EDIÇÃO 19 » COLUNA NACIONAL

Uma mão, cinco conceitos


Raul Oliveira

Antes de contar sobre essa mão que aconteceu comigo outro dia, gostaria de dividir com vocês minha maior conquista até hoje: Julia, minha primeira filha, que nasceu no dia 6 de janeiro e certamente veio trazer muitas alegrias e paz para mim, minha mulher Tawanny, e nossas famílias. Seja muito bem-vinda, minha princesa!

Voltando ao batente, agora vamos analisar uma mão muito interessante. Foi num torneio de $100 com rebuys, restavam 35 jogadores, os blinds estavam em 600-1.200 com antes de 100, e a média no momento era de 34k. Eu tinha 42k fichas naquele instante e estava entre os 10 primeiros. A mesa rodou em fold até dois jogadores antes de mim. Ele entrou com raise de 2.880 e o cut-off pagou. Quando chegou a minha vez de falar, resolvi empurrar reraise nos dois e fiz tudo 10.200, aplicando um squeeze. O primeiro jogador largou sem pensar muito, deixando claro que tinha utilizado o GAP para abrir raise. Mas, para minha surpresa, o segundo deu call fora de posição – ele tinha um pouco mais de fichas do que eu (47k) antes de a mão iniciar.
    
O flop veio 9-8-7 rainbow, excelente para o meu TT. O oponente, como era de se prever, deu check. Eu coloquei uma bet de 14k num pote de 26k. Sem hesitar, ele vem de all-in, deixando claro que fez um slowplay na mão.

A situação agora ficou assim: tenho 18k em fichas e há 72k no pote, compondo uma relação de 1-4. Em outras palavras, eu precisaria de mais de 20% para fazer um call matematicamente correto. Porém, mesmo sabendo que as pot odds não são o único aspecto a ser levado em conta num torneio, não havia como dar fold nessa situação, já que, mesmo que ele tivesse acertado uma trinca no flop, eu teria cerca de 31% de chances de vencer. A outra hipótese (que realmente aconteceu) era ele ter AA, caso em que eu teria quase 38% de chances. O detalhe é que, se eu largasse essa mão, ficaria com apenas 15 big blinds. Diante de motivos tão claros, dei call. No turn veio um 2 e no river bateu um K, gerando assim o quinto e mais importante conceito durante um torneio: ganhe os megapotes.

Deixando a brincadeira de lado, o importante aqui é entender – e principalmente gostar – da complexidade do jogo. Como vimos, numa mão simples como essa, vários fundamentos do hold’em foram utilizados, e entender cada um deles vai ajudar muito a tomar decisões mais acertadas. Se você parar e pensar, vai ver que o poker nada mais é do que uma série de tomada de decisões. Algumas fáceis, outras bem difíceis; algumas com informações incompletas, outras praticamente “no escuro”.

Agora, revisando, vejamos um pouco de cada um dos conceitos que se apresentaram nessa mão:

Gap: O conceito de gap (lacuna) é, resumidamente, a idéia de que você tem que dar raise com mais mãos do que daria call, ou seja, não é preciso uma mão tão forte para abrir raise como seria necessário para dar call nesse raise. Para se obter sucesso em multi-tables, talvez esse seja o conceito mais importante a se dominar. 

Squeeze: Como o próprio nome diz, é quando nós “apertamos” o jogador que deu raise primeiro e tomou um call. Observe o esquema:

Jogador A (raise) -> Jogador B (call) -> Jogador C (reraise) -> Jogadores A e B (fold) -> Jogador C executou um squeeze sobre os Jogadores A e B.

Esse move, além de poder ser feito com uma mão boa, é bastante utilizado como blefe. Se você tiver uma boa leitura da mesa e dos adversários, ela se torna uma jogada fortíssima, em que é possível acumular grande quantidade de fichas.

Um squeeze clássico foi o aplicado por Dan Harrington, com 62, na mesa final do Main Event da WSOP 2004.

Slowplay: Quando jogamos uma mão muito forte de forma que ela pareça fraca. Essa é uma estratégia arriscada, mas bastante utilizada em torneios até hoje, principalmente quando o jogador tem AA. Trata-se de um move que divide opiniões, mas que cedo ou tarde todo mundo acaba executando.
Pot Odds: É a relação custo-benefício de determinada jogada, que mostra se a mesma é ou não lucrativa no longo prazo. Aqui, faz-se aquela conta clássica de “quanto vamos ter que colocar” versus “tamanho do pote”. É importante dominar o conceito, mas o principal é entender que nem sempre suas decisões devem ser baseadas apenas em odds.

Ganhe os Megapotes: Apesar de importantíssimo, foi apenas uma brincadeira.




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