bob Ciaffone: Poker small-ball, em minha opinião, só dá certo para gênios como Daniel Negreanu que jogam ao vivo (e não online) e são mestres em ler as pessoas. Fazer apostas sólidas ajuda a diminuir a gama de mãos que o oponente pode estar segurando, termina os potes com vitórias frequentes e torna o jogo mais fácil.

“Obviamente, eu suponho que se deve tentar conseguir o máximo de dinheiro possível quando tiver o nuts”.

Bob Ciaffone: Parece que você é bem fácil de ler.

6. “David Sklansky escreveu que, se você tem o nuts, deve ir all-in. Ele é um cara de números, e afirma que, no longo prazo, você vai ganhar mais das pessoas que dão call do que das que apostam pelo valor. Eu não estou certo se isso está funcionando para mim. Quando você acerta muitas mãos em uma sessão, parece um blefe. Mas eu não tenho recebido muitas cartas nem acertado draws há dois meses. Sei que ciclos assim acontecem, então não estou desencorajado. Eu só acho que tentar fazer isso não faz sentido”.

Bob Ciaffone: Eu não conheço nenhum jogador profissional de no-limit hold’em que vá all-in automaticamente sempre que tem o nuts — incluindo Sklansky.

7. “Eu realmente não tenho blefado ultimamente. De qualquer forma, pouquíssimas pessoas dão fold na mesa $1-$2 de no-limit. Aqueles que largam são fáceis de notar. Eu devo não me preocupar com blefes?”
Bob Ciaffone: Se você não blefa e vai all-in sempre que tem o nuts, até os idiotas percebem isso e vão jogar bem contra você. Blefar é uma ferramenta necessária no poker. Eu concordo que é mais difícil fazer isso em jogos com blinds de $1-$2, pois os oponentes mais fracos lotam essas mesas. Como sabemos, o pior defeito de muitos jogadores fracos é negligenciar a habilidade de desistir quando parecem estar derrotados. Também é tentador pedir mesa nesses jogos quando se fala primeiro, em vez de blefar, pois esses adversários geralmente não entendem que foram convidados a levar o pote, e recusam o convite aceitando uma carta grátis quando estão na sua frente. Mas alguns blefes dão certo em qualquer jogo.

Eu vejo que as perguntas que recebi nesse e-mail tinham muitas informações sobre poker que são distorcidas por algumas pessoas para ter significados diferentes dos intencionados pelo autor.




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