Quer estudar mãos de poker reais com os jogadores de maior sucesso da Internet? Nesta série, a Card Player oferece análises de mãos com os maiores talentos do poker online.
Craig Tapscott: Você é um jogador de campeonatos de bridge. Que habilidades do bridge você utilizou com sucesso no poker, e com as quais você teve dificuldades?
Gavin “Boykee” Wolpert: Raciocínio dedutivo. A habilidade de saber, sem gastar energia, o que uma pessoa pode ou não pode ter com base nas ações na mão até seu momento de decidir. Muitas vezes, você pode eliminar possíveis mãos da gama de seu oponente com base em sua experiência contra ele e em sua lógica avançada de poker. Essa habilidade é necessária em quase toda mão de bridge.
Uma de minhas maiores fraquezas foi que, quando eu achei que sabia a mão de meu oponente, demorei muito tempo para descobrir que eu precisava descobrir como ele jogaria com ela, e não como eu jogaria. Durante muito tempo, eu tentei forçar as pessoas a largar mãos que eu largaria. As pessoas não jogam como você joga, e não é fácil se habituar a isso.
CT: Descreva as circunstâncias dessa mão para nós.
GW: Restavam cerca de 250 jogadores, já na zona do dinheiro nesse estágio. Meu estoque era bastante grande, e o Vilão à minha direita tinha bem mais fichas do que eu, com um enorme estoque. Ele também vinha aumentando muitos potes. Quando ele começou a mão abrindo um raise de posição inicial, chegou o momento de colocar pressão. E eu tinha recebido uma mão excelente para fazer uma jogada pré-flop.
Vilão nº 1 aumenta para 4.225 de posição inicial. Boykee reaumenta para 12.550 com 6♦4♦.
CT: Você obviamente não está reaumentando pelo valor com essa mão.
GW: Bem, eu só estava comprometendo 11% de meu estoque para tentar levar o pote ali mesmo. Existem várias razões para se reaumentar nessa situação com essa mão. A mais importante é que quem apostou primeiro poderia desistir sem ver o flop. Ele estava aumentando de forma muito loose e poderia não ter uma mão muito forte, e o fato de eu não estar reaumentando muito também ajuda. Além disso, cartas conexas baixas se dão bem contra uma mão que é forte o suficiente para ver um flop — pois elas provavelmente não estarão dominadas, e há chances de derrotar um par alto se o flop for muito bom. Finalmente, se alguém com um estoque relativamente pequeno decidisse ir all-in depois de mim, eu quase sempre teria de 35% a 40% de eqüidade contra a mão dele de qualquer forma, o que é mais do que suficiente, levando em conta que o Vilão nº 1 colocou algum dinheiro no pote e os antes dão uma grande contribuição.
Vilão nº 2 apenas paga 12.550 do assento seguinte à esquerda de Boykee. A mesa roda em fold até o Vilão nº 1, que dá o call de 8.325.
CT: E agora?
GW: Bem, primeiramente, eu tentarei atribuir uma gama de mãos ao Vilão nº 2. Na minha cabeça, o call simples geralmente indica um par alto ou médio, A-K ou A-Q. A gama de mãos do Vilão nº 1, contudo, é bem mais ampla, pois as pot odds dele são bem maiores.
Flop: A♣ 5♣ 3♥ (pote de 41.250)
GW: “Excelente!”, eu pensei. “Esse pote será fácil de roubar”.
CT: Sério? Duas pessoas pagaram, lembra?
GW: Com o ás no bordo e nenhuma outra carta alta, pouquíssimas mãos vão até o showdown. Além disso, eu tenho uma queda para as duas pontas para me apoiar.
Vilão nº 1 pede mesa. Boykee aposta 9.000.
CT: Por que uma aposta desse tamanho?
GW: Eu apostei apenas 22% do pote. Não havia razão para fazer uma aposta alta. Se eles temessem que eu estivesse forte, não seria preciso muito para convencê-los. Apesar de oferecer pot odds excelentes para qualquer call, eu achei que estava capitalizando em uma excelente oportunidade de fazer um semiblefe barato e eficiente. Além disso, se alguém decidisse pagar uma aposta tão pequena, eu continuaria com minha convicção de modo que seria improvável que eles comprometessem muitas fichas até um showdown.
