EDIÇÃO 16 » FIQUE POR DENTRO

Questão de Estilo: Vivek ‘psyduck’ Rajkumar


Julio Rodriguez

Durante os dois últimos anos, Vivek Rajkumar vinha chegando cada vez mais próximo do inevitável: obter uma vitória em um dos maiores eventos do poker. Constante ameaça no circuito de torneios, o jovem de 22 anos conta com 18 prêmios em dinheiro em seu breve currículo. Rajkumar superou 516 competidores e ganhou o título do Borgata Poker Open e um prêmio de $1,4 milhões.

Rajkumar conversou com a Card Player sobre as três mãos que o catapultaram para a vitória.

A Mão — Ganhando Todas as Fichas Com Um Call Heróico Que Deu Certo
Em uma batalha entre os blinds, Howard Appledorf completou do small blind e Vivek Rajkumar pediu mesa. O flop veio A 9 9 e Appledorf tomou a iniciativa apostando 35.000. Rajkumar pagou, e o turn foi o J. Appledorf apostou 50.000 e Rajkumar pagou. O river foi o K, e Appledorf foi all-in com um total de 315.000.

Rajkumar se levantou da cadeira e estudou seu oponente durante vários minutos antes de perguntar “Sete como carta mais alta?” O relógio soou e Rajkumar pagou, revelando seu par de valetes. Appledorf foi eliminado e Rajkumar tomou a liderança em fichas com 1.403.000.

Julio Rodriguez: Qual era sua opinião a respeito de Appledorf nesse momento?

Vivek Rajkumar: Esse oponente estava conversando comigo na mesa sobre como o no-limit hold’em e o poker em geral dependiam de coragem e da habilidade de blefar. Ele já tinha empurrado 50 big blinds diante do aumento de um short stack sem se importar com quem estava atrás dele com ATo, então eu sabia que ele era inconseqüente.

JR: Você pensou em aumentar pré-flop, sabendo que teria posição sobre ele durante o restante da mão?

VR: Contra muitos oponentes weak-tight, eu aumentaria com essa mão, pois eu levaria o pote pré-flop ou ganharia um pote inflado com uma continuation bet. Contra esse oponente, eu decidi jogar com um pote menor em posição sem tomar a iniciativa pré-flop. Além disso, aumentar com uma mão como J-3o é melhor do que aumentar com uma com maior valor no flop, pois se ele reaumentasse pré-flop, eu poderia simplesmente desistir (já largar uma mão como T9s é um saco), mas eu decidi pedir mesa aqui.

JR: Por que não fazer nada no flop? Se você achava que sua mão era boa, por que não aumentar?

VR: Eu achei que ele pudesse voltar um blefe se eu aumentasse no flop. Eu achei que pagar no flop e aumentar no turn demonstraria muito mais força para esse oponente. Eu definitivamente poderia aumentar no flop e reagir diante de um reraise blefando dele, mas na hora pensei que pagar no flop e atacar no turn era a melhor escolha. Eu também achei que minha mão tinha um pouco de valor num showdown, o que sempre ajuda quando se tem posição. Eu acreditei que ele tomaria a iniciativa no flop com mãos como 7-high ou 6-high, e pediria mesa mais freqüentemente com um rei ou uma dama, que é o que muitas pessoas fazem em bordos assim, que tipicamente não beneficiam nenhum jogador. Então rei ou dama como carta mais alta, em geral, é uma boa mão num showdown, mesmo sem melhorar.

JR: Você melhorou sua mão no turn, então você a transformou numa caçadora de blefes?

VR: Sim, minha mão em todos os sentidos é definitivamente uma caçadora de blefes, a não ser que ele por acaso ache que pode blefar pensando que eu tenho um ás e tenha K-K ou Q-Q, ou blefe achando que eu tenho 9-X e tenha um ás, o que obviamente soa ridículo. Eu sabia, com base em meu jogo contra ele, que até então ele não gostava de fazer isso.

JR: Você se surpreendeu quando ele foi all-in no river? Você duvidou de sua leitura?

VR: Não, eu basicamente achei que o tempo todo ele estava disposto a ir adiante com um blefe. Você deve saber como as pessoas pensam com um ás ou 9-X nessa situação: elas geralmente querem tirar o máximo de você, enquanto acharem que você pode pagar, e como quase todo mundo largaria A-X ou J-X nesse river, meu oponente teria apostado 100.000 em vez de ter empurrado 300.000. Então, na minha opinião, de certo modo, pagar 300.000 era mais fácil do que pagar 100.000. Obviamente, isso é altamente explorável se meus oponentes perceberem que eu penso assim, pois podem apostar pouco com seus blefes, e muito com as mãos que querem que sejam pagas, mas eu estava confiante de que meu oponente não estava raciocinando dessa maneira. Contra muitos profissionais de no-limit que podem variar o tamanho da aposta de acordo com o tipo de mão, meu call no river é suicídio, mas eu tinha certeza de que esse oponente não estava medindo de forma alguma sua aposta. Ao final, ele não tinha absolutamente nada. Foi pego blefando.


