EDIÇÃO 19 » COMENTÁRIOS E PERSONALIDADES

“Entender O Poker” Seria Um Dom?

O arsenal dos gênios


Thiago Decano

Pessoal, primeiramente, feliz 2009! Depois de um período intenso de atividades, estou de volta para trocar idéias com vocês aqui na CardPlayer Brasil!

Com o crescente do poker no Brasil e no mundo, este ano promete! Aliás, já começou fervendo, com o Poker Caribbean Adventure. Foi uma festa brasileira em Bahamas, com destaque para Alexandre Gomes, que jogou o fino do poker, especialmente na reta final. Nessa altura do torneio o cara sobrou, fez ótimos moves e conquistou a 4ª posição. Felipe Mojave também arrebentou! Depois de liderar no Dia 1, terminou na 22ª posição, mostrando que é questão de tempo para cravar um grande torneio internacional. Parabéns também ao Leandro “Brasa” e João Marcelo, que ficaram ITM.

Quanto a mim, infelizmente fui eliminado no Dia 2. Estava short, fui all-in pré-flop com KJo e encontrei um 88. Apesar do barbudo no flop, um 8 no turn acabou com minhas chances. Restou-me torcer pela brasucada e curtir minha estadia em Bahamas, um lugar incrível que vale a pena conhecer.

Tirei janeiro para descansar. Devo voltar ao game pra valer em fevereiro, mais focado SNGs turbos e diminuindo a quantidade de multi-tables. Isso, mais por uma questão de horários e de outros projetos que revelarei nas próximas edições.

Percebi uma evolução no poker em geral, porém, a maioria dos jogadores ainda parece possuir grande dificuldade no que eu chamo de “entender o jogo”. Vocês já devem ter lido e escutado que o poker é um jogo complexo, dinâmico, que tem inúmeras variáveis e aspectos, que algumas jogadas são claramente +EV, que quanto maior a sua agressividade, maior será sua chance de sucesso, e que não se deve jogar as cartas, mas as pessoas.

Na verdade, sinto cada vez mais que essa percepção é uma espécie de dom, um talento que muitos dos jogadores dificilmente entenderão, mas que nem por isso deixarão de ser vencedores. Estou falando de decisões que a maioria não entende, jogadas que se tornam brilhantes por serem de rara coragem e que, quando chegam ao showdown (embora dificilmente isso ocorra nessas situações), assustam até os profissionais mais experientes.

Tais jogadas podem ser as mais diversas possíveis. Desde um squeeze com posição após um raise e três calls, até um check-raise sem absolutamente nada no river. Ou então um all-in pré-flop com Q8s após um raise e dois calls, pelo exato take it down da jogada, depois analisar os stacks e notes dos adversários envolvidos, até voltar all-in pré-flop com AA (totalmente overbet) depois de um raise, sabendo que suas chances de ser pago são maiores do que se você optar por um reraise.

Uma mão interessante ocorreu no próprio PCA, com o Alexandre Gomes: mesa semifinal, restando oito jogadores, com blinds em 15k-30k, Alê dá raise para 80k em middle position. Poorya Nazari (que mais tarde seria o campeão) paga do button. Dustin “Johnsmiley1” Dirksen, reconhecido jogador profissional de pot-limit Omaha, olha suas cartas e anuncia – quase no mesmo instante – um raise, e faz tudo 250k. Era a tell que Alexandre precisava para perceber que se tratava de um move. Assim, após analisar a situação, o brasileiro aumenta para 700k e fica com 800k para trás: Nazari dá insta-fold, Dustin abre um sorriso e dá fold também, e Alê mostra 89s e leva a torcida brazuca ao delírio.

É disso que estou falando quando me refiro a “entender” o jogo. Não importam as cartas, Alexandre tinha o controle da situação, confiou na sua leitura e colocou metade do seu stack no pano – e fez isso na reta final de um dos torneios de maior premiação do circuito internacional.

Esses são exemplos de moves geniais, o problema é saber quando e contra quem executá-los. Já observaram o estilo over-aggressive de Dario Minieri na mesa de poker? Parece um maluco, foge totalmente dos padrões e incomoda a todos. Seu sucesso só é possível porque ele “entende” perfeitamente o jogo, antecipa-se aos padrões e surpreende os adversários. Logicamente, algumas vezes suas jogadas não darão certo e parecerão absurdas para quem vê de fora, mas na realidade são parte do maravilhoso arsenal dos grandes vencedores.

Então, diante de tanta criatividade e ousadia, parece que nosso esporte se aproxima bastante do que se convém chamar de “Arte”. É isso, pessoal! Que este seja um ano ainda mais repleto de vitórias para o Brasil, e que nossa luta pelo reconhecimento do Texas Hold´em triunfe! Sucesso e muitas alfaces a todos!




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