CT: Explique um pouco mais, por favor.
GW: Eu acreditava que se o Vilão nº 2 não aumentasse minha pequena aposta, ele provavelmente não teria uma mão que quisesse proteger. Ele daria ao Vilão nº 1 uma carta muito barata no turn ao simplesmente pagar. Quando ele desistisse e o Vilão nº 1 pagasse, a situação seria similar. Eu não achava que o Vilão nº 1 tivesse A-K, tendo em vista seu pagamento pré-flop, então ele teria um ás fraco ou uma mão aleatória com poucos outs, com ambas as quais eu posso cobrar caro no turn com uma aposta sólida.
CT: Dimensionar a aposta é muito importante em no-limit hold’em. Você pode explicar as estratégias sobre quanto e quando apostar de acordo com situações diferentes? É uma resposta bastante circunstancial, certamente.
GW: Sim, não é uma pergunta fácil de se responder, e o que eu tento fazer é bastante simples, mas varia de situação para situação. Torneios online geralmente são jogados com 20-40 big blinds nos últimos estágios. Eu tento ameaçar todo o estoque de meus oponentes com o montante mínimo de fichas requerido. Eu gosto de fazer com que as opções deles sejam ir all-in ou largar. Eu sou um grande fã de pequenas apostas em torneios. E procuro constantemente oportunidades de apostar pouco: é a melhor maneira de obter pagamentos pelo valor e blefes-aumentos de mãos que você normalmente descartaria. Além disso, como seus oponentes vêem que você tem boas mãos e aposta pouco, pode fazer blefes bem mais baratos.
Vilão nº 2 desiste. Vilão nº 1 paga 9.000.
CT: Que gama de mãos você acha que o Vilão nº 1 possui para dar outro call assim?
GW: Bem, (a) um ás fraco: isso é improvável porque eu acho que ele é um bom jogador e teria desistido pré-flop; (b) um flush draw; (c) um pequeno par mais uma queda para gaveta; (d) um par baixo (cartas conexas). As duas últimas são improváveis porque eu tenho 6-4, o que diminui consideravelmente a probabilidade de meu oponente segurar 6-5, 5-4 ou 4-3, então eu tendo a achar que ele tem um flush draw.
Turn: 3♠ (pote de 59.250)
GW: Uma carta irrelevante. Perfeito.
Vilão nº 1 pede mesa.
CT: Esse check lhe faz refletir? Talvez uma armadilha com A-A?
GW: A verdade é que eu não dou a um jogador relativamente desconhecido o crédito de fazer uma armadilha tão criativa em um pote enorme. A maioria das pessoas entra em pânico com suas mãos boas em situações assim e colocam logo o dinheiro. Minha aposta do turn não precisa ganhar 100% das vezes para ser boa.
Boykee aposta 27.000.
GW: Eu apostei pouco menos da metade do pote. Tendo em vista a ação até agora, é quase impossível que o Vilão esteja disposto a ver o river, mesmo por um preço tão bom.
Vilão nº 1 desiste. Boykee ganha o pote de 59.250.
GW: Esse pote aumentou em mais de 50% meu estoque, e eu não precisei mostrar a ninguém minha mão fraca, com um mero 6 como carta mais alta.
CT: Em relação à ação até esse ponto, por que era improvável que o Vilão quisesse ver a carta do river?
GW: O flush draw, que provavelmente era a mão do Vilão, deixou de ser um draw capaz de formar o nuts. Eu poderia ter A-A. Seria condizente com minhas apostas, juntamente com o fato de o Vilão não ter me visto reaumentar até agora. ♠
Gavin Wolpert, 26 anos, foi por duas vezes Campeão Norte Americano de Bridge e também ganhou o Campeonato Canadense desse jogo. O mago do poker Steve “thorladen” Weinstein reconheceu os talentos de Wolpert e o convenceu a dar uma chance ao poker. Com um pouco de treino e muito trabalho duro, Wolpert se desenvolveu, tendo ganho mais de $500.000 em torneios. Ele recentemente faturou o freezeout de $5.000 do PokerStars, o que lhe rendeu $50.000.