A Mão — Executando Um Enorme Blefe na Mesa Semifinal
Vivek Rajkumar aumentou para 120.000 da posição under the gun e Stephen Vanauken fez o pagamento em cutoff. O flop veio Q 9 2 e Rajkumar continuou com uma aposta de 185.000. Vanauken pagou, e o turn foi o 7. Rajkumar apostou 380.000. Mais uma vez, Vanauken pagou, e o river foi o K.
Rajkumar foi all-in com 733.000 e Vanauken refletiu muito até eventualmente dar fold. Rajkumar revelou o blefe e levou um pote que lhe deu um estoque de 2.110.000 fichas.

JR: O flop não ajuda sua mão, mas você aposta com firmeza. Essa é uma continuation-bet padrão?

VR: Foi um bordo de certo modo descoordenado, com apenas um flush draw. Eu achei minha c-bet um vácuo, sem dinâmica contra esse jogador, mas lucrativa. Perceba que, mesmo que ele pagasse com várias mãos conexas de mesmo naipe pré-flop, as únicas que podem seguir nesse bordo são mãos como Q-X, espadas, JT e pares médios como TT. Se a gama dele é muito maior pré-flop, minha continuation bet é lucrativa. Perceba que, para compensar minha aposta sem nada, eu também apostaria nesse flop com uma dama, overpairs e draws.

JR: O turn também não ajuda, mas mesmo assim você aposta de novo. Você apostou 380.000 sabendo que isso lhe deixaria o suficiente para blefar novamente no river? Passou pela sua mente desistir?

VR: Eu pensei que pudesse fazer com que ele largasse muitas cartas de espadas ou mãos como JJ ou TT que pagaram no flop para ver o que eu faria no turn. Eu também achei que havia chances de que fazer com que ele desistisse de QJ, já que não tínhamos um histórico e eu não tinha sido visto blefando. Quando ele pagou no turn, eu tinha desistido da mão, mais ou
menos.

JR: Você empurrou no river e ele refletiu durante um longo período. Sabendo o que ele tinha, você ficou surpreso com o longo raciocínio dele? O que isso lhe diz sobre sua tentativa de blefe?

VR: Eu achei que, apenas com uma overcard, ele desistiria de AQ e QJ diante de meu all-in no river, temendo por sua vida no torneio. Também havia algumas mãos do tipo par com straight draw e par com flush draw que pagariam no flop e no turn mas desistiriam no river, então a única mão com que eu me preocupava era KQ. Contra toda a gama de mãos dele, eu achei que minha aposta era lucrativa, então eu fui em frente e empurrei all-in. Para equilibrar minhas jogadas, eu geralmente aposto pelo valor com A-A ou A-K nessa situação, e em geral até mesmo com A-Q se eu achar que meu oponente está preparado para pagar heroicamente com QJ, JJ ou TT.


A Mão — Contando Com a Sorte na Mesa Final
Vivek Rajkumar aumentou para 450.000 da posição cutoff e Dan Heimiller pagou do button. Mark Seif então reaumentou para 1.350.000 do small blind. Rajkumar reaumentou para 4.350.000. Heimiller desistiu e Seif foi all-in.

Rajkumar pagou instantaneamente com 10 10, apenas para ver que estava diante de A A de Seif. Contudo, o bordo trouxe Q 10 5 Q 9 e deu a Rajkumar o pote monstro e o controle completo da mesa com mais de 13 milhões em fichas.

JR: Aumentar com um par de dez não é mistério aqui, mas depois Heimiller paga do button e Seif reaumenta. O que você achava que Seif estava tentando? Um squeeze? Um par menor? Overcards?

VR: Você deve entender que Seif é o jogador mais agressivo da mesa, definitivamente mais agressivo do que eu no geral (gosto de pensar que eu sou mais agressivo dependendo da situação). Eu coloquei Seif em uma gama de mãos que incluíam pares médios, pares altos, overcards e, de vez em quando, um squeeze sem nada, pois eu aumentei de posição final, seguido de um call simples, o que, por si, é bastante amplo. Com 40 big blinds e um par de dez em uma mesa com cinco jogadores, eu absolutamente não consigo largar. Perceba também quão explorável seria para ele se eu descartasse um par de dez toda vez que ele aumentasse. Além disso, Seif já tinha re-reaumentado all-in com um par de oitos, derrotando damas depois dele, então eu sabia que ele estava apostando sem possuir mãos excelentes.

JR: Heimiller desiste e Seif vai all-in. Você precisa pagar nesse momento, mas se arrepende do seu reraise?

VR: Diante de tudo que eu sabia, eu jogaria essa mão exatamente da mesma maneira. As pessoas simplesmente não percebem quão facilmente os estoques vão para o centro da mesa com dois jogadores agressivos em uma mesa com cinco participantes e 40 big blinds em jogo. Mesmo que eu tivesse perdido essa mão, não teria me arrependido de tê-la jogado, mas eu dei uma sorte enorme, e acertei uma trinca logo no flop, sem estresse algum.




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