EDIÇÃO 18 » MISCELÂNEA

Bits e Bets: Sit-and-go Fase Intermediária


Vicenzo Camilotti

No artigo passado, falei sobre a aplicação prática dos índices VPIP e PF nas fases iniciais de um sit-and-go, a partir dos dados coletados por softwares de poker como o Hold´em Manager ou Poker Office. Agora abordarei a fase intermediária desse tipo de torneio, quando os pingos estão médios.

Esses resultados colhidos a respeito de seus adversários são valiosos e, quando bem utilizados, aumentam significativamente sua vantagem. Imagine um torneio em que você já conhece com precisão os movimentos que quatro dos seus oponentes na mesa fizeram anteriormente. Nesse caso, o poker até deixa de ser um jogo de informações tão incompletas.

Por pingo “médio” entendo, tomando como exemplo o Poker Stars, os de 25/50 e 50/100. A não ser que sua pilha, que inicialmente era de 1500 fichas, caia violentamente, o foco deve continuar sendo a cautela. Proteger seu estoque é fundamental, ainda mais quando a média de fichas não permite espaço para muitas manobras, quando comparadas a um torneio multi-table que não seja turbo.

Lembrando que, mesmo aplicando-se corretamente o VPIP e PF (voluntarily put money in the pot e pré-flop raise, respectivamente), dentre outros índices que você pode ativar no software, ainda assim, tudo pode dar errado no torneio. O resultado final de 100 torneios sit-and-go é extremamente pequeno para avaliar sua força de jogo, que dirá em 10 torneios seguidos. Para se ter um demonstrativo mais preciso, nada abaixo de mil torneios tem validade (isso mesmo). Em se tratando de sit-and-go, o “longo prazo” começa aos 1.000 torneios disputados.

Agora vamos à seguinte situação de pingos “médios”, típica de SNG: com dois jogadores eliminados, sua pilha está um pouco acima do inicial, e você quer saber o que fazer com seu 9-9 no dealer (vide diagrama 1).

A mesa roda em fold até o CT, que abre de raise padrão de 150. O que fazer? VPIP e PF podem lhe responder! Supondo que você tenha mais de 100 mãos cadastradas do oponente, basta juntar essas duas informações vitais e torcer para que sua leitura seja acurada.

VPIP 6% e PF 3% – CALL
Ele é uma rocha e demora muito para jogar (péssimo procedimento para um torneio curto como um sit-and-go, diga-se de passagem). Quando entra de raise, tem uma bomba na mão. Arriscando 8% da sua pilha, você pode dobrar em cima do oponente – que quase certamente apostará depois do flop, não importa o que venha, já que rochas não costumam largar suas mãos após abrir raise em um pote.

VPIP 35% e PF 25% – RERAISE
O oponente é loose-aggressive e seu range certamente é muito superior ao dele. Portanto, fazer o Sr. Agressivo provar um pouco do próprio veneno é mandatório. Um reraise de 400 fichas já mostra bastante força, com chances de encerrar a mão antes mesmo do flop, já que a probabilidade de ele ter um jogo fraco (como um K7s, por exemplo) é grande.

Caso você tome uma 4-bet (ou re-reraise), pode consultar o número que consta nesse índice do oponente. Porém, para poder consultá-lo, é preciso ter um valor estatisticamente grande de mãos jogadas. Enquanto VPIP e PF são computados a cada mão jogada, 4-bet é uma estatística muito mais precisa e acontece muito menos durante o jogo. Enquanto bastam 100 mãos nos primeiros para se ter uma idéia razoável da característica do oponente, no “re-reraise”, menos de 1.000 mãos é melhor nem verificar.

Se for esse o caso, aconselho pagar mesmo o 4-bet e torcer para que seja um confronto contra duas overcards, já que foram investidas 400 fichas (ou mais de 20% das sua pilha), criando-se pot odds imensas para o call com suas 1.470 fichas restantes. O fato de ele ser over-aggressive diminui bastante a chance de o confronto se dar contra um par maior que o seu. É possível até aparecer um 7-7, por exemplo, já que os números do oponente falam que ele supervaloriza as mãos que tem.

VPIP 16% e PF 13% – RERAISE
Trata-se de um típico adversário tight-aggressive. Assim, também aconselho um reraise de 400 fichas para sabermos onde estamos. No caso de uma 4-bet, o procedimento deve ser diferente: passa a ser mais interessante dar fold, já que o oponente é tight-aggressive e deve saber manusear melhor essa sua agressividade (lembrando também que isso fica em função do número de mãos cadastradas, se suficientes ou não para uma análise precisa do índice de re-reraise dele).

VPIP 40% e PF 3% - INSTA-CALL
É um caso similar ao da “rocha”. É quase certo que você esteja perdendo pré-flop, mas o adversário – que é um “limper” – joga como um típico iniciante. Portanto, ele agride muito pouco antes do flop e, quando entra de raise, está armado até os dentes, sem a menor predisposição de largar sua mão premiada depois de ver o flop. Se sua trinca bater, facilmente dobrará seu estoque.

Agora, aproveitando o mesmo exemplo, vamos diminuir sua pilha para 1000 fichas e aumentar a do CT (vide diagrama 2).

Vem o mesmo raise de $150, mas o enfoque muda completamente. Caso ele seja uma rocha ou limper, você deve dar fold correndo. Isso ocorre porque um call seria comprometedor para sua situação no torneio, já que sua chance de flopar uma trinca é de 1-em-8,5. Nitidamente, não vale o investimento para tentar dobrar após o flop. E voltar um reraise all-in é suicídio, já que o range de 3% de raise pré-flop é JJ+ e KQs+. Além disso, dependendo do adversário, ele pode também ter um range de TT+ e AKs (com 3% das mãos, as cartas escolhidas variam de jogador para jogador).

Quanto aos oponentes tight-aggressive e loose-agressive, reraise-all-in é a única alternativa. Fold é inaceitável, pois os ranges deles são inferiores ao seu 9-9. Além disso, você não possui espaço para manobras de fichas: é esperar o fold ou o call do adversário e ficar na torcida.

Na próxima edição, finalizarei a série sobre “VPIP e PF em Sit-and-Go” e começarei a falar sobre alguns outros programas que utilizo para esse tipo de torneio. Até lá!




NESTA EDIÇÃO



A CardPlayer Brasil™ é um produto da Raise Editora. © 2007-2024. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste site sem prévia autorização.

Lançada em Julho de 2007, a Card Player Brasil reúne o melhor conteúdo das edições Americana e Européia. Matérias exclusivas sobre o poker no Brasil e na América Latina, time de colunistas nacionais composto pelos jogadores mais renomados do Brasil. A revista é voltada para pessoas conectadas às mais modernas tendências mundiais de comportamento e consumo.


contato@cardplayer.com.br
31 3225-2123
LEIA TAMBÉM!×